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Sexo

A estranha arte adolescente da masturbação com preservativo

Mas, porque é que o fazem?
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
rapaz com preservativo na cabeça
Foto via utilizador do Flickr  Ivan Hernández | CC BY 2.0.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

No meu liceu dizia-se que "era óptimo". Havia sempre alguém - algum iluminado, um avançado na matéria - que dizia que já tinha experimentado e que era todo um universo novo e maravilhoso, "é óptimo", garantia. Referia-se a bater uma com um preservativo posto.

Por estranho que pareça, isto faz-se, sempre se fez e vai continuar a fazer-se. Uma espécie de vínculo transversal que une todos os adolescentes de todas as épocas e lugares, essa ânsia de melhorar a experiência masturbatória. Estejas onde estiveres, em que altura da história estiveres, vai sempre haver alguém a masturbar-se com um preservativo ou com qualquer coisa estranha na pila.

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Putos que enfiam o pénis dentro de um "fato" de látex para mergulharem na busca imparável do prazer sexual, uma aventura sem limites que os impele a cometer as proezas mais estranhas e incríveis. É que a força que desprendem as ânsias masturbatórias de um adolescente é não só imparável como eterna, como a que levou Colombo a atravessar o Atlântico, ou Jesus Cristo a ressuscitar. Poucas coisas podem superar este desejo tão intenso.


Vê o primeiro episódio de "Slutever"


São conhecidas por muitos nomes e todos e cada um deles correspondem a uma tentativa de elevar a arte de bater uma a um estado superior: do inglês "rich man's wank" passamos à "punheta beta", "punheta de rei", "punheta plus", "punheta deluxe ou "punheta de ouro"; todos nomes que remetem a um certo aburguesamento do onanismo.

Claro que esta versão converte-se talvez na primeira experiência com um "brinquedo sexual" - ainda que não o seja per se - e isso implica uma certa melhoria do acto, um certo upgrade que fomenta, supostamente, o prazer. Ao mesmo tempo, há que ter em conta que uma punheta é grátis, pelo que, ter que comprar um preservativo de cada vez que alguém - ainda por cima tendo em conta que este "alguém" é um adolescente - se quer masturbar, constitui um gasto bastante importante, que pode levar à ruína.

Vejo-me na obrigação de concluir que se trata de uma tradição eminentemente masculina, apesar de não ter dúvidas que as mulheres também se devem masturbar com a pílula, preservativos femininos ou dispositivos intra-uterinos. A diferença é que, "bater uma com preservativo" é algo que se ouve pelos corredores das escolas, é uma lenda viva. Seja o que for que as miúdas façam com preservativos será menos conhecido, menos comentado e, provavelmente, menos generalizado. Há ainda outra questão, será uma coisa só de adolescentes, ou podemos também encontrar adultos que o façam? São tantas as perguntas, um leque infinito de dúvidas.

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O que é que se procura na punheta com preservativo? Em que é que melhora o acto, o que faz para o embelezar? Pode ser uma tentativa de aproximação ao acto sexual real, nem que seja um bocadinho? Bater uma, digamos, está a dois quilómetros de uma foda real; talvez, com preservativo, esses dois quilómetros pareçam só um quilómetro e meio, percebem o que quero dizer?

Todo o processo de sacar a cena do pacote, pôr o preservativo e ejacular lá dentro, alimenta a fantasia de estar a "viver" uma queca, de simular a pantomina que realizam também os seres que pinam de verdade, colocar-se numa cena enganosa, mas que aporta um prazer incomensurável. A fantasia do sexo, a curiosidade de saber que tacto têm os profilácticos, como se põem e como cheiram - esse odor que se aproxima tanto ao do sexo. É o desconhecimento, o não se ter nunca posto um preservativo, aquilo que chama a atenção, o que dispara as dúvidas e inicia a curiosidade. É por isso que é um campo de batalha exclusivamente adolescente - na maioria dos casos -, esse sector da população que ainda não normalizou a presença dos preservativo na sua vida e na sua carteira.

Ao questionar conhecidos e desconhecidos do meu Facebook, descobri vários motivos pelos quais as pessoas podem ter decidido masturbar-se com preservativo. Um deles era a tentativa de arranjar uma forma higiénica de controlar e armazenar o esperma. Chamam-lhe "punheta beta", porque não tens que te preocupar com nada, não existe a possibilidade de sujar nada, pretendendo dizer que o processo de limpar com um lenço ou papel higiénico é coisa de pobre, de classe baixa. O masturbador rico vem-se e não tem que se preocupar com absolutamente nada. Desconheço se, neste aspecto, a coisa seja de facto assim tão eficaz porque, sim, acumula-se o esperma (como num acto sexual), mas não é como se isso significasse que ficas com o membro imaculado e asseado.

