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Os Sem-teto Têm Medo de Agosto, o Mês das Reintegrações de Posse

Terminada a Copa, PM sairá cumprindo ordens de reintegração de posse. A do dia 17, num bairro chique de SP, já tem presença da polícia confirmada.

Militantes dos diversos movimentos por moradia de São Paulo temem que o primeiro mês depois da Copa do Mundo traga consigo uma onda de reintegrações. Acabado o período de “Brasil vitrine”, a Justiça deve voltar à carga com ordens judiciais para retirar famílias inteiras de imóveis ociosos localizados principalmente no Centro da cidade, dizem os movimentos.

“Em agosto o número de reintegrações está muito acima do normal. Na verdade, elas não foram feitas antes ou durante a Copa porque as autoridades temiam a reação dos movimentos sociais”, diz Guilherme Boulos, coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto).

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Um dos apartamentos da Ocupação Pamplona, onde a PM se prepara para entrar, por ordem da Justiça.

A primeira ação ocorrerá já no dia 17, um domingo. A juíza Bruna Acosta Alvarez, da 23ª Vara Cível – Foro Central, determinou a desocupação de um edifício localizado no número 935 da Rua Pamplona, no Jardim Paulista, zona chique da cidade. A reintegração do local, ocupado desde o dia 12 de junho por um grupo de 117 pessoas, será feita a pedido da proprietária do imóvel, Wanda Maria Brando Gravina. A juíza pediu expressamente a presença de homens do 11º Batalhão de Polícia Militar.

Pátio da Ocupação Pamplona. Vista bonita em bairro chique de SP.

“Recebemos a notícia pela polícia nos convocando a uma reunião no batalhão e lá foi decidido: 17 de agosto todos na rua”, diz a convocação de um ato realizado hoje cedo contra o despejo da autodenominada “Ocupação Pamplona”. Mais de 50 pessoas – entre elas idosos, mães com bebês a tiracolo e pelo menos 10 crianças – fizeram uma caminhada dos Jardins até a porta da Prefeitura, no Vale do Anhangabaú, onde se encontraram com dezenas de outros membros de movimentos por moradia.

“Existe uma grande agenda de reintegrações de posse para ser cumprida. Tem mais de 15 ocupações para serem despejadas”, explica Guilherme Land, coordenador do MMRC (Movimento de Moradia da Região Centro). “É normal a família Gravina deixar imóveis e terrenos parados esperando valorizar para depois vender”, afirma.

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Enfrentando a manhã gelada com um vestido florido e chinelos, Dona Analice, de 58 anos, ganha um salário mínimo por mês e mora na ocupação Pamplona com o neto. “Se a reintegração acontecer, não sei aonde irei”, desabafa.

A Secretaria de Habitação de São Paulo negou que haja qualquer ação coordenada para despejar famílias de sem-teto agendada para este mês. Mais do que isso, considera que "as ocupações prejudicam a política habitacional vigente". A Secretaria de Segurança Pública afirmou que as reintegrações se dão por ordem da Justiça, sendo a imensa maioria pacífica.

Durante o trajeto da passeata, diversos transeuntes gritaram uma mesma frase para os manifestantes: “Vai trabalhar, vagabundo!”. Para Nelson da Cruz Souza (de barba grisalha na foto), do MMRC, isso não incomoda. “O sistema os educa assim. Eles também estão sendo explorados. Fazemos parte da mesma classe, mas é uma classe desunida.”

Veja mais fotos na próxima página.

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