Por dentro de um final de semana de swing nas Cataratas do Niágara

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Sexo

Por dentro de um final de semana de swing nas Cataratas do Niágara

A VICE teve acesso exclusivo à decima edição da festa para swingers no Canadá.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Canadá .

Estou sentada no "calabouço" de um hotel em Niagara Falls, Canadá. Na verdade, é só uma sala de conferências genérica, com paredes cinzas e beges, mas ninguém aqui está pensando no cenário agora.

Na minha frente, uma mulher com um moicano turquesa chamada QueenEh está chicoteando seu sub — um homem vendado amarrado num cano de strip-tease — com um chicote de couro vermelho. A pele dele fica vermelha e depois incha com cada chicotada. Diretamente à minha esquerda, Lindsey*, uma loira com uma tiara na cabeça, está de joelhos fazendo um boquete em seu parceiro; seus braços e mãos estão amarrados atrás das costas com uma corda rosa. No fundo da sala, estão espirrando mouse de cabelo em partes do corpo de uma mulher deitada numa mesa e depois colocando fogo. À minha direita tem uma mulher suspensa no ar por um harness vermelho.

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"É isso que eu chamo de swing", sussurra um espectador.

QueenEh. Todas as fotos por Melissa Renwick.

O hotel, genérico em todas as coisas, foi transformado num antro de hedonismo para o Niagara Falls Lifestyles Convention, um evento do Dia dos Namorados para swingers que já está em sua décima edição. O evento é organizado por uma empresa chamada TABOTA, que também comanda o The O Zone Swingers Club em Toronto, e este ano atraiu 400 pessoas.

Entrando no lugar, vemos imediatamente todas as coisas kitsch que era de se esperar nesta ocasião: rosas artificiais, corações de renda, camisinhas, esponjas menstruais e doces em formato de coração pontilham os corredores. Para evitar que pessoas de fora fiquem sabendo o que acontece aqui, as portas de entrada foram cobertas com papel. Mas eu e minha fotógrafa — as duas virgens no "estilo de vida", como dizem os swingers — ganhamos acesso total para documentar os trabalhos do final de semana. Como parte do acordo, não podemos identificar em qual hotel o evento acontece.

Chegamos e vamos para o salão da piscina, que tem uma vibe bastante inclusiva — tem um bufê, um bar e até um professor de salsa — só que algumas pessoas estão peladas. Os trajes variam de camisas havaianas e vestidos de verão a macacões arrastão e roupas de vinil preto.

O primeiro casal com quem falamos, Kevin, 49 anos, e Morgan, 50, fazem swing há décadas; eles nos levam para o quarto deles para dar uma perspectiva histórica e nos dizer o que esperar. As regras não mudaram muito com os anos, como eles dizem. Primeiro: não significa não, peça antes de tocar e pratique sexo seguro.

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"Tem muita gente que chega no clube achando que é só transar", diz Morgan, que tem cabelo loiro claro até os ombros e se recosta na cabeceira da cama vestindo um biquíni. "Mas ss pessoas precisam fazer conexões."

"Não significa não, peça antes de tocar e pratique sexo seguro."

O casal está comemorando 14 anos de união, e diz que só começou a fazer swing depois de um ano e meio namorando. Morgan, que é bissexual, diz que as coisas não deram certo com seu ex porque eles não tinham uma relação boa para começo de conversa.

"Gostávamos de brincar separados", ela diz, apontando que antes de se juntar a esse estilo de vida, seu marido a traía.

"Muitos casais pensam 'Ah, vamos tentar swing, isso vai concertar nossos problemas' e não vai, só vai piorá-los", acrescenta Kevin, usando uma camiseta com letras viradas de lado que diz "Se virar a cabeça para ler minha camiseta, você me deve um boquete".

Lindsey amarrada.

O casal sempre "brinca" juntos, muitas vezes procurando por outros casais, o que na verdade parece complicado.

"Buscamos uma química entre todos os quatro."