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Imagino miúdos solitários, fechados entre as quatro paredes do seu quarto a quererem evitar que salpique um pouco de esperma e que um familiar possa descobrir que se masturbam. Ou, talvez sejam o companheiro perfeito para masturbação de Verão, essa em que não te podes permitir ser tão escandaloso e precisas de um aparelho que aporte uma possibilidade e uma perícia excepcional para não seres descoberto.

Outro dos motivos pelos quais a malta bate uma "punheta beta" tem a ver com uma espécie de ritual de iniciação entre amigos, essa porta que há que atravessar para amadurecer ou entrar e formar parte de um grupo restrito de indivíduos, ou para consolidar uma grande amizade que se pretende quase eterna.

Muitos usam-no como um teste para quando chegue a acção real, o sexo verdadeiro. Ensaiar antes de te encontrares na situação é uma iniciativa muito inteligente, ainda que doentia. Trata-se de lhe apanhar o jeito, experimentar a posologia, a extracção sem derrame e como fazer "o nó". Sim, praticar o cabrão do nó é importante. Tudo para não ficar mal à frente da outra pessoa que acabou de te tirar a virgindade. É um apalpar-terreno, para não estragar tudo, para não se passar por alguém que nunca pôs um preservativo para pinar, apesar de ser a realidade.

As pessoas fazem-no para dar uso a um produto deteriorável, que não cumpriu a missão para que foi encomendada. Imaginemos a situação. Aos 18 anos compras uma caixa de 12 preservativos a pensar que os vais usar com essa miúda com quem achas que há "qualquer coisa". Qualquer coisa que não existe, evidentemente. Durante a viagem não conheces absolutamente nada e, ao regressar a casa, desfazes a mochila e encontras a caixa intacta, com o plástico e tudo, a representação física do teu fracasso, dos teus sonhos destroçados. Essa caixa.

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Doze preservativos. Oito euros e vinte-cinco cêntimos. Esse pacote contém as tuas lágrimas - muitas mais do que 12. Então, que uso vais dar a esses 12 gorrinhos de látex? Esperar por outra oportunidade que, certamente, não vai chegar nunca? Esperar que caduquem? Não, vais-te masturbar com eles postos, é isso o que vais fazer. Será quase como fazer amor com a tal miúda da viagem a Berlim. Quase a mesma coisa. Vais fechar o circulo para que foram criados esses preservativos.

Podia também ser uma tentativa para alargar a duração da punheta, pondo barreiras para conseguir ganhar minutos. Talvez seis preservativos postos uns em cima dos outros alcançariam essa tão desejada punheta de hora e meia.

No fundo, a punheta com preservativo é incómoda. São mais fascinante a lenda e as fantasias e histórias que se geram ao seu redor que o acto em si, como qualquer coisa que envolva um pouco de sexo. Ao que consta, o látex sobe e desce, entra ar e, afinal, parece que tens um balão com defeito de fabrico posto em cima da tua pila. Apesar de que, suponho, quem o pratica muito acaba por desenvolver uma mestria surpreendente, ainda que não seja grande conquista ser o melhor nisto das "punhetas deluxe".

Porque é isto, a humilhação de que te possam apanhar a fazê-lo é descomunal, ninguém quer ser encontrado nestas condições. Caso aconteça, a partir desse momento vão começar a chamar-te o "fode preservativos". Imagina, serias um pervertido. Do luxo invejável da "punheta de beto," ao insulto e conotação de "fode preservativos". Toda a viagem do herói.

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Mas, apesar de ser inútil e incómodo, continua a fazer-se. Os homens continuam a cometer uma e outra vez o mesmo erro. Desde os preservativos "de glande" feitos com papel de seda ou intestinos de cordeiro que se usavam na Ásia no século XV; ou aqueles feitos com carapaça de tartaruga ou corno de animais no Japão durante o mesmo século; ou os aparelhos descritos pelo italiano Gabriele Falloppio no século XVI feitos com linho empapado numa solução química que se deixavam secar antes de usar; ou os preservativos feitos com bexiga, do Renascimento; ou os de couro fino dos comerciantes holandeses durante essa mesma época; ou dos preservativos de borracha disponíveis a partir de 1855, aos de látex que se começaram a produzir em 1920, durante todos esses momentos sempre houve putos a bater uma com eles postos.

No es placentero, tampoco es del todo útil, pero se hace y se seguirá haciendo, incluso cuando ya no haya motivos para seguir utilizando y fabricando condones. Porque siempre existirá ese anhelo de convertir una paja en una muy buena paja.

Não é prazeroso, nem é de todo útil, mas faz-se e continuar-se-á a fazer, mesmo quando não haja motivos para continuar a usar e a fabricar preservativos. Porque vai sempre existir esse desejo de converter uma punheta numa muito boa punheta.


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