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Conheça o neozelandês de 19 anos que está ficando rico com fraude de cartão de crédito na deep web

“Não me importo de viver com a paranoia.”
Imagem principal: Di Caprio, em O Lobo de Wall Street. Foto via YouTube.

Leonardo Di Caprio como Jordan Belfort em O Lobo de Wall Street – o sonho erótico de todo empreendedor. Foto via YouTube.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Austrália.

Todo mundo sabe que aqueles anúncios de pop up prometendo "ganhe R$6 mil por semana sem sair de casa!" são conversa fiada. São só outro esquema fajuto para ficar rico rápido — bom demais para ser verdade. Mas é exatamente isso que o neozelandês Aaron*, de 19 anos, está fazendo.

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Hoje ele ganha $5 mil NZD [cerca de R$ 11 mil] por semana, só que o esquema dele não é legal. Usando informações roubadas de cartões de crédito, Aaron compra cartões de presente e os vende na deep web por menos do que eles valem.

Com funcionários espalhados pelo mundo, Aaron vai levando a vida hedonista que a maioria dos adolescentes sonha — dando festas com bebida liberada e alugando quartos de hotéis cinco estrelas com os amigos. Ele até tem um Audi A5.

Você pode achar que o Aaron já está com a vida ganha, mas para ele nada disso é suficiente. Ele diz que não ter conseguido seu primeiro milhão aos 18 anos foi um "baque emocional". Mas Aaron espera aumentar sua renda para $50 mil por semana nos próximos dois anos. Seu plano? Cimentar seu status como a reencarnação millennial de Jordan Belfort, seu herói. Entrevistamos o cara para saber como diabos ele pretende fazer isso.

VICE: Primeiro, explique pra mim — uma pessoa com habilidades tecnológicas básicas e um conhecimento muito superficial da deep web — como você montou seu negócio.

Aaron: É muito simples. Você só precisa baixar o navegador Tor (um navegador normal como o Chrome ou o Firefox, mas que consegue acessar sites .onion) e começar a explorar. Todo mundo acha que você precisa ser um guru ou "bom de computador". Conseguir escrever códigos não é magia. Aprender como a internet funciona, aprender como os dados são enviados daqui para lá.

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Você não precisa ter habilidade para navegar pela deep web ou mesmo fazer uma compra, se tiver cuidado e bom senso. Mas ter um negócio de qualquer escala na deep web exige muito esforço e trabalho. As coisas que você acha lá, sinceramente. Eu estava na deep web fazendo compras e experimentando por quase um ano e com $2 mil descendo pelo ralo antes de ter qualquer tipo de lucro.

Como você conseguiu começar então?

Tive a ideia de vender cartões de presente quando comprei sapatos Calvin Klein pela Amazon com a primeira informação de cartão de crédito que comprei na deep web. Um cara veio me perguntar onde eu tinha comprado os sapatos. Então eu comprei os detalhes de cartão de crédito por $6,50 USD e vendi os sapatos por $100 NZD. Foi aí que percebi que podia fazer muito dinheiro com isso.

Você se inspira em Jordan Belfort, o que me fez pensar que você gosta de se exibir com seu dinheiro. Você tem um trabalho de disfarce? Seus pais ou amigos sabem de onde você tira esse dinheiro?

Sou dono de uma loja de e-commerce legal. É mais um disfarce porque faço duas ou cinco vendas por semana, mas ninguém sabe disso. Eu apenas digo que estou fazendo milhares de vendas por semana e que é daí que vem meu dinheiro. Tenho um amigo próximo que sabe [o que faço] porque ele começou esse negócio comigo, mas ele decidiu que não queria continuar e saiu. Agora sou só eu, mas troco ideias com ele de vez em quando.

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Se exibir com o dinheiro é complicado. O segredo é não exagerar. Quando eu começar a fazer perto de $50 mil por semana, aí vou começar a me exibir pra valer. Até lá, o que faço é alugar quartos em hotéis cinco estrelas na Gold Coast para o Natal com quatro amigos, comer fora todo dia e conseguir dar festas open bar. E meu Audi.

Você mencionou que tem funcionários agora. Quanto eles sabem? É difícil manter segredo num negócio onde esse é o fator mais importante?

É muito difícil guardar segredo, e às vezes isso é enervante. Você começa a ficar paranoico e a prestar atenção até nos menores detalhes. Tento não ter nenhum contato dentro da Nova Zelândia. Você é a primeira.

Mas meus funcionários sabem de tudo. Esses caras trabalham de fora do país. Nos comunicamos por software e e-mail criptografados. Posso dizer que minha capacidade de avaliar riscos decolou por causa desse empreendimento. Nunca vou beber e dirigir ou revelar qualquer tipo de identidade, porque o risco de ser associado a isso é alto demais, sabe?