Eles dizem que não sentem pressão para se envolver com alguém aqui; eles vieram relaxar, e se acabarem "brincando" com outros, será um bônus. Dito isso, os dois estão mais que dispostos a transar.

"Você quer saber com quantas pessoas já transei? Não tenho ideia", diz Morgan. "Se transei com o marido, transei com a esposa também. Centenas."

Com isso em mente, vamos para a piscina para o concurso de camiseta molhada, ao estilo swing.

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"Vamos ver alguns peitos balançando!", grita um cara atrás de mim, que logo é atendido.

A coisa começa com 15 moças de regata branca e 10 caras de cueca boxer preta (o que não parece justo), que, depois de serem molhados com um canhão de água, giram, fazem strip-tease e se esfregam nas escadas da piscina. Um cara começa a fazer flexões, encostando o pau no chão toda vez que desce.

Eles são peneirados para cinco casais baseados na reação da plateia, aí o apresentador pergunta "Vocês já ouviram falar em sundae humano? Parece uma delícia".

As mulheres deitam no chão enquanto os parceiros cobrem seus corpos com sorvete e coberturas de sundae. O cara das flexões joga chantili na vagina da parceira e parece fazer sexo oral nela, enquanto outro coloca uma banana em cima das partes íntimas da parceira. Achei que o primeiro casal ia ganhar, mas o prêmio vai para o casal que fez a maior bagunça, que inclui Lindsey, a sub que mais tarde vejo fazendo um boquete com sua tiara de vencedora.

Lindsey leva a coroa do concurso de camiseta molhada.

Nesse ponto, estamos com fome, então vamos ao restaurante do hotel. O casal norte-americano do nosso lado no bar pergunta por que estamos tirando fotos. Quando dizemos que trabalhamos para a VICE, a esposa, Tracy*, fica superempolgada.

"[Meu marido] sempre diz que eu deveria ser atriz pornô", ela conta, com um sotaque do norte do estado de Nova York.

Tracy é uma morena pequena passeadora de cachorros e parece muito mais jovem — ela tem 40 anos — especialmente usando maria-chiquinha. Seu marido, Craig*, um bancário, é parrudo e fala com uma certa rouquidão.

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Tracy é uma doçura, e honestamente, não é alguém que eu esperaria encontrar numa festa de swing. Talvez seja só o penteado, mas ela parece muito inocente. Suas palavras revelam o contrário.

Tracy, uma mãe do norte do estado de Nova York.

"Chupei minha primeira boceta noite passada", diz ela, rindo. "Foi incrível."

O casal, namorados do colegial casados há 22 anos, está num site pago para swingers que custa cerca de US$150 (cerca R$ 450) por ano, e foi lá que eles ficaram sabendo sobre o evento em Niágara. Eles têm dois filhos, de 18 e 22 anos, e dizem que a família e amigos não podem saber sobre esse passatempo.

Eles só descobriram o estilo de vida há um ano; o interesse começou quando eles fizeram sexo numa praia em Aruba, na Venezuela, ao lado de outro casal.

"Conversamos mas não nos tocamos… Foi muito sensual", diz Tracy.

Craig é hétero, e curte ver Tracy transando com mulheres e homens tanto quanto gosta de se envolver. Quanto às preferências de Tracy, ela diz que se sente muito atraída por "paus negros".

Craig diz que ele e a esposa usam essas viagens de swing como uma desculpa para fugir nos finais de semana, o que também permite que eles evitem pessoas muito apegadas.

Depois de escapadas assim, "você fica meio que chapado por três dias".

O veterano do exército americano Jason.

Voltando para o hotel, cruzamos com o cara das flexões, um veterano do exército norte-americano chamado Jason. Ele está claramente bêbado e imediatamente nos leva para seu quarto, nos dá beijos molhados e me encoraja a pegar em suas bolas. Eu concordo.

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Jason, 36 anos, é um cara charmoso e parece inofensivo, mas também faz o tipo bro de fraternidade — sua beligerância se destaca na multidão. Sua esposa, que usa o pseudônimo Jessie Jewel, entra no quarto para ver o que está acontecendo e me sinto imediatamente constrangida, especialmente porque ele continua me beijando atrás da orelha e tentando tocar minha bunda.

