Uma História Pornô: Meu Fim de Semana nos Bastidores do AVN (Parte Dois)

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Sexo

Uma História Pornô: Meu Fim de Semana nos Bastidores do AVN (Parte Dois)

O que rola por trás do Oscar do pornô (com todo respeito).

Existe essa suposição absurda de que nenhuma mulher decente quer fazer sexo anal. Sexo anal é coisa de vagabunda. O tipo de mulher que um homem pode até traçar de bom grado, mas que nunca vai levar para conhecer sua mãe. Até a Jesse Jane admite que tem coisas que ela nunca faria em frente às câmeras (anal sendo uma delas), porque isso limitaria suas oportunidades de trabalho mais mainstream. Ouve-se muito a piada estereotipada do sexo anal, mas nunca ouvi isso tantas vezes como quando entrevistei Craig Gross, conhecido também como “O Pastor Pornô”. Durante nossa entrevista ele mencionou “anal duplo” pelo menos cinco vezes.

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“Pornô é uma questão de anal duplo e loiras”, Gross dá de ombros, mascando chiclete. Ele está vestido de maneira meio estilosa, com botas que me deram uma leve inveja. “Então, quando eles [os virgens que assistem pornô] se casam, suas esposas nem se comparam com tudo isso.” Ele abre os braços para a feira no outro salão.

Gross, 37 anos, e seu cofundador, Mike Foster, começaram a organização sem fins lucrativos XXXChurch há dez anos para ajudar pessoas que são viciadas em pornografia e artistas do meio que querem sair da indústria. A XXXChurch cresceu e agora participa da Expo AEE (e de muitas outras feiras de sexo pelo Estados Unidos) como uma alternativa ao pornô. A XXXChurch tem garotos e garotas-propaganda que mostram seu sucesso, a mais famosa sendo Stephanie Swift, que deixou o pornô e encontrou Jesus.

“Essas mulheres não querem fazer isso”, diz Gross, que também já publicou vários livros com títulos como Jesus Loves You, This I Know (Jesus te Ama, Isso Eu Sei), Dirty Little Secret (Segredinho Sujo) e Eyes of Integrity (Olhos de Integridade). “Elas prefeririam estar fazendo outra coisa. Não estamos resgatando essas mulheres, porque elas disseram em algum momento que queriam fazer isso. Mas quando não querem mais, ajudamos na transição.”

Lembrei de uma amiga que ocasionalmente frila como prostituta no Craigslist. Uma noite estávamos falando do trabalho dela e ela disse que ficava perplexa quando seus amigos diziam que estavam preocupados, como se ela não entendesse direito os riscos da profissão. Ela entendia o carinho e a preocupação, mas ficava ofendida com o fato de as pessoas presumirem que ela não sabia no que estava se metendo. “Tenho consciência dos riscos do que faço”, ela disse. “É engraçado, ninguém se importava quando eu ganhava salário mínimo num emprego de merda sendo tratada como se eu não valesse nada.”

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Gross e companhia entendem que às vezes o sexo acontece antes do casamento, mas não “aliviam a barra de ninguém”. Seu maior problema é com o pornô, que distorce a imagem de como o sexo deve ser. Gross começa a falar daquele filme do Mark Wahlberg, Ted, particularmente da cena em que Ted, o urso de pelúcia falante, sugere que Wahlberg dê sexo anal para sua namorada em vez de um anel como presente de aniversário.

“O cinema todo riu”, ele franze a testa. “É, dê isso mesmo. É isso que ela realmente quer.”

Penso no livro de Jessica Valenti, The Purity Myth (O Mito da Pureza). Valenti argumenta que tanto a pureza quanto a cultura pornô fetichizam a submissão sexual das mulheres, e é por isso que o movimento pela virgindade é completamente incapaz de analisar a pornografia de maneira útil. “O movimento [pela virgindade] se fecha ao pornô convencional não porque se importa com as mulheres e com a maneira como sua sexualidade é representada, mas porque o pornô é um bode expiatório para o que o movimento percebe como males da sociedade [mulheres fazendo sexo], além de ser uma desculpa conveniente para manter as metas regressivas do movimento.”

“Nunca encontrei ninguém que realmente gostasse de fazer sexo diante das câmeras”, Gross me conta. “É difícil. Os ângulos são estranhos. As mulheres não estão nisso por causa do sexo. Estão nisso pelo dinheiro.”

