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"Sugar Dating", o lado doce das relações sem amor

É português, tem pouco mais de 50 anos e é um Sugar Daddy. Sabe que, em Portugal, o tema é tabu, mas está-se nas tintas. Com uma vida profissional, encontra nas Sugar Babes uma outra forma de "amor"... sem compromissos.
cartaz sugar daddy
Fotografia via Flickr, utilizador Jaysin Trevino

Dizem as mentes menos modernas que os homens devem ser mais velhos que as mulheres que amam. Se não mais velhos, pelo menos com a mesma idade. É curioso como, sempre que vejo um casal em que a figura feminina tem um par de anos a mais que o seu respetivo, imagino imediatamente que se trate de uma experiente e insaciável exploradora de lençóis alheios, uma fera indomável na cama.

No fundo, de forma inconsciente, projecto nesta mulher uma espécie de militante contra a submissão da fêmea pelo macho, uma activista contra tudo o que é socialmente aceite nas relações amorosas. Um pouco estúpido, reconheço.

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Quando acontece o oposto, ou seja, no momento em que vejo um casal do qual faz parte um homem 20 ou 30 anos mais velho que a sua amante, nada despoleta em mim grandes questões, a não ser que, fisicamente, se note uma diferença abismal no encontro de interesses atractivos entre os dois. Se ele for careca, barrigudo, com pêlos nas costas, sem uma ponta do charme muitas vezes digno da idade e ela uma jovem atraente e apetecível para o mundo em geral, cheira-me a embuste do baú.


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Mas, como o "amor tem razões que a própria razão desconhece", permanece a dúvida. Porque, de facto, não me é estranho que os homens se interessem por mulheres realmente mais novas e vice-versa. Além disso, há a velha máxima de que a mulher, para lá do afecto, procura no seu parceiro segurança, estabilidade, alguém que cuide de si a todos os níveis. Apesar de antiquada, é uma ideia que parece não ofender muita gente.

Talvez seja por isso que, ultimamente, surjam plataformas a céu aberto como o SugarDaters.pt. Site de registo de perfis que, pelo nome, rapidamente entendemos do se que trata. Ainda assim, fui perguntar ao sábio Google qual o significado formal da peça central deste universo: o Sugar Daddy. "Sugar Daddy: Homem velho, rico que procura acompanhantes para sexo e em troca lhes dá dinheiro e luxos".

No Brasil são os "coroas" e em Portugal são simplesmente tratados por "velhos". "A não sei quantas anda com um velho…", já ouvi por aí. Normalmente, quando os amantes são resumidos à sua longevidade, é porque não possuem grandes atributos físicos e "bancam" alguém que ainda não sentiu na pele a primeira ruga. Apesar desta minha constatação ser senso comum do mais comum que há, o que é certo é que ninguém se refere ao Pierce Brosnan desta maneira.

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Apesar de ser um site de engate como tantos outros, o core business do SugarDaters.pt vive de homens de meia idade, que procuram conhecer jovens, as suas potenciais Sugar Babes que, por sua vez, sonham com um Sugar Daddy capaz de lhes proporcionar momentos que, de outra forma, não conseguiriam comprar. Basicamente é uma relação win-win, como ensina o Marketing.

Com uma abordagem deveras poética, o conceito de "Sugar Dating" é apresentado no site através de um discurso claro e bastante honesto. "Numa relação entre um Sugar Daddy e uma Sugar Babe, os papéis são geralmente pré-definidos e antiquados. É o homem que oferece, toma conta e mima a vida de uma mulher. A mulher foca-se, então, em ser uma mulher e mimar o seu parceiro. Um Sugar Daddy é uma pessoa madura, com experiência, que controla a sua vida e a sua economia e quer partilhar o que tem, com uma rapariga mais jovem, atraente e bela.

Uma Sugar Babe não é uma pessoa que só quer dinheiro, mas sim uma mulher bela, que gosta da companhia de um homem maduro e com experiência, que, em retorno, toma conta dela, para que nada lhe falte a nível material". É possivel, claro inverter os papéis, a mulher ser a Sugar Mama e o homem ser um Sugar Boy, ou, claro, a coisa dar-se também entre pessoas do mesmo sexo.



A jovem mulher só tem que ser bela e reparem quantas vezes é mencionado o adjectivo, além de mimar o seu Sugar Daddy e deixar que este "controle a sua vida e a sua economia". Traduzindo isto por miúdos, e se queremos falar em conceitos económicos, "não há almoços grátis" – já dizia Samuelson, prémio Nóbel da Economia em 1970. Por outro lado, há, de facto, uma especial atenção para contrariar o pensamento de que este lugar é digno de acompanhantes de luxo.

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Atente-se: "SugarDaters e Sugar Dating NÃO é sobre sexo por dinheiro e não é permitido usar o SugarDaters para promover acompanhantes de luxo, ou serviços semelhantes. No SugarDaters proporcionamos aos nossos membros um universo de encontros seguro, onde podem conhecer pessoas com a mesma mentalidade". sente-se, nesta introdução, uma tentativa de apelar a uma mentalidade livre de preconceitos, que aceite esta forma de relacionamento como quem aceita o destino. O que é de louvar, sejamos francos.

