O que gastam realmente os países europeus em "copos e mulheres"

FYI.

This story is over 5 years old.

análise

O que gastam realmente os países europeus em "copos e mulheres"

O presidente do Eurogrupo disse que os países do Sul são gastadores e, com apenas meia dúzia de palavras, deu toda uma outra dimensão à nossa querida expressão "putas e vinho verde". Haverá alguma verdade nas suas declarações?

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Alemanha e adaptado pela VICE Portugal.

E foi uma bomba! Já todos ouvimos, lemos e comentámos (e partilhámos memes) as palavras do senhor doutor presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, sobre os terríveis e esbanjadores europeus do Sul. No que toca a encontrar uma forma de irritar o maior número de pessoas ao mesmo tempo só com uma frase, este holandês obviamente arranjou a fórmula certa: "Não posso gastar todo o meu dinheiro em bebida e mulheres e depois pedir ajuda".

Publicidade

As declarações foram prestadas ao diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung e, nas mesmas, Dijsselbloem assegurava que quem exige solidariedade "também tem obrigações". "Não posso gastar todo o meu dinheiro em bebida e mulheres e depois pedir ajuda. Este princípio aplica-se a nível pessoal, local, nacional e inclusive a nível europeu", defendeu o responsável.

As reacções dos países do Sul, a quem, claramente, o presidente do Eurogrupo se dirigia, não se fizeram esperar e foram pautadas por um misto de choque, repugno e pedidos de demissão imediata, principalmente depois do também ministro das Finanças da Holanda ter recusado, em pleno Parlamento Europeu, apresentar desculpas.


VÊ TAMBÉM: "A Comissão Europeia e o lobby da indústria da Defesa"


Em Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse à RTP que considerava "estas declarações muito infelizes e, do ponto de vista português, absolutamente inaceitáveis". E acrescentou: "Jeroen Dijsselbloem continua, passados estes anos todos, sem compreender o que verdadeiramente se passou. O que se passou com países como Portugal, Espanha ou Irlanda não foi termos gasto dinheiro a mais. Nós, como outros países vulneráveis, sofremos os efeitos negativos da maior crise mundial desde os tempos da grande depressão e as consequências da Europa e a sua união económica e monetária não estar suficientemente habilitada com os instrumentos que nos permitissem responder a todos aos choques que enfrentámos".

Publicidade

Para além disto, claro, choveram acusações de xenofobia e machismo, em Itália chamaram-lhe estúpido e na Grécia acusaram-no de estar a "aprofundar o fosso entre o Norte e o Sul". Nos últimos dias, Dijsselbloem tem tentado apaziguar os ânimos e já veio dizer que as suas declarações não se referiam apenas aos países periféricos e alvos de ajuda comunitária em anos recentes.

No entanto, sendo a União Europeia um grupo de amigos (é não é?), não é também sabido que, por vezes, cabe aos amigos dizerem-nos a verdade? Mas será a verdade do holandês mesmo verdadeira? Para além do gritante sexismo e do preconceito nível máximo, como incansáveis colectores de dados que somos, atirámo-nos à investigação. Qual seria o país da União Europeia a gastar mais dinheiro em álcool? E em mulheres?

Depois de horas de complicadas escavações arqueológicas nos arquivos provincianos da sabedoria medieval europeia, que envolveram análises a números da agência Eurostat, OMS e Federação Alemã da Indústria de Bebidas Espirituosas, podemos agora apresentar alguns resultados. Infelizmente, nem todos são fiáveis e nem todos os países estão representados, mas foi o que se conseguiu.

"COPOS"

"MULHERES"

CONCLUSÃO

Dijsselbloem devia ter vergonha. Não só pela tentativa de generalizar, fazendo-se valer de preconceitos misóginos, mas também porque, na verdade, está mesmo enganado. Não é, afinal, assim tão linear que sejas um europeu do Norte, trabalhador e sóbrio, e um bêbado do Sul todo fodido a viver de subsídios. A verdade é, como sempre, muito mais complexa.

Ou, simplificando, de acordo com os dados que conseguimos recolher, a coisa divide-se: mais copos no norte, mais mulheres no Sul. E é provavelmente por isso que o holandês Dijsselbloem é uma pessoa tão mal-humorada e ressabiado em relação aos povos cá de baixo.