A esposa parece acostumada. "Ele é um maníaco. Ele acha que acabou, mas nunca acaba", ela diz.

Acontece que ela é médica; ela me oferece amostras de uma bebida com óxido nítrico que supostamente "estimula seus órgão sexuais". (Peguei algumas mas ainda não experimentei.)

Jessi Jewel conta sobre o quarto de um cara que tem um baú de brinquedos de BDSM, incluindo varinhas que dão choque. Saímos imediatamente para procurá-lo. E não ficamos desapontadas.

Liam*, o mestre dos brinquedos, nos mostra cada um dos apetrechos — chicotes, vibradores, palmatórias.

Liam nos mostra seus brinquedos e pinga cera de vela em QueenEh.

"Essa aqui se chama evil motherfucker", ele diz sobre um chicote de cavalo.

E aqui encontramos QueenEh, a mulher do moicano azul, e Lindsey, a vencedora do concurso de camiseta molhada. Elas são subs de Liam.

QueenEh tira a roupa e deita na cama, enquanto Liam bate nela com um chicote de couro. Pergunto se dói muito e ela responde: "Meu parto foi sem anestesia, isso aqui é 20% do que senti daquela vez". Depois ele acende duas velas e pinga cera azul no corpo de QueenEh. O parceiro dela, que observa tudo, mais tarde tira a cera e a estimula com a mão até ela ter um squirting, gemendo alto.

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Conto para QueenEh que não sei onde fica meu ponto G e comparo meu pequeno vibrador (que trouxe na bolsa) com o consolo gigante dela. "Fiquei até com vergonha agora", eu digo.

"Ah, querida", ela responde, parecendo um pouco triste por mim.

Em seguida, Liam nos dá um curso rápido sobre brincadeiras elétricas. Basicamente, ele tem um gerador elétrico portátil que liga ao seu corpo, então a corrente passa através dele; usando acessórios, ele pode transferir a eletricidade para outra pessoa (até menos no clitóris). Sobre os pompons carregados eletricamente, ele diz "alguém uma vez descreveu isso como ser picado por mil mosquitos".

Usando uma voltagem baixa, ele testa alguns acessórios de vidro nos nossos braços. Pinica um pouco e faz um zumbido, mas não é algo intenso. Mas aí, Lindsey, que acabou de ter os braços amarrados nas costas por outra mulher, se curva na cama e Liam demonstra algumas das voltagens mais fortes.

Liam dá choques em Lindsey com seu pompom elétrico.

"Vocês querem ver um negócio legal? Apague a luz", ele diz. Alguém apaga a luz do quarto, e tudo que podemos ver é um brilho roxo do brinquedo elétrico, e ouvir Lindsey gritando de dor (e prazer?).

Enquanto a noite passa, encontramos pais que tinha acabado de ter um bebê. Um jovem casal que disse estar aqui principalmente para flertar, e passamos por uma gincana de perguntas, um karaokê e um baile tocando sucessos dos anos 2000 como "Hot in Herre" do Nelly.

O baile.

Também tem muita gente transando, óbvio. Transando na piscina, transando nas mesas de piquenique, transando num quarto no segundo andar onde há três câmeras para acomodar um gang bang. Mesmo as pessoas dentro dos quartos deixam as cortinas abertas para que todo mundo possa dar uma espiada.

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Pessoas transando.

Essa abertura parece atrair tanto quanto o sexo.

Morgan, a cam girl com quem começamos a noite, é uma das únicas que disse que podíamos usar seu nome real. Mesmo assim, ela acredita que seus amigos a tratariam como uma "leprosa" se descobrissem sobre o swing.

"Não somos diferentes, é só algo que gostamos de fazer com outros adultos e com consentimento", ela diz. "Um dia vou precisar usar aqueles andadores, e ainda vou dizer 'querido, me pega por trás'."

*Os nomes foram mudados.

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