De repente, uma jovem caminha até Gross murmurando alguma coisa sobre um mórmon de Salt Lake City.

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“Essa é a Rachel”, Gross aponta para Rachel Collins, 30 anos, que é rechonchuda e sorri para mim como uma boneca. “Chamamos ela de 'A Virgem Suja', porque ela nunca fez sexo, mas está nisso há tanto tempo que vai precisar fazer aconselhamento quando se casar.”

Os dois riem. Não entendo a piada.

A Medida B é o grande assunto entre os artistas durante os Prêmios AVN. Em 14 de dezembro de 2012, uma lei foi aprovada no condado de Los Angeles exigindo que todos os atores de filmes adultos usem camisinha durante as cenas de sexo. A Medida B, uma iniciativa aprovada nas urnas, é combatida pela Vivid Entertainment e por artistas como Kayden Kross e Logan Pierce. Kross, que publica seus trabalhos na revista Complex e tem escrito extensamente sobre a indústria no seu blog (ela está preparando um livro), argumenta que a Medida B infringe seus direitos como artista.

“Eu usei camisinha no meu primeiro filme e acontece que foi um puta saco”, Kayden escreveu no blog. “A fricção adicional causada pela camisinha ao longo da filmagem foi ridícula. As camisinhas não eram uma medida de controle de natalidade. Elas eram, teoricamente, para proteção contra DSTs. Mas todos os artistas são testados. Então, no meu primeiro filme, eu estava protegida das DSTs que meu parceiro não tinha.”

Na indústria de filmes adultos, os artistas são testados aproximadamente a cada duas semanas. É um sistema rigoroso. Qualquer companhia da Manwin exige que os artistas sejam testados e que seus resultados possam ser acessados por seus parceiros no set. Depois, os artistas são testados para garantir que não tenham cortes ou arranhões e também a questão da higiene. Existe uma base de dados onde atualizações sobre a saúde sexual de cada artista podem ser acessadas. E mais, como a Jesse diz: “Você sente o cheiro. Desculpe, mas quando você tem uma DST você fica com um cheiro, sabe?”.

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“Lá fora, na média, são cerca de 2.150 novos casos de HIV informados no condado de Los Angeles a cada ano”, Kayden continua. “Isso provavelmente porque tem muita gente transando sem verificar o status de DSTs do parceiro. Não somos essas pessoas. Somos testados.”

Como Kayden, a maioria dos atores e atrizes pornôs acha a Medida B uma patifaria.

“As camisinhas causam irritação em algumas pessoas”, Jesse explica. “Elas machucam. É uma escolha nossa! Somos as pessoas mais limpas que você pode comer. Essas pessoas que dizem que atrizes e atores pornôs são sujos, dizem isso porque são uns otários. Todo mundo por aí sai e transa com gente que conheceu na mesma noite. Tenho transado com o mesmo punhado de caras por dez anos. Tem garotas que fazem isso em um mês e nem se preocupam em fazer os testes.”

O outro lado, claro, diz que assim que um artista do entretenimento adulto aceita dinheiro para fazer um filme, isso se torna um negócio, e um negócio tem que ter regras para proteger os funcionários. Tom Myers, Chefe de Questões Públicas e Conselheiro Geral de Saúde para a AIDS, compara isso a um dublê que se recusa a usar cinto de segurança numa cena com risco de vida.

A Medida B vai custar um mínimo de US$600 mil para os contribuintes. Muito caro para uma lei que é cheia de brechas e difícil de se impor efetivamente. O condado planeja contratar fiscais de camisinha para checar cada um dos sets de filme pornô? Onde entra o pornô amador nessa política? Não só os filmes da Digital Playground que têm grandes orçamentos, mas as coisas caseiras? Essas pessoas serão policiadas da mesma maneira? Como uma lei da camisinha vai realmente proteger os artistas do entretenimento adulto das DSTs?

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Não vai. Mesmo. O que isso vai fazer é tirar a indústria de Los Angeles e levá-la para Nevada, Flórida ou até para outro país, no qual não exista a Medida B, assim como outras leis necessárias para proteger aqueles que podem mais precisar delas.

“Para ser realista, tem muitos tipos de pessoas trabalhando na indústria adulta por várias razões”, a estrela do pornô e, dizem, namorada de James Deen, Stoya, me escreveu por e-mail uma semana antes. Stoya é uma das atrizes mais cultuadas da indústria. Jovem, “natural” e desenvolta, ela escreve regularmente em seu blog desfazendo os mitos e fantasias sobre a indústria. Em um dos posts ela relata o processo meticuloso de tirar as fezes do reto antes de uma cena de sexo anal.

