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Como saber se seu relacionamento já era

Porque em algum momento, todo mundo acaba jantando com o parceiro em silêncio, rezando para a morte chegar logo.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

Esperamos, para o seu bem, que você tenha sido apresentado a um coração partido na adolescência. Porque é sempre melhor ter seu coraçãozinho espezinhado durante o período da vida em que é socialmente aceitável chorar enquanto você escreve no seu diário, porque a) isso te prepara para as decepções amorosas da vida adulta e b) é menos provável que você encha a cara e faça merda, depois passe uma semana ficando sóbrio, quando levar um pé na bunda em 10 anos.

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Mas tem uma diferença entre aquele tipo de decepção imediata e aquela cozinhando em fogo baixo que você experimenta a partir dos vinte e poucos e até o final da vida. Esse não é o tipo de vivência que você teve a inteligência emocional de experimentar no ensino médio; é um tipo particular de decepção adulta — que acontece quando a fogueira do seu romance virou cinzas; quando sua vida resvala na vida da outra pessoa até que vocês dois fiquem desgastado; até que sejam apenas móveis na vida um do outro, não mais uma fonte de alegria. Talvez você esteja lendo isso e pensando "Não, isso nunca aconteceu comigo, não se aplica", no caso em que você provavelmente é do tipo "Escolhi esperar" e acaba casando com a primeira pessoal que beijou, ou: isso ainda vai acontecer com você.

Leia também: "Como é ser millennial num relacionamento sem sexo"

Essa estrada da decepção é longa e solitária, cheia de eventos individualmente desagradáveis e outros quase emocionantes. Hoje vamos te levar por essa estrada. Se você reconhecer alguns desses sinais, talvez seja bom se preparar para a morte iminente do seu relacionamento. Mas, no fundo, você já sabia, né?

(Foto: Max Pixel)

AS BRIGAS SÃO FREQUENTES E INÚTEIS

Brigar é uma parte natural dos relacionamentos. Claro, há exceções: aqueles casais sorridentes que nunca piscam e que "nunca brigam", que quando você conhece — em casamentos ou chás da tarde no encontro de Natal da igreja da sua mãe, de mãos sempre entrelaçadas, os rostos curiosamente similares — te perturbam de um jeito que você não consegue definir, como se a ligação deles fosse por causa de algo muito bizarro; como se eles só pudessem se amar quando estivessem envenenando gatos.

Mas tem uma mudança quase imperceptível entre brigar por alguma coisa ("Você nunca se compromete! Você nunca tira o lixo se eu não peço! Você vive reclamando que a gente é pobre mas dinheiro pra encher a cara você sempre tem!") e brigar por nada ("POR QUE VOCÊ PEDIU DESSE RESTAURANTE CHINÊS, VOCÊ SABE QUE A COMIDA DELES É UMA BOSTA. QUEM ENCHE A MÁQUINA DE LAVAR LOUÇA DESSE JEITO. COMO VOCÊ CONSEGUIU LOTAR O GRAVADOR DA TV A CABO COM 60 EPISÓDIOS DE ACUMULADORES.") E discussões vão começar a evoluir de como a pessoa bebe água, tosse ou usa aquela palavra comum sempre no contexto errado, e, ah, sim. Você descobre que a pessoa não "faz" nada de errado. Ela é errada pra você.

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O SEXO TE ENJOA

Quando você percebe que só consegue gozar pensando que estava transando com outra pessoa, já é tarde demais. O corpo dele ou dela perdeu toda a sexualidade para você. Mas não daquele jeito "vamos envelhecer juntos, nossos laços transcendem a forma física", não, mais como um objeto estranho que não faz mais sentido. Você nota que está ficando mais distante da experiência, decretando uma proibição de beijo na boca como a Julia Roberts em Uma Linda Mulher, não porque isso encoraja intimidade, mas porque qualquer demonstração de afeto é ofensiva. Qualquer posição que envolva ficar de costas para o parceiro se torna a normal. Oral vai te salvar nessas horas, mas deus perdoe se a pessoal olhar para cima e fizer contato visual.

Felizmente, o sexo geralmente acontece à noite, então você tem bastante tempo para olhar para a parede no escuro, pensando sobre o que tudo isso significa. Geralmente quando o sexo começa a ser ruim é o primeiro sinal de que deu merda, e considerando que é o mais visceral — física, mental e emocionalmente — você não vai conseguir ignorá-lo e deixar passar.

