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Drogas

Homens que tomam psicodélicos têm menos chances de ser violentos contra parceiras

Pesquisadores descobriram que homens que curtem viajar têm menos chances de ferir parceiras, e “regulação emocional” pode ter um papel nisso.
Imagem via Psychonaught/Wikimedia Commons.

De todas as drogas ilegais, psicodélicos geralmente são os mais discretos. Eles não estão no topo da lista de possível legalização de nenhum país, não há epidemia de overdoses acontecendo, e mesmo tendo certeza que guardas de fronteira os encontram ocasionalmente, você raramente lê alguma manchete internacional sobre isso.

Então foi um choque para pesquisadores e defensores de psicodélicos quando um homem canadense acusado de assassinar uma amada xamã de ayahuasca foi morto recentemente no Peru. A violência capturada em vídeo abalou a comunidade global de ayahuasca e até fez alguns questionarem a segurança do DMT, o ingrediente ativo da ayahuasca, e de outras drogas psicodélicas. Políticos peruanos até começaram a pensar em ações para regular a planta alucinógena.

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Nesse contexto, um novo estudo da Universidade da Colúmbia Britânica descobriu que homens que tomam psicodélicos têm metade das chances de serem violentos com as parceiras. O novo estudo publicado pelo Journal of Psychopharmacology é mais um num crescente corpo de pesquisa que sugere que pessoas que tomam psicodélicos são menos violentas, mas dessa vez há evidências de que os resultados de longo prazo podem ser diferentes para homens e mulheres.

Para a Dra. Adele Lafrance, psicóloga e uma das coautoras do estudo, é importante ter pesquisas científicas, em vez de um incidente isolado, moldando a percepção do público. “Nossa pesquisa sugere que o uso de psicodélicos na verdade pode diminuir o risco de violência na população em geral, pelo menos no contexto de um relacionamento íntimo”, ela disse a VICE. “Na verdade, psicoterapia psicodélica pode até ser um tratamento em potencial para aqueles em risco de violência doméstica.”

Quando falei com a pesquisadora líder do estudo, Michelle Thiessen, ela disse que essa é a tendência oposta da encontrada com álcool e cocaína. “Álcool, cocaína e metanfetaminas são fortemente associados com violência”, ela disse.

A pesquisadora Michelle Thiessen.

Até recentemente, psicodélicos “clássicos” como ácido, cogumelos, mescalina e ayahuasca geralmente eram jogados na mesma categoria que alucinógenos como o PCP, diz Theissen, parte da razão para os cientistas só agora estarem começando a explorar associações da droga com a não violência.

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O estudo acrescenta evidências ao trabalho passado de Thiessen, que já estudou taxas de violência doméstica e padrões de uso de drogas entre detentos homens. Um estudo de 2016 descobriu que 42% dos homens que nunca tomaram psicodélicos eram presos novamente por violência doméstica dentro de seis anos, enquanto apenas 27% dos homens que tomavam esse tipo de droga eram presos pelo mesmo crime. Com esse último estudo, Thiessen e seus coautores queriam expandir a amostragem para incluir mulheres e o público geral.

Os pesquisadores falaram com 1.266 pessoas sobre suas experiências com drogas e álcool, como eles lidam com suas emoções, e abuso doméstico. Cerca de 11% dos participantes tinham empurrado, batido ou ferido de outra maneira suas parceiras pelo menos uma vez no ano passado.

O uso de psicodélicos estava associado a emoções menos difíceis de “regular”, e significativamente menos violência doméstica — mas só para homens. Cerca de 5% dos homens que usavam psicodélicos atingiram a definição dos pesquisadores de abuso doméstico, comparado com 10% que não tinham histórico com psicodélicos. “Metade é algo grande”, disse Thiessen, “é muita gente não sendo ferida”.

Aparentemente, os autores do estudo não anteciparam uma separação tão significativa entre os gêneros. Um estudo anterior do professor da UCB Zach Walsh descobriu que usuários de psicodélicos tinham menos chance de cometer crimes violentos, mas não encontrou uma conclusão separada sobre homens e mulheres. “Pensamos que deveríamos separar os gêneros para ver se havia diferença”, disse Thiessen. “E descobrimos que isso não se aplica a mulheres.”

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Como uma psicóloga de sofá, achei que essa diferença tinha algo a ver com como os homens evitam e ignoram suas emoções. O estudo diz que “emocionalidade negativa” é um precursor de violência, e tomar ácido e comer cogumelos aparentemente ajuda os homens a quebrar esses padrões negativos. As mulheres já são socializadas para processar suas emoções, acho, então talvez elas não precisem de drogas para entender seus sentimentos. Mas quando dei essa teoria para as pesquisadoras, elas tinham uma explicação um tanto diferente.

Thiessen sugere que mulheres provavelmente se beneficiam de processamento emocional aumentado quando tomam psicodélicos, mas podem não ter escolha sobre usar violência se já estão sob ataque em um relacionamento. “Acho que a explicação mais plausível é que mulheres que se envolvem com violência contra o parceiro têm mais chances de agir de maneira defensiva”, ela disse. “Não esperamos que psicodélicos tornem alguém menos propenso a se defender.”

Thiessen diz que mais pesquisa é necessária para entender exatamente por que os resultados não eram os mesmos para homens e mulheres. E por causa da estrutura do estudo, não podemos saber com certeza se psicodélicos fazem as pessoas serem menos violentas, ou se pessoas menos violentas se sentem naturalmente atraídas por aventuras alucinógenas.

Também é difícil saber exatamente que parte da experiência psicodélica pode estar ajudando as pessoas a quebrar padrões emocionais negativos. Thiessen diz que alguns pesquisadores estudaram ressonâncias magnéticas de pessoas que comeram cogumelos com psilocibina, e viram áreas do cérebro associadas ao processamento emocional se acenderem. Os participantes também relataram um aumento na empatia.

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Mas outros estudos descobriram que processamento emocional se estende além da experiência “aguda” do barato, diz Thiessen. Em outras palavras, uma mudança na visão de mundo pode vir depois de você ficar olhando os fractais dançando no seu teto. Isso pode explicar porque algumas pessoas podem ter uma bad trip, mas ainda tirar algo bom disso. “Quando encarar uma experiência emocionalmente carregada no futuro, você pode avaliar isso de maneira diferente”, disse Thiessen.

Seja lá o que acontece, não vai ser fácil para os pesquisadores desenvolverem terapias psicodélicas sem uma revisão de como drogas psicodélicas são reguladas no Canadá. “Nossas políticas de drogas nos impedem de conduzir mais dessas pesquisas”, disse Thiessen. “É interessante que, como sociedade, olhamos para nossas políticas e leis como coisas pensadas para nos proteger, mas nossa pesquisa sugere que psicodélicos podem ser úteis para tratar coisas que realmente podem nos proteger.”

Matéria originalmente publicada pela VICE Canadá.

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