“Mesmo se só discutirmos as atrizes, eles sempre recorrem às histórias maravilhosas de sonho americano como a da Joanna Angel, que realmente tem sua própria companhia de pervertidas sortudas como eu, que perambulam por uma carreira muito agradável, e mulheres que são puramente motivadas pela grana, até chegarem em mulheres com casos absolutamente trágicos como o velho esteriótipo”, diz Stoya. “Temos os mesmos tipos de pessoas que as outras indústrias, e temos as mesmas questões de direitos trabalhistas que as outras indústrias têm ou que já solucionaram. Da mesma maneira que escritores, músicos e atores fazem isso por mera sobrevivência, fazem shows que não estão muito a fim de fazer e se fodem no primeiro contrato, jovens artistas do pornô também são explorados por aproveitadores às vezes. Isso se chama capitalismo.”

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A cerimônia do tapete vermelho do AVN é dividida em seções. Temos o corredor onde os fãs se juntam, depois a sala de imprensa. Estou na sala de imprensa, pensando em como, em três dias, ainda não tinha cruzado com um cara com quem eu realmente transaria.

As paredes da sala de imprensa estão cobertas de banners de propaganda e arquibancadas para os repórteres, equipes de TV e fotógrafos se reunirem. Um homem ruivo alto guia as estrelas em grupos de acordo com seu nível de fama, depois eles as faz assinar seus nomes e credenciais num frágil papel branco, que ele vai ler levantar e ler enquanto eles posam no tapete vermelho. Tem muito couro, glitter e roxo. Todo mundo está superarrumado, não só para a sala, mas para o que vem depois: as fotos, o especial da HBO, o E! True Hollywood Stories, qualquer coisa assim.

Quando vejo Jesse Jane ela está linda, mas levemente nervosa. Não a culpo. Ela está com uma demanda alta, andando de marca para marca, pronta para posar e sorrir.

A sala do tapete vermelho é um tédio, então acabo viajando. Fico vendo as estrelas do pornô deslizarem pelo tapete vermelho, que parece meio insignificante na sala de conferências antiquada. A porcentagem de mulheres na passarela é muito maior que a de homens, e eles se prepararam para se destacar no tapete vermelho usando qualquer coisa bem diferente, mesmo os que optaram pelo smoking: sapatos plataforma, casacos de pele, óculos escuros nerd, correntes de ouro… Até James Deen está usando sapatos com decalques de florzinhas brancas que parecem adesivos de caderno de menina. Ivan da I Am Ivan Productions entra com um computador pendurado no pescoço. Fico esperando Dave Navarro, mas ele não está aqui ou veio e foi embora tão rápido quanto o Suge Knight.

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“Ei”, ouço uma voz atrás de mim. É o Keiran. Ele parece normal, bonito, de smoking, gravata e cara limpa. Sem nenhuma zoação. “Como estão indo as coisas?”

“Tem chiclete?”, pergunto, sabendo que, com certeza, ele tem chiclete.

“Andou comendo bosta de cachorro de novo?”, ele brinca, enquanto enfia a mão no bolso e tira um pacote de chicletes ingleses. “Estes são os melhores.”

Ficamos juntos assistindo o desfile pelo tapete vermelho por um minuto. A namorada de Keiran, Kirsten Price, está filmando um programa com uma equipe de TV. Ela está linda, posando e brincando com seus entrevistados. Todo mundo está rouco por trabalhar, festejar e inalar ar reciclado. Vegas faz a gente se sentir como se tivesse passado uma semana inteira num avião. Nesta sala todo mundo está “ligado”. Todos estão atuando. É isso o que acontece quando você coloca câmeras na cara de todo mundo.

Durante a cerimônia de premiação, sento e tomo uma cerveja com o público geral. Depois que acaba a apresentação de Zumanity do Cirque de Soleil com gente pendurada no teto, Tyga canta sua música, com uma pequena porção de astros pornôs cantando com ele, e a premiação começa.

“Quero elogiar vocês por serem tão incríveis num país em que é tão estranho e puritano quando o assunto é sexo”, começa a comediante April Macie, que está apresentando o show com Jesse Jane e Asa Akira. “Tudo que a vergonha faz é baixar sua autoestima.”