Como Sugar Daddy e português de gema, João [nome fictício, a pedido do próprio] resolveu partilhar a sua história com a VICE, sem pudor, para elucidar os mais conservadores sobre as motivações de quem usufrui deste meio facilitador. João tem um cargo catita numa multinacional de sucesso, onde gere a presença do negócio em 14 países europeus. Ao longo de 20 anos de dedicação profissional, salienta que nem um terço da sua vida foi passada em Portugal.

O trabalho pediu-lhe solidão em troca de ascensão na carreira. Uma espécie de pacto com o Diabo, que o impediu de solidificar todos os namoros que teve na vida. Com 53 anos, nunca manteve um que durasse muito tempo, pois sempre lhe faltou disponibilidade para se envolver devidamente num compromisso sério. Acredita piamente que "entrar numa relação amorosa requer mais de um dia de presença por semana", o que, para si, não tem sido uma realidade.

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Num belo dia, que acabaria por mudar a sua vida, entre reuniões, alguém lhe falou do Sugardaters.pt e lhe explicou que se tratava de uma plataforma operacional em vários países europeus, factor que, desde logo, encarou como vantajoso, dada a sua rotina de malas e bagagens às costas.

Criar o seu perfil foi um passo pequeno para a Humanidade, mas um passo gigante para João que, actualmente, conta com o afecto de oito Sugar Babes, com idades entre os 22 e os 29 anos, residentes na Suécia, Noruega, Dinamarca, República Checa, Lituânia, Estónia e Alemanha. São casos relativamente sólidos, aos quais se refere como "relações abertas, onde não existe amor". Um preço bastante baixo a pagar, tendo em conta os benefícios que assegura ter.

Para estar com cada uma delas, basta organizar o seu calendário profissional. Não tem tempo, nem vontade, para estar sempre em primeiros encontros e, portanto, faz usocapião das "namoradas" que escolheu, com base nos atributos físicos, mas não só. Gosta de mulheres atraentes, que possuam semelhanças consigo, inteligentes, que saibam falar sobre as suas paixões e desejos.


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Convictamente refere que "uma Sugar Babe não é uma acompanhante de luxo". Sabe distingui-las, porque, conta, teve o infortúnio de conhecer várias profissionais do sexo ao longo dos tempos e crê que estas queridas "praticam um acto nojento", ao contrário das suas pseudo-amadas que revelam interesse por si e lhe dão tudo o que necessita: "Atenção e o aspecto social de uma relação tradicional".

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"Normalmente a relação funciona, mais ou menos, como uma relação normal. Ela tem que estar interessada em mim e eu tenho que estar interessado nela. Gosto de saber quais são os seus sonhos, também porque, normalmente, as Sugar Babes são raparigas universitárias que não serão Sugar Babes o resto da vida". Ainda sobre prostitutas de luxo, diz que "são autênticas 'gold diggers', que simplesmente querem dinheiro e ir para a cama comigo. Acho isso simplesmente nojento".

Nas suas estadias profissionais, onde aproveita para estar com as suas mais que tudo, gasta uma média de dois mil euros euros. Valor que inclui presentes, como malas e sapatos, noites em hotéis, ou dinheiro que elas necessitam. Quando está ausente, não mantém contacto, porque não gosta de ser incomodado. Parece-me justo. As malas que oferece duram um século, o mínimo de retribuição das meninas é não aborrecer o homem com trivialidades.


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Apesar de não querer uma relação puramente baseada em sexo, ou de sentir a obrigação de criar família, sabe que lhe assiste o direito de ser feliz. Como o trabalho há muito que o proíbe de uma relação dita conservadora, o "Sugar Dating" foi a solução para as palpitações que o seu coração anseia. Por enquanto desistiu do amor, pelo menos na forma que habitualmente o conhecemos: a dois e para sempre. Diz que talvez torne a pensar no assunto quando se reformar. "Sim, de momento não tenho quaisquer planos para uma relação futura com "amor" à mistura, talvez um dia, quando me reformar, se me reformar, talvez aí… ", confessa.

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Rezando para que o Estado não continue a aumentar a idade legal para a reforma, João continua em paz com as suas doces e jovens estrangeiras, mesmo tendo consciência que em Portugal ninguém aceita o seu curioso lifestyle. Motivo que o leva a não querer mimar alguém por terras lusas. E feliz da vida, pois sempre preferiu a beleza estonteante das loiras à das morenas e todos sabemos que, em Portugal, é mais fácil encontrar um panda que uma lady ariana, com cabelo naturalmente dourado.

João acrescenta: "Sei que em Portugal, esta visão é bastante distorcida e as pessoas olham com má cara para esta situação. Digo ainda que, para Portugal, isto é tabu do mais alto nível, no entanto as pessoas têm que começar a evoluir e compreender que relações tradicionais pura e simplesmente não são possíveis para algumas pessoas".

Se é verdade que, para ter uma vida romântica activa, João paga? Sim. Mas também sabe que existem muitos maridos que cuidam financeiramente das suas mulheres em troca de um compromisso monogâmico, ao contrário de si, que tem o privilégio de não levar com grandes chatices e de ter mais do que uma donzela para enriquecer a dieta.

Desvantagens? Tenta não se apaixonar por estas jovens, pois sabe que paixão não é o que elas procuram. Pelo menos consigo. Contudo, não vive enganado, nem está com predadoras que tentam ludibriá-lo só para ficar com o seu dinheiro. Está em paz com as suas escolhas e sabe exactamente em que situação se encontra.

Ainda bem!


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