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“O Cartel” É a Maior Gangue de Traficantes de Drogas da Grã-Bretanha

Graham Johnson acabou de escrever um novo livro – The Cartel – explorando os bastidores das perversidades realizadas pelo Cartel, a maior gangue de traficantes de droga do Reino Unido.
Simon Childs
London, GB

Uma dezena de membros condenados do Cartel.

O contribuidor ocasional da VICE Graham Johnson acabou de escrever um novo livro – The Cartel – explorando os bastidores das perversidades realizadas pelo Cartel, a maior gangue de traficantes de drogas do Reino Unido. Claro, “O Cartel” não é exatamente o nome mais original pra uma gangue de traficantes, o que é meio decepcionante, mas acho que nomes não importam muito quando você controla o comércio de drogas na Europa.

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Conversei com o Graham sobre O Cartel, capitalistas do desastre e o futuro das gangues de drogas.

VICE: Oi, Graham. Quão grande é a maior gangue de traficantes de drogas da Grã-Bretanha?
Graham Johnson: Os policiais com que falei dizem que essa é uma corporação global com centenas, talvez milhares, de empregados numa rígida hierarquia. Essa gangue faz milhões, possivelmente bilhões de libras se você considerar os valores dos negócios que eles possuem e das drogas que comercializam. O Cartel foi fundado em 1973 e continua forte depois de 40 anos.

Onde ele se baseia?
Tudo começou em Liverpool e isso continua sendo controlado principalmente a partir de Liverpool, mas tem braços em Amsterdã, Espanha, Portugal, Turquia e América do Sul. Entrevistei a polícia de Amsterdã e a primeira coisa que me disseram é que já investigaram todo mundo — os Tríades, gangues do Leste Europeu e as máfias italiana e russa —, mas eles ficam bolados quando você menciona os scousers (como são conhecidos aqueles que falam o dialeto de Liverpool), porque eles lidam com esses caras constantemente.

E como eles vêm agindo por tanto tempo sem nenhum grande golpe pra organização?
Bom, partes dela já foram fechadas, mas eles sempre as reabrem. As pessoas no comando são excelentes "capitalistas do desastre", então sempre que há uma recessão ou um grande choque na economia normal, eles lucram. Eles começaram importando grandes quantidades de cannabis nos anos 70 — tentando passar do mercado underground de estudantes e hippies ao mercado mainstream —, daí logo começaram a importar heroína. A recessão do começo dos anos 80 fez a economia entrar em colapso, especialmente no norte, e isso fez o mercado negro prosperar.

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A crise econômica mais recente afetou o mercado de drogas novamente?
Bom, foi por isso que escrevi esse livro. Há uma grande mudança estrutural no crime organizado toda vez que há uma recessão, o que sempre leva a 30 ou 40 anos de problemas. Em 40 anos, quando houver espaçonaves contrabandeando drogas pra Lua, alguns comportamentos serão resultado direto do que está acontecendo na economia de hoje. Particularmente o desemprego dos jovens, porque se alguém te oferece £100 por dia pra passar drogas em algum lugar em Birmingham ou Nottingham, você aceita o salário.

Garotos de gangue em Liverpool, de um projeto anterior sobre as gangues de Merseyside de Stuart Griffths. 

Você acha que os jovens desempregados de hoje que estão sendo sugados pra esse mundo vão ser os futuros chefões?
Definitivamente. Entrevistei pessoas pro meu livro que foram de traficantes de esquina até cargos de gerente sênior nesses cartéis. É uma carreira. Você começa vendendo erva com a sua bicicleta quando tem 14 anos. Aí consegue uma arma de fogo e atira em algumas pessoas, pixa algumas casas e invade algumas outras pra alguém por uns mil pilas. Aí você consegue um emprego como distribuidor. Depois consegue um emprego em Amsterdã embalando drogas. E depois já é um gerente sênior.