VOCÊ PARA DE SE IMPORTAR COM OS PENSAMENTOS OU SENTIMENTOS DA PESSOA

Faça um exercício de visualização comigo:

1) Imagine seu parceiro(a) numa janela, a luz branca de um dia ensolarado iluminando a sala, a poeira brilhando nos raios de sol. Você acabou de mandar uma mensagem chamando a pessoa de "babaca" ou "babaca do caralho" de novo, e ela está chorando. Chorando e chorando e chorando. Você. Você fez a pessoa se sentir assim. Ela está com o rosto todo vermelho. O rosto ensopado de lágrimas. Tudo se foi agora — todas as ilusões de dignidade foram abandonadas, então a pessoa chora abertamente — é tarde demais para esconder, então a pessoa só chora na sua camiseta, as lágrimas escorrendo pelas bochechas, a sala cheirando a sal. Você fez isso. O que você sente?

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A) Alguma coisa
B) Nada

2) Você ouve a freada do ônibus. Você conhece esse som, um dos muitos sons do trânsito na rua da sua casa. Você consegue ouvir crianças brincando em algum lugar próximo, jogando uma bola vermelha entre elas. Seu parceiro(a) está deitado no asfalto, morto, com um fio de sangue saindo da boca, os membros dobrados de um jeito estranho. A pessoa tentou pegar o ônibus, mas foi atropelada por ele. Agora está morta. Os olhos ainda abertos. Um zoom. Um zoom no rosto que você já segurou e disse "Eu te amo". O que você se sente?

A) Alguma coisa
B) Nada

3) As molas estão fazendo aquele barulho inconfundível. O trabalho estava calmo, então você saiu mais cedo — você caminha pra casa; um dia gostoso, ouvindo música nos fones, uma hora perfeita de alegria onde você não olhou no celular, apenas andando pela calçada, ocasionalmente tocando folhas e caules nos jardins — e agora você está em casa, um pouco suado por causa da caminhada, então talvez vá tomar um banho, mas você sobe a escada e — espera, esse barulho de molas. Quick, quick, quick. O que? Você entra no quarto: seu parceiro — seu namorado ou namorada, não importa — está transando apaixonadamente com outra pessoa. E não aquele sexo que vocês fazem ultimamente — com as luzes apagadas, sem oral nas preliminares. Não. Tipo: a pessoa está com as mãos amarradas na cabeceira e amordaçada. Sachês de lubrificante pra todo lado. A pessoa transando com ela tem um corpo perfeito. No momento em que você entra no quarto, seu parceiro está acariciando o peito da outra pessoa com uma pluma rosa. Tipo, não é só sexo, é o tipo de luxúria que vocês não tinham desde aquela última noite em Barcelona, no verão de 2013. O que você sente?

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A) Alguma coisa
B) Nada

RESULTADOS

Principalmente A: Bom, muito bom.
Principalmente B: A coisa vai mal.

(Foto por Chris Bethell)

VOCÊ LITERALMENTE NÃO CONSEGUE PENSAR EM NADA PRA DIZER PARA ELE OU ELA

Você já tomou um brunch triste? Um brunch triste é um brunch que é triste. Você pode achar que isso é impossível — brunch é vida; brunch é a melhor refeição da semana — mas aí você olha para o outro lado da mesa e vê a pessoa que você diz pra si mesmo que ama e: nada. "Então o quê…" você diz, pegando o saleiro, "O quê… o que sua mãe disse?", e a pessoa fala "quê?" e você diz "O que sua mãe disse? No telefone outro dia. Sua mãe não ligou?" E a pessoa responde "ah", "sim", e aí uma pausa, onde um de vocês exala todo o ar do corpo, fazendo um som que parece o vento passando pelo vazio onde antes ficava seu coração, e aí a pessoa diz: "Ah, nada. Não, ela falou alguma coisa do cachorro", e aí vocês ficam sentados em silêncio lá por cinco minutos, até a comida chegar, aí você diz "Ah, a comida". A comida salvou vocês dois, e só quando a conta chega vocês percebem que nem pensaram em postar uma foto no Instagram. Quando o brunch é triste você sabe que acabou. Evite o brunch triste.

PENSAR NO FUTURO É UMA COISA QUE VOCÊ EVITA

Você marcou uma viagem com a pessoa, seu idiota, e agora a data está chegando como o primeiro aniversário da morte de um familiar próximo. Você começa a analisar mentalmente que amigo estaria livre para ir no lugar da pessoa, se acontecer; já que você não quer perder o depósito que já pagou com seu mísero salário. Ficaria… tsc, ficaria chato esperar seis meses até a viagem pra terminar? Quer dizer, provavelmente, porque é meio ano da sua vida e meio ano mais perto dos 30.

