O ollie, aquela manobra que o praticante bate a parte de trás do skate no solo e, no impulso do board para cima, o nivela com o pé da frente no ar, é a primeira coisa que qualquer skatista de asfalto precisa aprender. É o movimento fundamental no street skate porque virou base para uma série de outras manobras de flip, air, grab, grind, slide, shove it e muitas mais, de front, de back e switch. Basicamente todas as manobras que se vê nos campeonatos de Game of Skate. Alan Gelfand, skatista da Flórida, na Califórnia, Estados Unidos, descobriu a habilidade de ejetar o skate para cima do copping das piscinas e bowls sem o uso das mãos em 1979 – um aéreo sem segurar.
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Ele aplicou a técnica na execução de um ollie frontside air, que evoluiu para um hang-up e deu origem ao famigerado “disaster”. Fora da modalidade vertical, foi um amigo de Gelfand, o Jeff Duerr, que mandou o primeiro frontside ollie air no flatground, a manobra que chamamos apenas de “ollie”. Já o responsável pela popularização do ollie certamente foi o Rodney Mullen, destaque do freestyle na época e figura presente na mídia especializada.Embora Duerr costumasse mandar antes de qualquer um ollies no gás pra subir calçada, pular correntes de estacionamento, skates empilhados e dar grind em degraus de escadaria, Mullen, que começou a andar de skate pouco depois de Duerr, assumiu a bandeira de divulgação do ollie. Um dos fatores favoráveis a isso é que Duerr era um cara mais recluso e avesso ao lado profissional do skate. Taí a razão pela qual ele geralmente é posto de lado na história do ollie.O certo é que Rodney Mullen inventou, a partir do ollie, o skate moderno. Principalmente pelas inúmeras combinações que fez desta trick com os movimentos preexistentes do freestyle. Em 82, competindo contra Rusty Harris num campeonato na cidade de Whittier, na Califórnia, Mullen debutou com a manobra. A partir daquele momento, ele abriria cada vez mais os horizontes do street skate com sua admirável inventividade e seus belos ollie impossibles, ollie airwalks, ollie one foots… A lista é longa. Da geração seguinte, podemos atribuir a caras como Reese Forbes e Kien Lieu, com ollies acima de um metro e vinte, a evolução do chamado “pop”, técnica de golpear o tail contra o solo para o skate inclinar e subir.
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Não é por que o ollie se tornou uma manobra básica que é fácil de mandar. Saber dar um ollie bonito, alto e capaz de fazer o skate planar sobre compridos raios de extensão é para poucos. Vamos deixar que falem os próprios profissionais do skate sobre a importância do ollie para dar identidade ao popular esporte que conhecemos hoje.
Luciano Kid - skatista pro oldschool
Filipe Maia - Cemporcento Skate / Trocando Manobras
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“Se não existisse o ollie estaríamos no no comply, né? [risos] Acho que sem o ollie a gente ia andar de street skate de uma maneira bem parecida com o freestyle.”“Foram muitas tentativas na garagem, muitas e muitas vezes, até conseguir acertar o meu primeiro ollie. Acho que quando consegui subir umas guias seguidas vezes sem errar entendi que tinha aprendido. Com certeza os ollies mais bonitos que presenciei foram de Gustavo Dias, o Guguinha, pé de mola sinistro. Nunca entendi como sai tão alto mesmo sem nada pra pular. Os do Apelão também são demais, muito altos e seguros os ollies desse cavalo. Os meus são ollies normais [risos].”“Pra mim, o ollie só sobe se tiver algo pra pular, então um conselho é sempre ter algo pra pular, vai aumentando de pouco em pouco e, se você for bem esforçado, logo está pulando uma mesa ou mais. Eu gosto de ollies seguidos, tipo dos japoneses, subindo degrauzinhos muito próximos um do outro, ollie com ritmo, prefiro mais do que altura ou até mesmo distância.”“Acho que sem o ollie ficaríamos na pegada mais skate surf, com manobras mais como danças e ladeiras. Nem consigo imaginar o skate sem ollie, seria outra coisa, seria mais dançado mesmo, coreográfico, sei lá, talvez ficasse na linha do freestyle. Perderíamos muito.”“Lembro, no começo, quando era meu sonho saber mandar o ollie. Passava a tarde inteira tentando, segurava na grade para ter mais equilíbrio, depois soltava e tentava de novo, filmava, pedia para o meu pai olhar para saber quanto tinha saído do chão [risos]. O primeiro que valeu para mim foi quando consegui subir uma escadinha de dois degraus que tem no meu quintal. O ollie mais impressionante na minha opinião é do Tiago Lemos, aquilo que é ter pop!”
Murilo Romão - skatista pro e film maker
Dora Varella - skatista profissional
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“Como ando mais em transições, gosto de usar o ollie para mandar outras manobras, aéreos e manobras de borda. Para manobras de flat, o ollie é quase sempre fundamental. A única que vem na minha cabeça e que dá pra fazer sem pop é o varial.”“Acho que o primeiro ollie a gente nunca esquece. Lembro que eu ficava segurando numa grade para aprender. Um dia vi que ele já estava consideravelmente alto e então pus um cabo de vassoura no chão e pulei. E assim foi. Cada vez eu colocava mais obstáculos. O ollie mais marcante, com certeza, foi uma vez que eu consegui pular quatro skates empilhados, nunca vou esquecer! Dar um bom ollie, na verdade, não é tão fácil como pensam. O segredo é bater para pular alto, dar uma leve encolhida na perna de trás e esticar a da frente. O tipo de ollie que mais curto são uns ollie shift e uns ollie em gap no gás. Entre as variações do ollie, curto uns kick flips, fs flips, varial flips, e por aí vai.”