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Este Cara Quer que Você Boicote "Mad Max: Estrada da Fúria" Porque ele não Curte Feminismo

A tomada feminista do filme levou o escritor Aaron Clarey a chorar as pitangas na internet dizendo que nunca mais vamos "poder ver um filme de ação de verdade que não tenha uma maldita aula política sobre feminismo, justiça social e socialismo...

Trailer oficial de Mad Max: Estrada da Fúria (2015).

No final de semana, milhões de pessoas vão lotar os cinemas para ver Mad Max: Estrada da Fúria . O filme é uma raridade na paisagem dos reboots de Hollywood, já que foi dirigido, produzido e coescrito pelo diretor da trilogia original de Mad Max, George Miller, garantindo manter o espírito de sua fonte. E os críticos parecem ter gostado também. Com uma classificação de 99% no agregador de críticas Rotten Tomatoes, o título caminha para se tornar um dos filmes de ação de alto orçamento mais aclamados desde Batman: O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan.

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Mas uma coisa em Estrada da Fúria está emputecendo alguns homens na internet: a película apresenta uma personagem fodona chamada Imperator Furiosa, interpretada por Charlize Theron. Como o próprio crítico da VICE David Perry disse, para desgosto dos defensores dos direitos dos homens, " Estrada da Fúria é um filme explicitamente feminista, com Furiosa e Max juntando forças para derrubar um patriarcado literal".

A tomada feminista do filme levou o escritor Aaron Clarey a chorar as pitangas numa postagem de Return of Kings, um site que se descreve como um " blog para homens heterossexuais masculinos". Na postagem, Clarey lamenta o fato de que o verdadeiro foco do novo título não é Max, mas Furiosa, que, para desespero dele, "grita ordens para Mad Max" no trailer. Porque, aos olhos de Clarey, "ninguém grita ordens para Mad Max".

Continuando, ele escreve: "Homens nos EUA e no mundo vão ser enganados por explosões, tornados de fogo e perseguições no deserto para ver o que, com certeza, é nada mais que propaganda feminista e, ao mesmo tempo, serão insultados e enganados para assistir a um pedaço da cultura americana ser arruinada e reescrita bem na frente de seus olhos".

Assim, Clarey pede que os homens não vejam Estrada da Fúria, porque, se o filme for o sucesso que caminha para ser, segundo ele, "eu, você e todos os homens (e mulheres de verdade) do mundo nunca mais vão poder ver um filme de ação de verdade que não tenha uma maldita aula política sobre feminismo, justiça social e socialismo".

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Abordei Clarey – que também tem um blog chamado Captain Capitalism – por e-mail com perguntas sobre o boicote, o braço mecânico de Charlize Theron e se explosões são coisa só de homem. Sua resposta inicial foi "Você quer se livrar das perguntas cretinas/falsas para podermos falar seriamente?". OK, perguntar se braços-robôs são coisa de homem é mesmo trolar um pouquinho. Logo, questionei o que ele achava da resposta ao seu texto, que apareceu em lugares como Huffington Post, A.V. Club e Wired.

Ele respondeu: "Eu não acho que um blogger obscuro deveria gerar tal reação, ainda mais no Huff Po, Telegraf, etc. No entanto, o conteúdo da reação foi completamente esperado e previsível; portanto, não me surpreendeu. Toda vez que alguém ousa ser politicamente incorreto e falar a verdade indiferente, você pode esperar uma reação quase roteirizada. Nesse caso, são acusações de ser sexista e misógino, que tenho 'problemas com a minha mãe', que odeio mulheres, etc. Já estive nesse caminho muitas vezes, e isso não é surpresa".

Enquanto isso, no Twitter, Clarey expressou espanto por seu texto ter "viralizado em círculos de esquerda e [entre] feministas", postando, em seguida, uma resposta em seu canal do YouTube. "Para a mídia esquerdista", ele diz enquanto mostra o dedo do meio para a câmera, "vá se foder".