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Aplausos. Gritos. Aplausos.

Há muitas falhas. O microfone principal da casa está muito alto. O teleprompter quebra, mas Jesse brinca com o problema técnico como uma profissional. “Não faça a gente parecer uma bando de garotas burras do pornô”, ela ri.

“Tem certeza de que está pronta? Você parece meio lenta.” Algum tiozão baladeiro de mais de 30 anos atrás de mim comenta quando Jesse Jane pede para que o público mostre algum entusiasmo. Ele e seus amigos continuam tirando sarro das atrizes durante a cerimônia inteira, dizendo que elas “cheiraram” ou rindo de sua suposta falta de educação. Eles continuam rindo dessas “gostosas burras” a quem eles pagaram um bom dinheiro para ver recebendo reconhecimento pelas conquistas de suas carreiras.

Historicamente, as mulheres têm sido vistas como moralmente inferiores aos homens. Hesíodo diz que a primeira mulher, Pandora, foi criada com “a mente de uma cadela e natureza ladina”. No segundo mito da criação no Gênesis, Eva foi aquela saída da costela de Adão, e não da poeira do universo. A teoria biológica da natureza humana de Aristóteles teve origem no puro preconceito social de que a mulher era um desvio da forma masculina. De acordo com essas teorias, as mulheres são seres sexualizados e moralmente básicos. Um sexo menos nobre porque herdam uma ligação com o corpo, com a sexualidade humana, ao invés da mente. Na tradição cristã permanece a ideia de que a mulher é um mal para o homem porque é incapaz de controlar suas paixões e emoções.

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Além do fato de que esses conceitos se manifestavam décadas atrás, ainda vivemos numa cultura que acredita que o corpo das mulheres é inerentemente vergonhoso e que a sensualidade feminina precisa ser restringida. O que aconteceria se finalmente desembaraçássemos moralidade e sexualidade?

“As mulheres, aquelas com um orifício extra, têm lutado de maneira organizada por mais de um século para ter os mesmos direitos que os homens”, Stoya escreveu uma vez. “Por muitos séculos, uma metade sólida da humanidade foi, e ainda é, considerada inferior por causa de um buraco extra.”

Hoje algumas mulheres lutam por positividade sexual. Podemos transar e pensar. Nossos corpos não estão “sendo usados” quando os utilizamos por prazer ou dinheiro. A coisa não é mais tão simples.

As pessoas consideram a pornografia como algo degradante que “objetifica” as mulheres, reduzindo-as a seus corpos. De acordo com Wendy McElroy, nesse contexto, o termo objetificar não significa nada porque objetos não têm sexualidade, só seres têm isso. “Geralmente o termo objetos sexuais significa mostrar mulheres como partes do corpo, reduzindo-as a objetos físicos”, escreveu McElroy. “O que há de errado nisso? As mulheres são tanto seus corpos quanto suas mentes e almas. Ninguém fica descontente se você apresenta a mulher como um ser “cerebral” ou espiritual. Se eu me concentrar no senso de humor de uma mulher excluindo suas outras características, isso é degradante? Por que então é degradante focar na sexualidade dela?”

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Sendo assim, cada mulher não deveria ser capaz de decidir por ela mesma o que acha degradante ou libertador?

O AVN é despido do estigma de Hollywood, portanto tem mais espaço para ser intencionalmente divertido. Os discursos de agradecimento, na maioria, não são sérios. Não há lágrimas. Quando Asa Akira leva o prêmio de Melhor Atriz do Ano, ela ri e pede desculpa para a primeira fila por não estar usando calcinha e estar com a xana descabelada. As piadas do Ron Jeremy agradam a plateia com facilidade. James Deen aceita seu prêmio fumando e de costas para o público. Melhor Ator e Atriz Transexual do Ano ganham presentes junto com seus troféus. Quando é hora de apresentar o prêmio de Visionário para Phil Harvey da Adam & Eve, a plateia geral não presta a menor atenção e fala incessantemente. Escuto uma comoção à minha direita e olho para um casal aleatório em um dos balcões; desesperados por atenção, eles fingem estar transando. Ninguém da plateia paga está prestando atenção enquanto se fala da Medida B. Eles continuam bebendo, gritando e virando um copo atrás do outro porque estamos em Nevada, onde esse tipo de comportamento é encorajado mesmo durante uma cerimônia de premiação.

