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Sexo

Como tirar o máximo partido do sexo quando és mulher e tens 20 anos

Diz-se que o sexo só é realmente bom quando as mulheres chegam aos 40, mas, na verdade, não tem de ser assim.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE UK.

Se uma terapeuta sexual excêntrica me pedisse para me sentar e desenhar a minha vida sexual até agora, ia sair uma coisa parecida com os desenhos de infância de um assassino em série. Haveria, seguramente, alguma coisa de vermelho sangue por todas as relações que chegaram a durar um ano, gatafunhos a caneta por todas aquelas pessoas com quem fui para a cama até me deixarem de falar e salpicos violentos de tinta por todos os encontros de uma noite com amigos, colegas e gente que conheci em filas de casa-de-banho. No final, encharcava tudo em líquido inflamável e largava-lhe fogo.

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Alguém pode culpar-nos por termos vidas sexuais tão conturbadas? Combina a proliferação de apps de encontros, com uma forte rejeição em amadurecer e a deixar para trás uma mentalidade de adolescente perturbada e não será surpresa deparares-te com uma geração de mulheres jovens cujas vidas se parecem mais com a de Fleabag do que com a de Kate Middleton. O que, por outro lado, estaria perfeitamente bem, não fora dar-se o caso de o desfrute do sexo estar tão inclinado para os homens. Com tantos adolescentes que afirmam que "aprendem" a pinar através do porno, não é surpresa que muitas mulheres heterossexuais digam que, durante o sexo, não sentem qualquer tipo de prazer.

A crença aceite é a de que, para as mulheres heterossexuais, o sexo é bastante fraco até chegarem aos 40 quando, de repente, cada encontro sexual que tens acaba em orgasmo. Mas isso é, claramente, um crime de discriminação por motivos de idade. Não há nenhuma razão para que as mulheres nos seus vintes não sejam capazes de poder fazer o mesmo. Portanto, trago-vos os testemunhos de alguns especialistas que estão de acordo comigo e que vos deixam alguns conselhos úteis.

ESQUECE TUDO O QUE PENSAVAS QUE SABIAS

Bem, não tudo tudo. Se o oito que desenhas com a língua funciona, continua a fazê-lo. Mas, os especialistas confirmam: há tantas expectativas em relação ao sexo que pode chegar a ser esmagador. Denise Knowles, terapeuta sexual da organização de beneficência Relate, explica que, a melhor maneira de resumir as dificuldades sexuais dos seus clientes é "ansiedade cénica". Por outras palavras, entrar em pânico, com medo de não fazer as coisas bem feitas.

A origem disto pode ter a ver com a preocupação em se sabes ou não o que estás a fazer, em problemas relacionados com a imagem corporal, em experiências passadas complicadas, ou em assuntos emocionais. Basicamente, em qualquer coisa que te impeça de relaxares. "Vemos um monte de imagens sexuais nos meios de comunicação e parece que há uma determinada maneira de comportamento. Se as mulheres acreditam que deveriam fazer certas coisas e essas coisas são contrárias à forma como elas se entendem a elas próprias, ou à forma como querem praticar sexo, como é que podem desfrutar?", questiona Knowles.

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DEIXA DE TE PREOCUPAR COM O TEU ORGASMO

Uma grande parte da ansiedade cénica, de acordo com Denise, está dependente de como ou se temos um orgasmo. E isto não mudou desde que começou a sua carreira de terapeuta sexual há 25 anos. O que acontece é que, nesta era pós Sex and the City, as mulheres falam mais sobre o assunto.

"Há mulheres que dizem que nunca tiveram um", salienta. E acrescenta: "Quando explico o que é, dizem, 'Ah, então se calhar é possível…'. As pessoas pensam que é tipo aquele momento de When Harry Met Sally, ou que a terra abane. Ajudo a que entendam o que se passa psicologicamente durante orgasmo, para que entendam que alguns orgasmos são de magnitude 1 na escala de Richter e que outros podem ser de magnitude 8. E se te pressionas para alcançares o oito, podes estar, na verdade, a impedir que chegues a esse ponto".

MAS, SE ESTÁS PREOCUPADA, TENTA PRIMEIRO POR TUA CONTA

Foto cortesIa Sh!