Mesmo que a ideia de um blogger pedindo o boicote de um filme de ação por isso ser "feminista demais" seja inerentemente ridícula, há precedentes em um bando de babacas petulantes se juntando para causar caos com suas carteiras. Durante os dias dourados do GamerGate, os gamergaters tiveram sucesso com uma petição pedido que anunciantes tirassem seus anúncios do site Gamasutra, que publicou um artigo criticando o termo "gamer", e conseguiram que Mercedes-Benz e Adobe tirassem anúncios do Gawker por alguns tuítes engraçadinhos. A ideia básica era: se vários homens reclamassem com os anunciantes, eles iriam temer que grande parte de seus consumidores pudesse parar de apoiá-los. Que esse grupo de consumidores estivesse putinho com escritores que tiveram a audácia de criticá-los por assediar mulheres na internet, era irrelevante. A tática funcionou.

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Há algumas falhas óbvias no argumento da postagem inicial de Clarey. Por exemplo, Mad Max não é parte da cultura americana. Miller é australiano e os filmes originais da saga Mad Max foram filmados na Austrália. Estrada da Fúria foi rodado na Namíbia; por sua vez, seus astros Charlize Theron e Tom Hardy são sul-africana e britânico, respectivamente. Além disso, Mad Max é criação de George Miller. Se ele diz que uma mulher vai gritar ordens para Mad Max, então uma mulher vai gritar ordens para Mad Max. A resposta de Clarey foi: "George Miller tem todo o direito de fazer o que quiser com sua arte. Assim como os Wachowskis tiveram todo direito de fazer o que quisessem com a franquia Matrix. E assim como George Lucas teve todo o direito de fazer o que quisesse com os Episódios I, II e III de Guerra nas Estrelas".

Além disso, Clarey e aqueles que concordam com ele parecem ignorar um ponto muito maior: o de que filmes de ação, como um todo, são incrivelmente homoeróticos. Pense na cena de Velozes 5 em que Rock e Vin Diesel estão lutando: a visão de seus músculos parece se fundir numa espécie de ritual de acasalamento primitivo. Ou reflita sobre a t ensão romântica entre Sam e Frodo em Senhor dos Anéis. Ou Arnold Schwarzenegger mostrando seu bumbum em Exterminador do Futuro . Ou como, em Duro de Matar, Bruce Willis vai ficando progressivamente mais oleoso e pelado no decorrer do filme. Ou 300, como um todo. A lista continua, espiralando numa infinidade de armas fálicas e subtexto. Homens héteros reclamarem de um filme de ação que mostra mulheres quebrando tudo é como homens héteros reclamarem de mulheres aparecendo em pornografia gay. Quando abordei esse tropo com Clarey, ele simplesmente respondeu "É, não estudei muito a série SDA".

Quanto ao seu desgosto específico por Mad Max: Estrada da Fúria, e não por obras como Exterminador do Futuro, Tank Girl e Alien, filmes de ação com protagonistas fortes, Clarey frisou: "Eles contrataram uma consultora feminista para Estrada da Fúria. A atriz principal (Charlize Theron) disse que o filme é feminista. Mesmo a VICE.com tem uma matéria dizendo que esse é um filme feminista. Isso infelizmente diferencia Mad Max dos filmes de ação com mulheres [anteriores], já que é praticamente garantido que isso vai conter um sermão ou aula [no] estilo ' It's On Us' [uma campanha norte-americana contra o assédio sexual]".

No final das contas, o medo de que filmes de ação possam se tornar muito feministas vem do mesmo lugar que as ansiedades dos gamergaters: a ideia de que espaços classicamente reservados para homens não sejam mais estritamente deles. Esses homens são covardes. Não preste atenção neles e vá ver Mad Max: Estrada da Fúria neste final de semana. Garanto que seu dinheiro vai ter um papel importante em derrubar a hegemonia masculina em Hollywood.

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Tradução: Marina Schnoor