Os Romenos Continuam Não Querendo que Mineradoras de Ouro Explodam as Montanhas do País

Fotos por Mircea Topoleanu, Cristian Munteanu e Radu Ciocan.

Desde o começo do mês, dezenas de milhares de romenos têm protestado regularmente contra os planos de destruição de cinco montanhas do país. A região transilvaniana de Roșia Montană, onde as montanhas estão, é rica em ouro e prata, o que, infelizmente, significa que as pessoas que ganham grana com metais precioso querem botar a região toda abaixo, destruindo o primeiro assentamento humano documentado no país (que data de 131 a.C.) e mais de 6 quilômetros de galerias subterrâneas romanas no processo.

Na verdade, plano original de obliterar as montanhas foi concebido há mais de 15 anos, mas foi só em agosto que o governo romeno aprovou uma lei que favorece a companhia mineradora canadense Roșia Montană Gold Corporation (RMGC) — também conhecida por histórias escabrosas de tráfico de cadáveres — e permite que ela use cianeto para extrair 314 toneladas de ouro e 1.500 toneladas de prata embaixo das montanhas.

A votação da questão no Parlamento do país está marcada para 17 de setembro (hoje) e, se a proposta for mesmo aprovada, a operação deve começar em 2016, demolindo três vilarejos que estão no caminho. Se a perspectiva de gente muito rica fazendo um extra com a expropriação de centenas de famílias e o uso de químicos altamente venenosos já não fosse deprimente o suficiente, os romenos como um todo não vão se beneficiar muito com o acordo.

Tal como está, o projeto vai criar 200 empregos para os moradores locais, o país só receberá 6% do valor do ouro e da prata extraídos e os químicos usados para a extração do ouro vão gerar 214 milhões de metros cúbicos de lixo tóxico.

Bom, talvez por isso essa questão venha enfrentado uma oposição tão avassaladora do público romeno. Cerca de dois mil manifestantes têm se encontrado diariamente na Regina Elisabeta, uma das principais avenidas comerciais de Bucareste, para protestar contra os planos da RMCG. Os protestos têm atingido picos nos finais de semanas, com mais de oito mil pessoas se reunindo na capital no sábado retrasado. Os manifestantes também têm reunido apoio de ambientalistas de todo o mundo: da Alemanha a Londres, da Moldávia a Turquia.

O décimo dia de protesto contou com mais de 15 mil manifestantes em Bucareste.

Mas mesmo apesar da severidade da situação, os protestos têm sido as ações públicas mais pacíficas de que já participei. Os momentos mais caóticos acontecem quando os manifestantes usam suas garrafas plásticas cheias de moedas e pedregulhos para bater no asfalto, acompanhando aqueles que tocam bongôs ou batem panelas. E teve a vez em que um quarteto de cordas apareceu para serenar a multidão, o que é muito estranho comparado com as imagens de outros protestos pelo mundo que tenho visto durante o ano.

Os primeiros dias de protesto foram praticamente ignorados pela grande mídia romena, o que não foi particularmente uma surpresa, já que a RMCG tem comerciais veiculados na maioria das estações de TV locais. Todos que decidiram cobrir as manifestações as descartaram rapidamente, rotulando todos os participantes como “hipsters” — provavelmente uma tentativa equivocada de mostrar que estão em contato com o público jovem ou uma confusão embaraçosa com a palavra hippie.

De forma extraordinária, na frente política, muitos membros do parlamento começaram a mudar de ideia desde que a oposição se fez ouvir. O presidente Traian Băsescu, um dos principais defensores do projeto, agora alega neutralidade, e o primeiro-ministro Victor Ponta — o homem que aprovou os planos em primeiro lugar — disse que votará contra o projeto como membro do parlamento. Mas como, logo depois de vencer as eleições no ano passado, ele prometeu que não daria autorização ao projeto, então, talvez seja melhor considerar as palavras dele com cautela.

Apesar do que os líderes do país dizem, as manifestações continuam se fortalecendo e os ânimos estão exaltados. No momento, todos esperam que as montanhas romenas permaneçam intactas por muito mais tempo do que a RMCG gostaria.

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