"A pergunta mais comum que as pessoas nos fazem é 'nunca tive um orgasmo, tenho algum problema?'", afirma Renée, que trabalhou na sex shop para mulheres Sh!, em Londres, durante 10 anos. "As mulheres colocam muita pressão em cima delas próprias e, por vezes, os seus parceiros também o fazem, o que acaba por levar a que finjam. E isso é como uma bola de neve, cada vez maior… depois, alguns anos mais tarde, acabas por perceber que, na verdade, não estás bem assim".

Renée explica que atingir o orgasmo é uma questão de prática e de afinar a voz na tua cabeça que diz "estás a demorar muito", ou "amiga, não vai acontecer". é mais ou menos como a meditação, na realidade, e fazê-lo sozinha é importante, porque, com um companheiro, acaba por transformar-se numa questão de esforço. "Eu começaria com lubrificante e com os dedos primeiro e, depois, um pequeno vibrador", sugere.

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No final, podes dizer ao teu companheiro que andaste este tempo todo a fingir. Mas tenta resolver as coisas por ti própria primeiro.

USA O PORNO A TEU FAVOR, SE É A ISSO QUE VAIS RECORRER

É assim: para a masturbação, o porno pode ser o equivalente a comida para microondas. No entanto, só porque por vezes somos um pouco básicos, não significa que não gostemos de uma refeição num restaurante de luxo se alguém te faz a proposta. Da mesma forma, o porno pode-nos ajudar a valorizar o sexo real, diz Louisa Knight, submissa profissional e acompanhante em Londres. "A expectativa da frequência, a ideia errada de que estás no teu apogeu sexual, ou pelo menos próxima e a sensação de que o teu corpo deveria ter determinado aspecto…não creio que isso venha, essencialmente, da pornografia", salienta Louisa. E acrescenta: "Vês uma série de corpos no porno que não vês nos meios de comunicação femininos".

Há porno de tantos tipos, diz, que podes quase sempre encontrar o que queiras. Este facto deveria verter alguma luz sobre o que andamos a perder, mais do que fazer-nos sentir que fazemos as coisas mal feitas. "é como o Pinterest dos trabalhadores sexuais. Se os clientes me procuram e não sabem o que querem, recomendo-lhes que vejam pornografia. Descobre o que te excita e o que não e, depois, volta", explica Louisa.

O SEXO EM GRUPO E AS FESTAS SEXUAIS PODEM SER UMA BOA IDEIA

Estás aborrecida com a tua vida sexual aos 25 anos? Porque é que não experimentas o sexo em grupo? "Se vais usar apps, espreita a FEELD, anteriormente conhecida como Thrinder", recomenda Louisa, que pratica bastante sexo em grupo, tanto na sua vida profissional, como a nível pessoal. De resto, quando falámos, estava a organizar uma festa sexual para 20 pessoas nessa noite no seu apartamento. Pergunto-lhe se uma festa sexual não é apenas diversão organizada. "Em alguns aspectos… mas toda a gente acredita no mito do encontro sexual em grupo sem negociações. Nada acontece assim tão de imediato como as pessoas querem, no entanto. De qualquer forma, muitas vezes encontras alguém e, depois de alguma comunicação, passas ao sexo".

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Tendo estado em dezenas de festas sexuais, Louisa explica que um dos maiores benefícios de ver outras pessoas a praticar sexo é que "vais ver gente com corpos diferentes, identidades de género e sexualidade diferentes a foder, o que fará com que relaxes um pouco em relação aos teus complexos, porque te dás conta de que as pessoas têm sexo de muitas formas". Pode ser que conheças casais com outros modelos de relação (não monogâmica, por exemplo) e isso pode fazer-te pensar sobre o que te interessa a ti. "Para além disso, desde logo, está o facto de que qaundo vejas que outras pessoas desejam o teu companheiro, isso te lembre porque é que te atrai a ti. E, se quiserem, podem vocês praticar sexo um com o outro enquanto vêem as outras pessoas", sublinha Louisa.

Se não sabes por onde começar, pergunta ao Google. E lembra-te, se vais não és obrigada a praticar sexo.

A SIMPLICIDADE TAMBÉM É BOA

Se a ideia de ver uma mostra representativa da sociedade a praticar sexo em grupo não te convence, não sofras. Dar vida à tua relação aborrecida, ou à tua falta de relação, pode ser muito simples (e barato). "Em relação a coisas como o sexo mais bruto, há muita gente que se sente intimidada pela necessidade de acessórios, ou 'objectos'", considera Louisa. E acrescenta: "na verdade, há muitas formas de praticar sexo mais bruto, porque o BDSM consiste numa dinâmica de poder. podes fazer coisas como a simulação de lutas, ou criar regras estúpidas para mostrar que o poder muda de mãos, sem que isso implique, necessariamente, um 'contrato' de escravo. Faz com que um companheiro seja submisso e te obedeça, que te massaje, ou se não o fizer, por exemplo, tiras-lhe o telemóvel".