Há espaço pra uma maior globalização no comércio de drogas?
Sim. Fui ver o embaixador mexicano em Londres e ele disse que o Cartel se aliou a gangues do México, então você tem um grande coquetel que pode ser o futuro do comércio de drogas. O mercado de cocaína da Grã-Bretanha não está nem perto do ponto de saturação, então as gangues mexicanas veem a Europa como um grande mercado em potencial, o que significa que as próximas gerações vão ter cocaína mais barata e de melhor qualidade.

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Existe um esforço policial coordenado através das fronteiras?
Sim, e isso é uma coisa única na polícia de Merseyside; é a única força policial fora da polícia metropolitana com capacidade “nível três”. Esse termo significa que eles estão equipados pra conduzir operações internacionais.

Você acha que os esforços pra derrubar essas gangues vão funcionar?
Não. Você só destrói algo assim se a demanda acabar. Quando as pessoas pararem de cheirar cocaína ou de tomar mefedrona, ou o que quer que elas usem no final de semana, aí o Cartel vai entrar em colapso ou investir em outra forma de crime organizado. Não é uma questão de policiamento, é uma questão econômica. O crime organizado é uma função da injustiça na sociedade. Não tem nada a ver com ouvir rap, ou mães e pais solteiros, ou o que quer que as pessoas queiram culpar por isso. Tem a ver com pobreza e impotência, porque todos esses cartéis são comandados por pessoas que não tiveram acesso a oportunidades na economia em que eu e você trabalhamos.

Graham Johnson.

Você não fica com medo por ter exposto esses membros do crime organizado? De ser assassinado ou algo assim?
Sim, recebi todas as ameaças típicas — a polícia vindo me dizer que havia alguém atrás de mim, esse tipo de coisa —, mas isso está acabando agora. Fogo de palha.

Então costumam ser ameaças vazias?
A maioria são, mas recebi duas sérias. Escrevi dois outros livros antes, Powder Wars e Drug Lord, que expuseram alguns traficantes de drogas que tinham comprado indultos do departamento de segurança do Reino Unido e conseguiram sair da cadeia. Eles foram acusados de perversão da justiça e levados a julgamento, então tive que ir ao tribunal mostrar as provas e, durante o processo, fiquei sabendo que um desses traficantes tinha colocado minha cabeça a prêmio.

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Conheci um dos capangas deles um pouco depois num Pizza Express, e a primeira coisa que ele me disse foi: “Pensei em matar você duas vezes”. Durante o julgamento, o chefe dele tinha dito: “Temos que despachar esse cara, ele não pode mais ficar escrevendo essas coisas”, felizmente o cara trocou de lado e veio me contar essa história. A gente é amigo agora.

Ah, que legal. Você está preparando uma sequência pra esse livro também, certo?
Sim, The Cartel 2 sai ano que vem e vai explicar a troca de poder que está acontecendo atualmente. Quem tem o poder agora são os ratos de rua — os chamados de "creatures" ["criaturas"] —, e eles estão armados até os dentes. Eles vão até os velhos chefões e dizem: “Não ligo pra sua reputação. Se você não nos der essas drogas nem deixar a gente entrar no Cartel, vamos jogar uma granada pela porta da frente e explodir sua casa.” Assim a hierarquia está ficando mais plana e são as gangues de rua que têm poder de verdade, porque os mais velhos têm medo de encará-los.

Onde eles conseguem todas essas armas?
Muitas granadas e explosivos vêm em contêineres da China, África e América do Sul. Um traficante pode enfiar 1000 quilos de cocaína num contêiner e ainda vai sobrar espaço, então ele adiciona 300 granadas. Você pode conseguir granadas de soldados e ex-soldados também. O exército britânico é basicamente formado por moleques de lugares pobres de Liverpool, Manchester, Glasgow, Newcastle — todos os buracos da Grã-Bretanha.

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Eles se juntam ao exército e não ganham quase nada, então quando vêm pra casa e veem todos os seus amigos — que estão traficando —, eles acabam oferecendo uma bomba de flash ou algo assim pra eles, aí os traficantes dizem: “Da próxima vez que você for à loja, pode arrumar uma SA80 pra gente?” É assim que funciona.

Interessado em mais scousers vendendo drogas e explodindo casas? Compre The Cartel aqui.

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