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A saga de uma família síria nos aeroportos dos EUA neste fim de semana

Najah al-Shalmeih foi salva graças a seu green card, mas outros imigrantes não tiveram tanta sorte.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US.

Quando Najah al-Shalmeih conseguiu chegar até sua família no Dallas-Fort Worth International Airport na noite de sábado (28), o ponto final de sua longa viagem partindo de sua terra natal, a Síria, o número de manifestantes e simpatizantes pró-imigrantes nos EUA era de algumas dezenas — e as emoções do filho já eram grandes demais para ele aguentar. Hisham Yasin chorou enquanto abraçava a mãe e a multidão vibrou. Exultante, ele liderou o grito de "USA! USA! USA!"

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Yasin continuou gritando enquanto andava até a mãe — detida por nove horas apesar de ter o green card norte-americano — atravessando um grupo de repórteres que queriam saber sobre sua história.

A avó abriu sua mala e deu doces aos netos.

Yasin, sua esposa e os filhos eram uma das pelo menos nove famílias esperando por parentes que pegaram o voo EK221 da Emirates de Dubai. Eles eram parte de um número ainda não calculado de pessoas por todo os EUA esperando o sábado para descobrir o novo destino de amigos e familiares, detidos depois de uma ordem executiva assinada por Donald Trump na noite de sexta (27), proibindo a entrada de viajantes de sete países de maioria muçulmana e suspendendo temporariamente a admissão de todos os refugiados no país.

No final de semana surgiram dúvidas de sobre como a ordem deveria ser interpretada — inicialmente, a Casa Branca indicou que ela também se aplicaria a residentes permanentes dos EUA (ou seja, portadores do green card, como al-Shalmeih) voltando de seus países, mas o chefe da Casa Branca Reince Priebus pareceu contradizer isso.

Diferentemente da maioria das famílias esperando naquele terminal do aeroporto de Dalas, Yasin pôde passar pela segurança com a mãe segura ao seu lado.

Samar Mustafa, porém, não teve tanta sorte.

"Não entendo como o presidente pode decidir algo assim e isso entrar imediatamente em vigor", Mustafa disse à VICE.

A mãe de Mustafa, Shadia Osaman, podia ser vista sentada no chão toda vez em que as portas abriam para deixar as pessoas passarem para o lado norte-americano do terminal internacional. "Vá lá e busque sua mãe!", a família de Mustafa gritou durante a noite. Osaman é do Sudão, como a Síria, um dos países incluídos na ordem executiva, e estava viajando para Dalas para ver a filha e a neta. Até a meia-noite, não havia notícias sobre ela.

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"Se ele sabia que isso ia acontecer, por que não disse antes?", Mustafa perguntava a Trump. "É assim que ele vai ser como presidente?"

Apesar da decisão de um juiz federal suspendendo a ordem executiva de Trump na noite de sábado, a mãe de Mustafa continuou detida até a madrugada do domingo (29), como vários outros viajantes do voo de Dubai.

"Nenhuma notícia" sobre eles, disse Alia Salem, do Conselho sobre Relações Islâmico-Norte-Americanas, ou CAIR, por texto a VICE na madrugada de domingo.

As famílias de nove passageiros detidos esperaram horas para saber o destino deles. Em certo ponto, o filho mais velho de Yasin, de cinco anos, começou a oferecer doces para o grupo crescente de familiares, advogados, jornalistas e ativistas. Seu irmão mais novo dormia nos braços de Yasin, enquanto outro irmão chorava por um balão que tinha escapado. Salem dava as últimas notícias para simpatizantes da causa dos imigrantes e a mídia. Homens e mulheres apareceram e começaram a fazer cartazes. Câmeras chegaram. Mas Yasin e a família ainda estavam preocupados.

Quando a mãe finalmente chegou, Yasin estava fora de si. Ela emergiu das portas de vidro duplo com um hijab branco, correndo e sorrindo para a filha, Mariam, usando um hijab de seda branco parecido. Elas se abraçaram e choraram. Por um momento no Terminal D, naquela noite estranha de medo e incerteza, houve alegria.

Mas a alegria durou pouco.

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Mustafa abordou Najah al-Shalmeih depois que ela abraçou a filha exultante. A mulher de 47 anos queria saber sobre a mãe, detida do outro lado do saguão por ser do Sudão. "Você a viu? Como ela está?", perguntou Mustafa.

A mãe de Mustafa estava bem — apesar de não poder mandar mensagens para a filha por estar sem bateria no celular — e ela e vários outros estavam esperando para saber seu destino.

Todo mundo lá estava cansado, relatou al-Shalmeih. Eles estavam esperando há muito tempo sentados, alguns deitados no chão, tentando dormir.

Al-Shalmeih se voltou para o grupo de jornalistas no aeroporto, deu várias entrevistas e eventualmente saiu pela porta com a família. Mustafa continuou esperado. Sua filha tinha trazido flores para a avó, que vinha do Sudão pela primeira vez em vários anos.

"Ela comprou flores", Mustafa disse sobre a filha. "Estamos aqui há tanto tempo que elas murcharam."

Tradução: Marina Schnoor 

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