Dramáticas fotos da Campanha dos Pobres de 1968 nos EUA

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Dramáticas fotos da Campanha dos Pobres de 1968 nos EUA

A documentação do movimento organizado por Martin Luther King Jr., em Washigton, em imagens da fotógrafa Jill Freedman.

Matéria publicada originalmente na VICE US.

Atualmente em exibição na Steven Kasher Gallery, em Nova York, a documentação de Jill Freedman da Campanha dos Pobres é revisitada com uma exposição e o relançamento de seu primeiro livro. Originalmente publicado com um nome um pouco diferente 47 anos atrás, Resurrection City, 1968 documenta um movimento que foi organizado pelo Dr. Martin Luther King Jr. semanas antes de seu assassinato. Hoje esse corpo de trabalho serve como um registro visual da vida no acampamento do protesto, construído no Nationall Mall em Washington, DC, para exigir reformas capazes de combater a pobreza nos EUA.

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Em 18 de março de 1968, falando para trabalhadores do setor de saneamento em Memphis, King perguntou: "Do que vale um homem poder comer num balcão de restaurante integrado se não tem dinheiro para comprar um hambúrguer?" Ele e outros organizadores levaram um grupo de cerca de 3 mil pessoas até o National Mall para colocar suas preocupações com desigualdade, falta de oportunidade e salários insuficientes nos degraus da Casa Branca. Freedman, que na época trabalhava como redatora para a firma de publicidade Doyle Dane Bernback, testemunhou um homem usando um chapéu de palha e um macacão jeans dando um discurso para o povo reunido. Ele era o ativista dos direitos civis e músico Jimmy Collier. Freedman lembra: "Ele estava no Central Park um dia com uma mula falando sobre a Campanha dos Pobres. 'Você vai se juntar a nós, ir com a gente para Washington?' Eu disse 'Com certeza!'" Ela se demitiu do emprego com as palavras: "Diga para eles que sou fotógrafa".

Sendo uma novata que aprendeu a fotografar sozinha, Freedman simplesmente se juntou aos manifestantes de um dos ônibus saindo de Nova York e começou a fotografar. Agora, ela relata que apesar de nunca ter estudado fotografia, foi profundamente impactada por fotos do Holocausto que viu quando criança. Como uma jovem mulher, ela sentiu um propósito quando pegou uma câmera pela primeira vez. Esperando tirar fotos que transmitissem a injustiça que ela sentia quando via os policiais baterem em manifestantes contra a Guerra do Vietnã, ela foi para DC com a intenção de fazer imagens que articulassem os objetivos de reforma da campanha e capturassem a história dessa parte do movimento pelos direitos civis. Chegando lá, um acampamento montado no National Mall formou o centro do protesto. O lugar foi batizado de Resurrection City, e pelas seis semanas seguintes, Freedman morou lá e fotografou o acampamento.

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O que distingue sua documentação é que, diferentemente de muitos fotógrafos pagos por jornais para cobrir o evento, os manifestantes a incorporaram durante a existência do acampamento. Freedman lembra de encontrar o escritor John Neary e um fotógrafo da LIFE na fila da barraca de almoço: "Ele disse 'Há quanto tempo você está aqui?' E eu disse 'Bom, eu vim com eles, e fotografei o caminho'. Eu tinha folhas de contato [das minhas fotografias]… Ele olhou as fotos e disse 'Ah, posso levar seu filme? No mínimo eles podem revelar para você.' Ele teve que me convencer – eu disse 'Não, não, eles podem riscar meus negativos'. Revista LIFE!" Mas depois que Neary convenceu Freedman a deixar ele levar as imagens de volta para Nova York, a LIFE incluiu seis fotos dela em "A New Resolve: Never to Be Invisible Again", o artigo de Neary sobre as origens e os eventos da Campanha dos Pobres. Ser publicada no que era basicamente a capa da mídia norte-americana a incentivou a continuar fotografando. Anos depois, com seis semanas de fotos dos eventos da Campanha, e com apoio do editor Richard Grossman, além de seu ídolo W. Eugene Smith, Freedman lançou seu primeiro livro de fotos, Old News: Resurrection City.

Resurrection City, 1968, o livro lançado recentemente, apresenta dois ensaios introdutórios de escritores que estudaram como a fotografia se relaciona com a história de movimentos de protesto. O primeiro é de John Edwin Mason, um professor-associado do Departamento de História da Universidade da Virgínia. O segundo é de Aaron Bryant, curador de Fotografia, Cultura Visual e História Política Contemporânea do Museu Nacional de História e Cultura Afro-americana.

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Apesar da Campanha dos Pobres ter acabado de maneira violenta, ela rendeu pequenos ganhos políticos na luta contra a pobreza e para a visibilidade dos pobres norte-americanos. A polícia acabou invadindo o acampamento, jogando gás lacrimogêneo dos manifestantes enquanto eles cantavam canções de liberdade logo depois do assassinato de Robert F. Kennedy. Em notícias mais recentes, o líder político Reverendo William Barber II anunciou que vai liderar uma nova Campanha dos Pobres que deve acontecer em 2018. Independentemente do resultado dessa manifestação, a campanha original vive nas imagens evocativas de Freedman: a camaradagem e idealismo do ativismo, as maneiras como as pessoas trabalhavam juntas, a arte explícita das declarações políticas, e as interações com os policiais que acabariam fechando a manifestação. Tudo isso, e mais, foi capturado pela câmera de Freedman, e suas fotos continuam a servir como um registro desse evento histórico. Tanto no livro quanto na exposição, Freedman conseguiu o que desejava quando entrou naquele ônibus rumo ao Capitólio.

Jill Freedman: Resurrection City está em exposição na Steven Kasher Gallery em Nova York até 22/12/17. Trabalhos de Freedman estão incluídos nas coleções permanentes do Museu de Arte Moderna, d o Centro Internacional de Fotografia e d o George Eastman Museum, entre outros. Com interesse fotográfico em ciências sociais e humanismo encontrado nas ruas, ela posta regularmente em seu Instagram @jillfreedmanphoto e é representada pela Steven Kasher Gallery de Nova York. No futuro, Freedman pretende publicar mais livros além dos sete que já tem, incluindo Firehouse e Street Cops , que aparecem no documentário de 2013 de Cheryl Dunn sobre fotógrafos de rua, Everybody Street .

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