Todo mundo tem uma opinião sobre as regras implícitas do sexo, mas isso só porque todo mundo pode fazer isso. Todo mundo é especialista quando se trata de trepar, só por ter genitais e tesão. Enquanto alguns de nós sabem o que é melhor para o nosso corpo, existem aqueles que acham que sabem o que é melhor para o nosso corpo. E um grupo diferente de outros que sabe ainda melhor. Quem são os outros? A Igreja. A Lei. Os vizinhos. E todos eles se misturam. Além disso, o capital torna o sexo ainda mais controverso.

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“Se as pessoas estão mesmo conseguindo grande parte de suas informações sobre sexo da combinação Maxim, Cosmopolitan e pornô, isso me parece um problema sério”, Stoya diz. “Pornografia é entretenimento e, com exceção da série Nina Hartley’s Guide To e algumas outras produções, não pretendem ser ou se apresentar como educativas, mas isso parece ser frequentemente apontado como um dos poucos lugares onde as pessoas aprendem sobre sexo.”

Porque não há muitos outros. No entanto, não é culpa do pornô que nossa cultura ainda precise descobrir como falar sobre sexo. Vilipendiamos o pornô simplesmente por existir e preencher o vazio de um diálogo aberto e positivo em relação ao sexo.

“Quando se trata de pornô, acho que repousamos sobre a Primeira Emenda da liberdade de expressão, e isso é distorcido dizendo que nossa liberdade de expressão está ensinando a coisa errada para as pessoas”, Kayden Kross me diz antes de sair da sala do tapete vermelho. “Bom, não estamos tentando ensinar ninguém, estamos tentando entreter e nos expressar. Tecnicamente isso é 'arte'. Uso isso livremente aqui, mas não o tipo de arte que você pendura na parede, se distancia e entra no quadro. É mais uma diversão de uma vez só. Igual quando você sai, fica bêbado e se diverte. Isso realmente enriqueceu sua vida? Não. Você não se divertiu fazendo isso? Sim.”

Ninguém age “normalmente” quando o assunto é pornografia, porque não sabemos como. Como pode existir um “normal” quando se trata de pornografia? Não pode haver um consenso de como nós, como cultura, nos sentimos sobre alguma coisa com que podemos nos identificar tão subjetivamente. A internet mudou não só a maneira como digerimos pornografia, mas também a maneira como ela é feita, quem pode fazê-la e onde ela acaba. Estamos cativados, intimidados, excitados e perplexos com a pornografia, tudo ao mesmo tempo, e é essa fascinação confusa que mantém Jesse Jane, Stoya, Kayden Kross e Keiran Lee empregados. É isso que faz idiotas bêbados em Las Vegas irem à Premiação AVN ano após ano, mesmo que não saibam respeitar isso. É isso que mantém pessoas como eu questionando constantemente o que isso significa e onde minha política e sexualidade entram nisso. Pornô está aí para ser assistido, para nos excitar e entreter. Quem dera fosse tão simples assim, mas não é. Isso continua sendo uma indústria gigante cujos tentáculos se estendem desde o navio da Disney no set de produções milionárias como Pirates, até vídeos amadores feitos com webcam produzidos independentemente em pequenos apartamentos pelos Estados Unidos. Não apenas o pornô, mas o sexo, fora de uma união monogâmica, são sobrecarregados com o estigma arcaico de que o prazer é vergonhoso. Prazer por dinheiro é ainda pior ou, como alguns podem argumentar, pode nem existir. O pornô desamarra o sexo da esperança de monogamia, o que aparentemente ainda é um problema para o mundo Ocidental.

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“Os stalkers que temos no pornô são mais loucos porque eles acham que já têm uma intimidade com você”, Jesse me diz. “Eles acham que estiveram com você e que vocês têm essa conexão. Eles acham que fizeram sexo com você e ficaram nus na sua frente. Tem gente que tenta apertar minha bunda, meu peito, que acha que pode fazer isso porque sou atriz pornô. Não, não me toque.”

Ela para por um minuto.

“Mas maioria das pessoas é muito respeitosa e só ficam nervosas, tremendo quando tiram uma foto com você. Eles dizem 'xis!'”. Seu rosto explode num sorriso, deixando escapar um pequeno ronco. “Quer dizer, quem diz 'xis'?”

Todas as fotos por Kate Brown.

@myszkaway

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