Não acredito que sou seu único contato na Nova Zelândia. Você se sente frustrado por não poder contar a verdade para seus amigos? Você tem medo de ficar muito próximo de alguém, romanticamente ou de outra forma, e a pessoa descobrir?

Pode ser frustrante, para ser honesto, mas achei um jeito de lidar com isso. Se preciso falar sobre isso, eu uso expressões do meu negócio legal. Minha última namorada achava que eu conseguia coisas de graça de um revendedor online por causa de um bug. Quando ela viu meus iPhones ela surtou e me disse para devolver porque "não era certo". Não, eu não contaria para alguém romanticamente próximo de mim. Mas tenho medo que alguém próximo descubra e decida cortar laços comigo.

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Como é viver com esse tipo de paranoia?

Não me importo de viver com a paranoia. Isso não me afeta muito porque sou naturalmente calmo e concentrado. Não costumo perder a cabeça e na maioria das situações tenho sangue frio. Acho que essa é outra razão para meus negócios na internet estarem indo bem.

Você já passou algum aperto em termos de risco de segurança?

Honestamente ainda não tive nenhum problema em termos de segurança e duvido que a polícia e o serviço secreto sejam parecidos com o que a gente vê nos filmes. O maior sufoco que passei foi quando meu amigo que também trabalhava com isso ameaçou me entregar para a polícia se eu não parasse. Agora somos amigos de novo, mas na época, isso me causou muita dor de cabeça.

Caramba, como essa história se resolveu?

Ele foi até a delegacia e preencheu uma queixa, mas eu não sabia disso na época. Ele me disse mais tarde que tinha feito isso, mas não chegou a entregar o papel porque achou que poderia se encrencar também e porque isso não ia resolver nada. Voltamos a ser amigos depois disso. Ele é um dos amigos que vão para Gold Coast comigo no Natal.

OK, então como é uma semana normal para você?

Bom, estou fazendo faculdade e preciso tirar notas altas. Então minha semana consiste em estudar, ler e responder e-mails sobre minha loja de e-commerce e meu negócio na deep web, criar listas de vários itens em sites como o eBay, lidar com os clientes e criar novos relacionamentos com pessoas importantes. É importante conhecer as pessoas certas e ser considerado de confiança na deep web.

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Você não sente, sei lá, uma dissonância moral?

Bom, o processo de comprar informações de cartões de crédito, comprar itens de grandes revendedores e os vender pode parecer que estou "dando um golpe" em inocentes, mas é o oposto. Veja, os bancos são obrigados a proteger os donos de cartão de crédito em casos de roubo ou fraude. Quando o dono do cartão informa que o dinheiro sumiu de sua conta, o banco tem que contatar o revendedor para devolver o dinheiro ou pagar a pessoa por conta própria. Então em 99% dos casos é o grande revendedor ou o banco que perdem dinheiro.

Tem uma coisa meio Robin Hood nisso, né? Você se vê redistribuindo esse dinheiro?

É aí que está o dilema. Eu me considero uma pessoa muito autocentrada, egoísta até. Ao mesmo tempo, quero ajudar as pessoas com o máximo que puder. Uso o dinheiro para fazer o bem quando me sinto mal comigo mesmo. Dois dias atrás eu doei uma boa quantia para uma organização de caridade. Mais cedo naquele dia recebi um pagamento de $3 mil em bens fraudulentos. Mas me vejo ajudando amigos e familiares quando começar a ganhar mais.

Qual o pior cenário que poder surgir do seu negócio?

Sendo honesto, tenho medo de ser pego. Acho que esse é o maior medo de quem faz o que eu faço. Quando você perde esse medo o jogo acabou. Dois anos atrás, descobri que meu pai era um estelionatário de coração gelado. Ele enganou muita gente e quando a merda caiu no ventilador, ele cometeu suicídio. Só descobrimos as coisas ruins que ele fazia depois.

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Minha mãe é uma mulher honesta que trabalha muito, então sei que ela ficaria devastada se soubesse o que estou fazendo. Acho que posso dizer que meu maior medo é me tornar o meu pai. Eu prometi a mim mesmo nunca ir tão longe.

Meus pêsames. Você estabeleceu um limite para evitar ir muito fundo nisso? Um plano de fuga se as coisas ficarem muito pesadas?

Prometi nunca mexer diretamente com grandes instituições, como bancos — a menos que você esteja falando de milhões e eu tiver um plano sólido. Além disso, nunca vou mexer com amigos e familiares, porque se fizer isso, vou perder toda minha integridade moral. É ladeira abaixo depois disso. Não vejo uma saída no momento porque tudo está indo bem. Se a merda cair no ventilador, acho que vou conseguir pensar em algo rápido.

*O nome foi mudado a pedido do entrevistado.

Tradução: Marina Schnoor

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