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A Arte É Tão Poderosa Quanto o Protesto

A atriz pornô Stoya fala sobre arte, política, economia, perucas e protestos.
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Por Stoya

Foto por Steve Prue

Tenho que confessar uma coisa. Vou entender perfeitamente se você me respeitar menos, gostar menos de mim ou simplesmente rir da minha cara depois que eu escrever o que tenho pra dizer, mas isso precisa ser dito: eu não sabia o que era a coisa vermelha na minha peruca na inauguração da exposição Shell Game da Molly Crabapple. Eu não sabia que se justifica o uso de letras maiúsculas nos textos a respeito disso. Eu não sabia que isso era uma miniatura da escultura Joie de Vivre que servia como ponto de encontro pras pessoas que protestavam contra a injustiça e por igualdade no Zuccotti Park. E também tive que pesquisar na internet como se escrevia Zuccotti Park.

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Na noite de 12 de abril, fui banhada, teatralmente, numa banheira cheia de dinheiro da Molly com uma enorme peruca na cabeça e algumas pedrinhas de strass estrategicamente coladas no corpo. Esse espetáculo começou com uma tableau vivant (pintura viva) e, no curso das horas, se metamorfoseou num lugar muito confortável pra socializar com bons amigos e novos conhecidos. Enquanto conversava com Fred Harper, ele disse algo sobre como era provável que a banheira simbolizasse o fato de que o dinheiro não é inerentemente sujo. Achei esse comentário interessante e fiquei com ele na cabeça por um tempo.

A Digital Playground, companhia de pornografia pra qual trabalho, é de propriedade do que praticamente podemos chamar de o Sistema há um ano e meio. Os cheques que saem dessa máquina capitalista me permitem pagar pelos meus materiais de fantasia e ter tempo pra me envolver em projetos que julgo servirem a um bem maior, mesmo que de maneira mínima. Me apresentar no The Box é similar a isso, às vezes, com a diferença de que eles me fizeram assinar um acordo de confidencialidade. (Observação: assinar um acordo de confidencialidade te impede de dizer publicamente que você assinou isso? Espero que não.)

Durante meu intervalo da banheira, coloquei um casaco e saí pra fumar um cigarro com a Amanda Hess. Outra mulher me perguntou o que era a coisa vermelha na minha peruca. Eu disse que não fazia a menor ideia, esperando que meu tom irreverente fizesse as pessoas pensarem que eu estava encarnando a personagem de uma Maria Antonieta moderna, e as distraísse da realidade de que eu me sentia ignorante e estava envergonhada por isso. Aí joguei minha bituca fora, coloquei meus sapatos e fui procurar alguém que pudesse me ajudar com essa dúvida. Molly, sua assistente Melissa e Laurie Penny estavam todas absortas em outros diálogos. Achei um homem sozinho num canto e ele me explicou, pacientemente, que a coisa vermelha era uma estátua que fica no parque onde o Occupy Wall Street começou. Quando perguntei como ele conhecia a Molly, ele disse que, na verdade, conhecia a Laurie das coberturas do OWS. Ele sorriu quando o agradeci e respondeu de um jeito que indicava estar feliz por me ensinar um pouco sobre algo que ele achava importante.

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Enfrento com prazer artigos e livros sobre sexualidade e gênero com um dicionário nas mãos, parando pra procurar coisas como “cisgênero” e “gênero binário normativo” on-line porque tudo isso se relaciona com um assunto com o qual me importo e me sinto impulsionada a entender. No entanto, não tenho o mesmo impulso quando se trata de política e economia. Tendo a me desligar quando confrontada com siglas como FMI e frases como crise do subprime porque não entendo nada sobre esse mundo. Não tenho um diploma universitário porque não consegui pagar por isso do meu bolso e o crédito estudantil me parecia uma aposta contra chances muito ruins. Tenho um cartão de crédito, mas me recuso a usá-lo, não porque fiz uma escolha inteligente ao optar por não utilizar esse sistema, mas sim porque anuidades me confundem e me assustam. A beleza da obra de arte de Molly Crabapple é que fiquei curiosa pra saber mais sobre os símbolos dentro dela. Sua habilidade em dizer com imagens de interesse estético que algo grande, intrincado e importante está acontecendo é o que me fez querer saber mais. E basta ficar curiosa pra que pessoas altamente educadas, que entendem de política e finanças, estivessem dispostas a quebrar os conceitos em palavras pra que eu pudesse digeri-las mais facilmente e me ajudassem a começar a aprender mais sobre as questões que eu não teria começado a explorar por mim mesma.

Foram necessárias pinturas enormes e muito lindas com arabescos e folhas de ouro pra me interessar pela crise financeira global, logo, essas imagens bonitas foram um passo importante num caminho de conscientização. Se um artigo de moda sobre a carreira de Casey Legler como modelo masculino inspirou as pessoas a reexaminarem suas visões de gênero, então vejo isso como algo visualmente atraente e bom. Temos experiências muito diferentes e discordo de muitas das opiniões de Aurora Snow, mas fico feliz que ela esteja escrevendo coisas que fazem as pessoas pensarem e que use sua popularidade como estrela da indústria do entretenimento adulto pra colocar seus artigos à vista de mais pessoas.

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Fazer as pessoas se importarem e buscarem aprender sobre coisas que elas não acham que podem impactar diretamente suas vidas pode ser difícil. Acredito que embalar pontos e ideias em pacotes bonitos e interessantes é tão válido como tática quanto protestar em lugares públicos com um mar de pessoas. Também é tão válido quanto os debates altamente intelectualizados sobre detalhes complexos de uma questão usando vocabulário especializado cheio de palavras obscuras. No grande esquema das coisas, parece que a maioria de nós está do mesmo lado. Se estamos tentando espalhar o conhecimento e a tolerância pra mais pessoas, talvez devêssemos discutir menos sobre as diferenças dos nossos métodos e pensar mais sobre quão efetivo isso é quando atende tantas pessoas em seu próprio nível e de várias maneiras.

Afinal de contas, a diversidade é uma coisa boa, né?

@Stoya

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