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Curitiba e a Noite Mais Quente do Ano

Um protesto pacífico até a invasão do Palácio Iguaçu.

Os 9º não fizeram a menor diferença para as 10 (15? 20?) mil pessoas que percorreram todo o centro da capital paranaense no dia 17 de junho de 2013.  Um protesto pacífico, bonitão, quente e solidário, em geral. Só os momentos finais da noite foram diferentes, com a invasão do Palácio Iguaçu — seguindo inconscientemente o mesmo fluxo tomado no Rio e SP — controlada pela atuação da tropa de choque.

A concentração na Praça Santos Andrade foi quase um carnaval de rua — nos moldes curitibanos. Com a escadaria da UFPR tomada por um pessoal de classe média que apreciava a vista como se estivesse no calçadão da praia, com as banquinhas de quentão vivendo uma de suas melhores noites. Como era esperado, todos estavam ali para defender uma causa específica. A sua. Por mais que a organização (Frente de Luta pelo Transporte de Curitiba e com o apoio da Organização das Farofadas, Marcha da Maconha e Marcha das Vadias) tenha tocado a manifestação "em solidariedade aos irmãos paulistanos e cariocas", tivesse suas causas próprias e dialogasse bem com os poucos partidos políticos presentes, a maioria queria acabar com a Copa. Detonar a Dilma. Legalizar a maconha. Cagar na cabeça de quem luta contra o aborto. Enrabar o Feliciano. Queimar a PEC 37. Lutar pelo direito de usar a rua e reclamar. Se apropriar do espaço público urbano, gritar, protestar.

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Lá pelas 18h, a Boca Maldita (tradicional ponto de protestos e vespertinas reclamações idosas sobre política) estava lotada e com todas as palavras de ordem na ponta da língua. A organização da manifestação ainda não sabia informar como tinha sido a reunião que aconteceu com a prefeitura horas antes, mas já tinha ideia de qual seria o trajeto escolhido; sair de lá, passar pela Praça Rui Barbosa (estação central da cidade), chegar até o Terminal Guadalupe e partir para a Santos Andrade.  Mobilizar as principais estações de ônibus. O que aconteceu nesse meio tempo foi um desfile de poses e trejeitos para fazer a alegria dos fotógrafos, cinegrafistas e perfis de Instagram e Facebook. Não basta estar aqui e protestar, tem que rolar um check-in para perpetuar as ideias e mobilizações.

Tudo corria dentro do esperado até uma estranha divisão que aconteceu na Avenida Mariano Torres. A organização da passeata aparentemente perdeu o controle da situação. O racha ficou claro nas pistas separadas pelo canteiro e no arranca-rabo entre duas organizadoras. O passo acelerou, ficou cada vez mais difícil encontrar o início do protesto. A calma e tranquilidade pareciam estar sendo abaladas. Mas, tudo correu bem e as pessoas caíram na festa na Santos Andrade. Fim.

Não.

Sem o controle dos organizadores, a turma continuou em direção ao Centro Cívico. Era espontâneo e não era uma das melhores ideias porque corria o risco de bater de frente com a PM, mesmo que até então nenhum soldado tenha sido visto pelo trajeto. Só os simpáticos e solidários oficiais que cuidavam do trânsito. “Nosso comando está sendo dado de forma pontual. Não sabemos qual é toda a estratégia para conter o povo na rua, meu superior avisa pelo rádio e eu vou”, dizia um policial que cuidava de um dos bloqueios no centro. “Mas é isso aí, tudo está calmo e o pessoal tem que protestar mesmo”, concluiu. Ele compactuava com a gente.

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Vamos em frente.

A chegada na Avenida Cândido de Abreu e o caminho percorrido até o Palácio Iguaçu foi estranho. Multidão mais espaçada, gritos de ordem que se perdiam pela neblina e a ânsia em chegar logo ao final e completar todo o trajeto. A alegria e festa não estavam mais no ar. Lá aconteceu o que não merece atenção: uma molecada que finalmente sentiu o cheiro de gás lacrimogêneo, levou uns sustos com as bombas de efeito moral e acalmou os ânimos aos 47 minutos do segundo tempo. Dava para contar nos dedos os manés que procuravam treta.

Mas também, por exemplo, quando picharam a entrada da sede do governo, alguns manifestantes pararam e limparam a sujeira…

No meio de toda essa fumaça, um tiozão morador de rua passou tranquilamente e pediu um cigarro. “Eu tava dormindo ali na frente e não consegui ficar lá por causa do gás. Tive que sair porque não me deixaram dormir”.  E desapareceu pela noite junto com o sono de muita gente.

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