Se você não reservou o hotel, nenhum de vocês vai mencionar a viagem porque, para o bem ou para o mal, vocês estão comprometidos a passar duas semanas juntos cobertos de protetor solar, o que pode dar a ilusão de que as coisas voltaram ao normal — é difícil ficar puto com alguém quando vocês estão numa piazza de Roma, bebendo uma lager forte enquanto assistem o pôr do sol e esperam um prato de espaguete com mexilhões — mas essa ilusão rapidamente se despedaça na última noite, quando alguém não acha os óculos de sol a vocês acabam gritando um com o outro por duas horas, e você sai batendo a porta do quarto, indo dar uma furiosa caminhada no estrangeiro, voltando timidamente 45 minutos depois e tendo que emprestar o cartão da recepção para voltar pro quarto. Aí vocês sentam em silêncio um do lado do outro no voo para casa.

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Basicamente, você não ousa falar sobre viajar juntos porque periga quebrar a frágil porcelana que é seu relacionamento.

QUANDO ALGO BOM ACONTECE, VOCÊ NÃO CONTA PARA A PESSOA PRIMEIRO

Um serviço subestimado fornecido pelos relacionamentos: ter alguém obrigado a receber sua ligação empolgada quando você recebe um aumento no serviço, sua irmã vai casar ou só porque você viu um bichon frisé fofo na rua, porque vamos encarar a verdade: mais ninguém na sua vida gosta tanto de você para dar esse tipo de apoio emocional. Lentamente você percebe que está mandando mensagem para outra pessoa; um melhor amigo; sua mãe de quem você nem é tão próximo; aquela pessoa razoavelmente atraente com quem você anda trocando ideia quando algo importante acontece. Isso também vale para quando algo péssimo acontece. Sabe, o que está acontecendo aqui é que você está se preparando subconscientemente para a vida depois do fim inevitável, quando você vai ser a única pessoa que mais te ama ou te odeia.

DE NOVO, ABRAÇAR A PESSOA TE DÁ UM ARREPIO ESTRANHO

Lembra quando você chegou em casa e viu a pessoa na cozinha, com a cara vermelha de chorar — a tia estava doente, ou algo assim; você não lembra dos detalhes, você tinha feito hora extra oito dias seguidos — e você sentiu aquele choque de ternura pela pessoa, então foi lá dar um abraço, que parecia natural mas também não, e a pessoa fungou um pouco no seu ombro e você pensou: "isso é literalmente como abraçar um monte de carne chorosa"?

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Foto por Jake Lewis.

VOCÊ FANTASIA COM UMA VIDA SOLO OU LITERALMENTE COM QUALQUER OUTRA PESSOA

"Hum", você pensa, sonhando com uma manhã preguiçosa de domingo sozinho, na qual pode ir correr naquele parque onde vive se prometendo que vai, beber um café de 8 paus olhando para a rua, andar até um bar para tomar uma cerveja e comer um lanche no almoço, encontrar aquele amigo que você não vê há milênios porque seu parceiro diz que odeia aquela pessoa. Jesus, não ia ser ótimo morar sozinho? Você podia adotar um cachorro. Ou: morar no exterior por um tempo. Ou: você já pensou em virar vegan? Cozinhar mais, não sempre a mesma dieta de "bolonhesa, omelete e delivery de pizza" que a pessoa insiste em ter. Você podia ser tão livre. Você podia comprar flores para decorar a sala. Podia assistir Twin Peaks inteiro, já que a pessoa assistiu um episódio e disse que não gostou. Comprar um toca-discos antigo e encher sua vida de música, não aquelas listas toscas do Soundcloud que a pessoa insiste em tocar na porra do notebook. Jesus: não seria ótimo se a pessoa… não, não pense nisso.

VOCÊ NÃO LIGA MAIS TANTO PARA PEDIR DESCULPA DEPOIS DAS BRIGAS

Geralmente era você quem se desculpava depois das brigas implorando, chorando, comprando flores ou fazendo um oral caprichado, mas agora só diz o "tá, desculpa" obrigatório e volta a assistir O Aprendiz no YouTube.

TRAIR

Quer dizer, considerando todos sinais de que um relacionamento está morrendo, grandes traições são um bom termômetro de que as coisas não vão bem. Tipo: se você sai, enche a cara e transa com outra pessoa, é bem difícil superar isso. Mas as pequenas traições também contam, e são mais insidiosas, então você não percebe que está traindo: você manda mensagem para um colega de trabalho depois do expediente, você tem um longo papo no Facebook com alguém por quem tem um certo crush, você volta a stalkear seu ex no Instagram. Você não fez nada de errado, tecnicamente — você passaria num teste com detector de mentiras — mas as coisas já escorregaram para um meio termo na sua cabeça: você poderia trair, né, se quisesse? Você tem o que é preciso aqui. Você tem alguém que daria material pra isso. O motor está ligado e as luzes estão acesas. Você só precisa tocar no pedal e foder com a sua vida com uma ligeira pisada no acelerador.

