O Per Englund Gosta de Espiar Pessoas Dentro de Carros

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O Per Englund Gosta de Espiar Pessoas Dentro de Carros

Conversei rapidamente com o Per sobre a vida dessas pessoas que a gente não conhece e de quem nunca vamos saber nada, fora o fato de que um dia elas estiveram sentadas num banco de carro em Estocolmo.

O fotógrafo sueco Per Englund, que já fez algumas fotos pra VICE antes, lançou seu mais novo livro semana passada. Como eu sou o tipo de garota que gosta de ajudar um irmão, achei que seria legal contar pra vocês tudo a respeito. O livro se chama Passenger Seat e é essencialmente o resultado da época em que Per morou com sua namorada num pequeno flat com vista pra um semáforo. O casal passou boa parte de 2007 trabalhando com seus notebooks na cama, olhando pela janela as pessoas no banco de passageiros dos carros e fazendo fotos delas, que depois foram compiladas pra fazer esse livro.

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Conversei rapidamente com o Per sobre a vida dessas pessoas que a gente não conhece e de quem nunca vamos saber nada, fora o fato de que um dia elas estiveram sentadas num banco de carro em Estocolmo.

VICE: Então, Per, pelo texto do seu livro senti que você e sua namorada acabaram enjoando um do outro por morar naquele flat.
Per Englund: Não, na verdade não. Acho que não estávamos enjoados na época. Era um flat muito especial pra se morar, mas era muito apertado, então tentei encontrar maneiras alternativas de usar a área. Minha namorada também estava trabalhando como fotógrafa, então acabamos trabalhando muito em casa em vez de fazer as atividades de “tempo livre” que os casais geralmente fazem quando moram juntos.

Que tipo de atividades?
Bom, não tínhamos uma cozinha de verdade, por exemplo. Então aquela coisa de cozinhar junto que os casais normalmente fazem, não acontecia. A gente trabalhava ou via um filme juntos, e por isso me foquei nessa história do livro, porque eu queria explicar como essa série de fotografias surgiu nos dois anos em que moramos lá.

É muito tempo. Quantas fotos de pessoas dentro de carros você conseguiu tirar?
Acho que cerca de 500 fotos, e escolhi publicar 30 delas. Eu tirava fotos de um monte de coisas que aconteciam naquela rua durante esse tempo, mas quando percebi como minha coleção de fotos de carros era grande, decidi focar nelas. Fiquei meio maluco quando estávamos mudando de lá, passei o tempo inteiro olhando por aquela janela.

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Você capturou alguma coisa que não fosse apropriada pra publicar?
Não. Vi muita coisa, mas nada que destoasse muito, o que foi meio que uma surpresa, considerando que fiquei lá por dois anos. Quer dizer, você imagina que alguma coisa estranha vai acontecer durante esse tempo. Escolhi as fotos do livro numa tentativa de torná-lo o mais coerente possível. Eu ficava imaginando quem eram essas pessoas, onde elas estavam indo e a relação delas com as outras, então espero que isso tenha transparecido no livro.

Você sabe se algum fotografado viu você tirando essas fotos?
Na verdade, penso muito sobre isso. Dependendo da luz eu ficava bem visível. Sempre olho pra cima quando passo por ali pra ver se consigo ver alguém. Mas nunca consigo. Também duvido que as pessoas nos carros olhassem pra cima ou imaginassem que alguém poderia estar tirando fotos delas.

Você não se sentia meio esquisito?
Sim. Às vezes eu imagino o que as pessoas pensariam de mim se me vissem, e como eu me sentiria se visse alguém olhando pra mim enquanto estivesse num carro. Também costumo pensar se tinha alguém observando minhas observações. Talvez houvesse outra pessoa na janela do flat do outro lado da rua, olhando pra mim.

Talvez alguém lance outro livro em breve sobre você.
Isso seria muito interessante. Mas não sei. Também sinto que, onde quer que eu esteja, sempre vai ter alguém me observando. Mas você nunca sabe quem, ou por quê.

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Muitos livros de fotos são lançados todos os dias. O que torna o seu diferente?
Pra mim, livros de fotografia são um fórum natural. É uma maneira de terminar coisas, e penso nesse livro como um objeto de arte. As fotos são uma coisa, mas a questão não está inteiramente acabada até o livro estar terminado. É como o fim de alguma coisa. E esse livro também não é sobre as fotos individuais em si, é mais sobre a totalidade, a atmosfera e a maneira como apresentei a coisa toda. A comunicação entre as fotos e o layout do livro é que o torna interessante. Cada história é única do seu próprio jeito, e não fico vendo o trabalho de outras pessoas. As pessoas já fizeram coisas similares antes, obviamente, mas isso não importa pra mim.

No que você está trabalhando agora?
Sempre trabalho em séries diferentes. As fotos do Passenger Seat estão por aqui há algum tempo. Então não é como se eu estivesse trabalhando só nesse livro por todos esses anos. Estive trabalhando em um monte de outras coisas. Meu último livro foi lançado em 2009, então eu já tinha todas essas fotos guardadas. Eu sempre trabalho voltando no tempo e sempre me certifico de ter novos projetos em andamento. E preciso que eles cresçam por um tempo pra se tornarem interessantes. Não gosto de publicar coisas que sejam inteiramente novas. Preciso me distanciar por alguns anos. No momento, estou trabalhando muito com natureza morta, objetos, estações e noites.

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Então vou ter que esperar cinco anos pra ver o que você está fazendo agora?
Talvez. É assim que normalmente funciona.

Beleza, a gente espera então. Obrigada, Per!

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