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A Sh! vende um monte de brinquedos sexuais para fetiches, de todas as formas e tamanhos, como plugs anais, ou vibradores com duas extremidades, no entanto, para Renée, há um produto básico que recomenda a qualquer uma: um frasco de lubrificante, que custa cinco euros. "Se só podes comprar uma coisa numa sex shop em toda a tua vida, então escolhe o lubrificante", diz ela com entusiasmo. E acrescenta: "Há uma ideia de que as mulheres se devem humedecer por sua conta, mas há muitas razões que podem levar a que mulher fique um pouco seca: pode ser desidratação, efeitos de medicação, ou razões hormonais. O lubrificante marca a diferença. É muito simples, mas gostava que mais mulheres o soubessem".

A COMUNICAÇÃO É ESSENCIAL

Foto: Digboston, vIa

"Enquanto cultura, estamos tão obcecados com a ideia de que o bom sexo acontece sigilosa e imediatamente e que podemos ler a mente do outro e saber instintivamente o que quer", explica Louisa. E adianta: "Depois pensamos que, se não o conseguimos fazer, é porque não somos sexualmente compatíveis. Não é assim que as coisas funcionam".

A profissional dá um exemplo simples de uma vez que conheceu um casal através de uma aplicação online dedicada a trios. Começaram a pinar e, imediatamente, ficou claro que ela queria um "trio mais porcalhão e javardo" e que o casal só queria alguém com quem comer morangos com chocolate e ouvir Bruno Mars. A moral da história é: uma boa comunicação logo de início pode colocar em perspectiva as expectativas de todos.

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Pedimos a homens para desenhar vaginas

Renée concorda. Dá como exemplo, um casal que esteja junto há muitos anos e que sinta que a sua vida sexual está a diminuir e recomenda: "Vão a uma sex shop para mulheres. Explorem juntos, riam-se. Talvez encontrem algo singelo, como um frasco de lubrificante, ou um anel para o pénis que nunca experimentaram. E nem é preciso que seja assim, compra um livro e encontra uma posição diferente. Quando começas um relacionamento com alguém, tens energias renovadas para a relação e com o passar do tempo, a vida assume o controlo e há muitos casais que ficam bloqueados. Saíam há noite só os dois… falem".

ACEITA QUE NÃO HÁ VAGINAS "NORMAIS"

conheces o velho conselho: agarra num espelho de mão e olha fixamente os olhos da besta. Soa a brincadeira, mas, de acordo com os especialistas, sentires-te cómoda em relação à tua vagina, ajuda-te a caminhar de encontro à luz sexual ( e a desfrutar de que te façam sexo oral). Em relação a isto, Renée sugere uma visita ao site The Great Wall of Vagina, um compêndio de 400 imagens, feitas em gesso pelo artistas Jamie McCartney.

"Tivemos parte da colecção em exposição na loja e todas as mulheres que entravam diziam, "não posso acreditar que sejam tão diferentes!", conta Renée. E acrescenta: "Temos a ideia de que as vaginas deveriam ter todas o mesmo aspecto, mas não. Quando vês isto, dás-te conta de que os teus lábios não são estranhos, são apenas únicos".

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LEMBRA-TE: É SUPOSTO QUE O SEXO SEJA DIVERTIDO, MAS ISSO NÃO É UM PRÉ-REQUISITO PARA A DIVERSÃO

No geral, diz Louisa, deveríamos lembrar-nos sempre em primeiro lugar porque é que queremos praticar sexo. A especialistas compara o sexo de hoje em dia, com o exercício, ou com o comer saudável e explica que vivemos numa época em que há muitas opções e mitos em redor destes temas, para além de uma pressão social para que sejam abordados.

Isto pode, rapidamente, fazer com que algo que supostamente seria divertido, em algo que basicamente serve para te massacrares. "Nem sequer toda a gente quer fazer sexo. Há muita gente que não o faz e, para essas pessoas, é perfeito. Temos de deixar de pensar que para tudo há uma forma correcta e que as outras estão mal", conclui.


@MillyAbraham

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