VOCÊ ACABA FAZENDO ATIVIDADES QUASE ROMÂNTICAS COM SEUS AMIGOS EM VEZ DO PARCEIRO, PARA QUE EXPERIÊNCIAS NOVAS NÃO ACABEM NO LIXO

Em uma das suas caminhadas taciturnas, vocês passam por um restaurante novo que abriu no bairro. "Parece legal", um de vocês diz, e o outro responde "aham". Se fosse nos velhos tempos — quando sua genitália estava em chamas, quando você desejava ardentemente o corpo e a companhia da pessoa, quando você precisava dela, sempre, o tempo inteiro; quando não conseguia passar um dia sem ela, sem aquele rosto, aquele toque certeiro — você diria "Vamos jantar aqui amanhã". Talvez ainda diga tipo, "a gente pode ir uma hora dessas", sabendo que não vão, mas a ideia está ali, flutuando, até que, seis semanas depois, você acaba lá com seus amigos para tomar umas brejas depois do expediente. O frango, você relata depois lá em casa, estava "bom", então vocês resolvem nunca realmente jantar lá. Provavelmente você vai ver uma nova pizzaria e pensar imediatamente em dois ou três amigos com quem preferia comer ali, então você manda uma mensagem para o grupo e combina para quarta-feira antes mesmo de chegar em casa. Pense nisso assim: sair para uma refeição com seu parceiro, agora, nesse estágio cagado do relacionamento, é outra experiência que vai parar na caixa de noites em que você não quer pensar mais. Então é só desperdício de dinheiro.

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Foto por Jake Lewis.

VOCÊ SÓ CONTINUA COM A PESSOA PORQUE VOCÊS MORAM JUNTOS E FALTA OITO MESES PRO CONTRATO ACABAR

Olha, entendo isso porque todo mundo vive numa batalha constante com os caprichos dos proprietários e imobiliárias, e todo mundo tem medo de mandar um e-mail para eles perguntando quais seriam as penalidades se, possivelmente, talvez, você encerrasse o contrato antes, se tivesse, se realmente fosse obrigado. Mas essa não é uma boa razão para continuar num relacionamento. Morar junto é um grande passo para a maioria dos casais — sério, é um meio termo entre "sair" e "ficar casado para sempre". Mas se der errado, se a excitação daquela primeira viagem de casal até a loja de móveis para comprar três armários de cozinha que você ainda nem montou desapareceu, e agora tudo que vocês têm e um lugar preferido no sofá e duas rotinas matinais que se cruzam sem nunca se ligar, e a pessoa vem voltando do trabalho cada vez mais tarde, e parece estar sempre mandando mensagem para alguém ligeiramente fora da sua linha de visão, você já está dormindo na casa da sua irmã algumas vezes por semana mesmo, e vocês estão contando os dias — mais oito dias do pagamento antes de você poder procurar outra pessoa! Só mais 203 dias nesse inferno! — mas sério, se o medo administrativo de ter que entregar as chaves, pegar seu depósito de volta e achar outro lugar para morar é o único laço que mantém vocês juntos, o prazo de validade já venceu*.

*A menos que o aluguel seja barato. Sério. Se você conseguiu um puta negócio num apê perto do metrô, então vale a pena segurar os escombros do seu relacionamento mais um pouco, provavelmente.

O FIM, OU: VACILANDO ENTRE "O SILÊNCIO HORRÍVEL" OU O FAMIGERADO "PRECISAMOS CONVERSAR"

Se você consegue visualizar seu parceiro implorando para ser amado na sua cabeça, e esquecer a cena praticamente pouco se fodendo, então você está a minutos de um telefonema ou mensagem entregando o golpe final. Nesse ponto de pico de sociopatia, você vai preferir uma conversa com um bêbado fedido no trem do que responder uma mensagem do seu parceiro. E foda-se as duas coisas. Isso acontece porque você sente que a pessoa está te prendendo em conversas de que você não quer fazer parte, tipo ficar com aquele cara de quem você não é realmente amigo quando seu truta de verdade vai mijar. Mais nada em comum, nada que vale a pena ser dito, nada para interagir, os dois apenas sentados lá, em silêncio. Quando você fala alguma coisa, isso provavelmente acaba num cenário de "Precisamos conversar" no qual vocês quase acabam mas resolvem dar mais uma chance. Volta o silêncio. Volta a conversa. Vai e volta, vai e volta, até que: Fim.

… Até você acabar em outro relacionamento de dois anos e acontecer tudo de novo!

@hannahrosewens , @joelgolby e @joe_bish

Tradução: Marina Schnoor

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