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Sexo

Por que traí toda pessoa com que já namorei

Uma confissão.
A
Por Aniah
MS
Traduzido por Marina Schnoor
RF
Como contado a Ruth Faj
Foto: Chloe Orefice.

Texto originalmente publicado na VICE UK.

Infidelidade não é mais o que era. Como sexo antes do casamento e cirurgias estéticas invasivas, trair se tornou bastante normal, e as pessoas se identificam tanto com isso que há milhares de memes sobre o assunto. No Reino Unido, um em cada cinco adultos admite ter tido um caso, enquanto as mulheres norte-americanas estão traindo seus parceiros mais que nunca. No Brasil, metade dos homens afirma já ter traído sua companheira. Entre mulheres brasileiras, a porcentagem de traição é de 30%.

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Mas o que está levando a esse aumento dos casos de traição? Para se ter uma ideia , falamos com alguém num extremo dessa escala: Aniah, uma funcionária pública britânica de 25 anos que não é fiel a seus parceiros desde que seu primeiro namorado partiu seu coração quando tinha então de 16 anos de idade.


Tive meu primeiro namorado sério aos 16. Foi num verão depois de fazer meu GCSEs e quando eu estava empolgada com a vida; achava que era uma mulher crescida que agora tinha terminado a escola. Sou adulta, eu pensava. Nos conhecemos no Choice FM Junior Jam — o grande show para qualquer adolescente de Londres. Ficamos juntos por três anos. Eu estava dominada, obcecada, completamente apaixonada pelo menino. No último ano ficamos terminando e reatando; eu era muito devotada a ele, e tudo que recebia em troca era merda. Ele me xingava, me fez sentir pequena, indigna. Eu era dependente dele, e aí ele terminou comigo.

Foi um desastre, e foi na época do vestibular. Mas deu tudo certo; consegui entrar na universidade. Aí ele começou a me ligar de novo, dizendo que tinha errado e que ainda me amava. Como eu disse, a gente terminava e voltava. Mas quando digo que era fiel, eu era mesmo. Quando eu tinha 19 anos, ouvi rumores de que ele tinha outra garota, mas enquanto isso ele estava sendo doce comigo. Recebi trotes de uma garota me dizendo para deixar o namorado dela em paz, mas toda vez que eu perguntava, ele negava. Não havia provas. Ele terminou comigo de vez naquele ano. Foi emocionalmente devastador, especialmente quando comecei a ver fotos dele com a nova namorada no Facebook. A situação fodeu comigo, não vou mentir, então tomei a decisão de que seria eu quem ia foder com as outras pessoas.

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Gosto de estar no controle. Gosto de estar no banco do motorista. É muito empoderador, especialmente depois do que aconteceu no meu primeiro relacionamento e de como cresci. Meu avô é pastor, então meu irmãos e eu crescemos numa família muito severa. Sou a mais velha, então era ainda mais vigiada e não podia fazer nada. Mas assim que comecei a escapar e mentir para fazer o que eu queria sem arranjar problemas com meus pais, fui adiante. Sou uma ótima mentirosa. Acho que não é algo para se orgulhar, mas te digo que é um bom talento para se ter.

Considerando meu relacionamento com homens, minha necessidade de controle — eu diria — é o que torna tão fácil trair. Gosto de estar no controle dos relacionamentos, estar por cima das coisas, conduzir tudo, então consigo lidar com minhas expectativas e emoções. Não deixo isso nas mãos dos outros, porque a maioria dos homens não é digna de confiança, então tenho 100% do controle quando entro num relacionamento, sabendo que posso largar esse cara aqui e ter outro me esperando ali quando achar melhor. As coisas acontecem nos meus termos. Eu estava no controle da situação. Nunca mais vou ser uma garota obcecada por um homem de novo. Nunca.

"Nunca mais vou ser uma garota obcecada por um homem de novo. Nunca."

Já tive quatro relacionamentos sérios. Os namorados dois e três eram caras legais. Conheci o dois na universidade, no segundo ano. Antes do primeiro deles, eu estava fazendo o que queria. Vivendo intensamente, com muitas transas casuais, experimentando. Mas o conheci e me apaixonei, e isso me assustou. Eu conseguia sentir que estava me apaixonando, então comecei a ver coisas onde não havia. Comecei a me focar na falta de comunicação: se ele não respondia uma mensagem em certo tempo ou não me dizia onde estava indo com os amigos, eu usava isso como desculpa para trair, muitas e muitas vezes.

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Você sabe como é a vida no campus — todo mundo sabe da vida de todo mundo. Ele não acreditava nos rumores, mas terminou comigo mesmo assim, e acabei ficando com um dos caras com quem o traí. Isso durou uns seis meses, mas a universidade dele era em outra cidade. É muito mais fácil trair quando vocês não moram perto. Não precisa se esconder, não precisa mentir. OK, talvez mentir um pouco seja necessário, mas você entendeu o que quero dizer.

Acho que posso ter um pouco de fobia de compromisso. Em certo ponto de todo relacionamento tem esse sentimento 'Amo e me importo com essa pessoa de verdade', mas eu meio que entro em pânico e surto. Sinto minha determinação me escapa, as paredes que construí desmoronam, o controle que eu tinha se perde — mas o amor é assim: você não pode controlá-lo.

Então começo a conjecturar sentimentos de solidão e incompreensão. Às vezes o sexo está uma merda, ou não estou transando o suficiente. Essa desculpa não é inventada. Mas eu deveria falar com eles, certo? Ou terminar com eles. Não sei por que não faço isso; eu deveria perguntar para um terapeuta. Mas quando você fica muito apegada a alguém, quando você se acostuma com alguém, você espera que as coisas melhorem no futuro — mas esse não é realmente o caso.

Como com meu último cara: traí muito nos primeiros sete meses. Ele descobriu, mas continuamos juntos por mais três anos. Decidimos deixar isso para trás — apertar o reset —, mas ele não conseguiu. Foi besteira achar que poderia dar certo. Toda vez que a gente brigava ele jogava na minha cara que eu tinha traído, então eu traía mais. Não que ele soubesse. Aqueles três anos foram um desperdício nas nossas vidas.

Me sinto mal por ele ter descoberto. Isso o mudou, mudou nosso relacionamento: ele se tornou menos carinhoso — que era outra razão para trair. Não sou do tipo que trai com pessoas que o parceiro conhece, isso é sujeira. Imagine os amigos dele vindo jantar na sua casa e você já transou com dois deles antes. Isso é demais. Tenho regras para trair. Nada de família, amigos ou colegas. Nada nas redes sociais.

Tenho vergonha de admitir que traio — ou que traio tanto assim. Algumas pessoas vão dizer que sou uma diaba, mas se um dia me casar, vou parar. Sou uma pessoa muito sexual mas acho que um casamento têm que domar a pessoa. Tem uma santidade que vem com aqueles votos, especialmente quando você se casa num cenário religioso. Dito isso, acho casamento aberto uma abordagem interessante. Eu não descartaria essa possibilidade, não completamente. Mas fazer alguma coisa pelas costas do meu marido? Acho que eu não conseguiria. Trair é para quando você não tem um anel no dedo.

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