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O Guia VICE Pra Fazer 2014 Melhor que 2013

Como Ser uma Pessoa Melhor em 2014

Querer prolongar sua vida significa que você tem noção suficiente para saber que seus cinco mil “amigos” no Facebook não vão te visitar quando você estiver com um tubo enfiado na garganta num hospital.

Foto por Jake Lewis.

É difícil usar a palavra “autoajuda” hoje sem alguém achar que você é um demagogo, uma fraude, um criminoso sexual ou uma combinação dos três. Os assim autodenominados “artistas da sedução”, Deepak Chopra, O Clube da Luta e infindáveis DVDs de ioga macularam o conceito. Agora, com razão, suspeitamos de qualquer plano que vá “melhorar” nossas vidas — tanta gente foi levada à falência ou ao suicídio em massa que não acreditamos mais nisso.

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Mas querer prolongar sua vida, em vez de resumi-la num rojão alcoólico de glória duvidosa, não quer dizer que você seja um psicopata. Isso só significa que você tem noção suficiente para saber que as cinco mil pessoas que são seus “amigos” no Facebook não vão te visitar quando você estiver com um tubo enfiado na garganta num hospital qualquer. Tentar prolongar sua vida não é conversa de hippie, é uma ação antiespiritual e pró-ciência; uma mentalidade que troca as recompensas invisíveis de uma “vida no limite”, pelos benefícios visíveis de não morrer aos 37 anos com o fígado num saco plástico.

Até o Christopher Hitchens, o padrinho irresponsável do ateísmo do Reddit, disse uma vez que “daria um tempo nos drinques e no cigarro” se isso pudesse resetar os seus malefícios. Não estou dizendo para você curtir velas de cera de ouvido tibetana ou enemas de água do Mar Negro, mas enquanto você está por aqui, pode ser uma boa manter a merda o mais longe possível do ventilador.

Como alguém que recentemente se matriculou numa academia, dispensou o iPhone e aprendeu a dizer “vou dar um peguinha, mas não vou bater o padê…” às 3 da manhã, acho que dei alguns grandes passos na minha vida. Me arriscando a soar um pouco como “Todo Mundo É Livre Para Usar Filtro Solar”, aqui vão algumas dicas de coisas que andei lendo, coisas que andei fazendo, que andei não fazendo e outras ideias.

Foto por Robert Harper.

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Morrer Jovem é uma Grande Babaquice
Sabe quem é um puta ator? O Michael Caine. Ele está nos maiores filmes de cada década, começou várias modas, ganhou dois Oscar, fez muita grana, casou com lindas mulheres e viveu uma vida de fazer inveja a qualquer um na Terra.

Sabem quem foi canastrão num punhado de filmes de teensploitation e morreu coberto de queimaduras de cigarro com 24 anos? James Dean. Sabem quem também foi um tantinho melodramático? Kurt Cobain. Sabe quem é um tio bem legal? O Brian Eno, 65 anos. Nelson Mandela fez um monte de coisas depois dos 30, né? E a lista continua. Mesmo que algumas mortes sejam — claro — trágicas e inevitáveis (saudades, Biggie), muita gente precisa pôr na cabeça que o mantra “viva rápido, morra jovem” é uma grande babaquice vendida por gravadoras e fabricantes de jeans.

Querer viver o máximo possível, com a melhor saúde possível, não quer dizer que você é o Cliff Richard. Quer dizer que você entende que a condição humana vai além de se juntar ao “Clube do 27” ou ser imortalizado num grafite. O fato é que “viva rápido, morra jovem” é uma noção patética perpetuada pelo tipo de pessoa que usa rosários de pulseira e chama a Amy Winehouse só pelo primeiro nome.

É esse cara que você quer ser? Não. Tente viver o máximo possível, seu tonto. A vida pode ser meio escrota às vezes, mas morrer esquecido e sujão na Cracolândia é infinitamente pior.

Foto por Jamie Taete.

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Livre-se do Celular
Graças a um encontro casual com uns caras barra-pesada um tempinho atrás, não tenho mais iPhone. E não me deixei levar pelas ofertas de celular que vejo sempre por aí. Em vez disso, eu me vi gravitando em torno das palavras de Mark Fisher. Quando, numa palestra recente, o fodão do marxismo britânico descreveu os iPhones como “centros de comando individualizados”, isso me fez pensar: em que parte da existência humana os celulares são realmente indispensáveis? Então por que insistir em tê-los? Quem disse que temos que responder e-mails 24 horas por dia? Quem realmente se importa com a porcaria do Instagram? Sabe quem? Pessoas que não gostam de você. O que torna os celulares nada mais que uma ferramenta de autoaversão.

Nos venderam uma gigantesca mentira tecnocapitalista sobre a necessidade de ter essas coisas. A menos que você seja freelance, você é contratado para trabalhar certo número de horas, num escritório, toda semana. Então, por que tem que responder esses e-mails fora de hora? Nunca achei que ia me pegar dizendo uma coisa dessas — parecendo um dos meus professores — e com certeza não sou um pregador neoludista, mas celulares matam sua concentração, sua habilidade de conversação e talvez até suas habilidades cognitivas. E por quê? Por medo de perder alguma coisa e por simples stress.

Jogue fora seu celular, recupere aquelas horas de folga, recupere sua vida. Você sempre pode ler o Twitter no notebook.

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Desconecte-se da Matriz de Entretenimento
Estou me arriscando a parecer um paga pau do cara, mas tem um trecho no seminário Capitalism Realism de Fisher em que ele conta sobre um estudante que insistiu em manter um fone na orelha durante uma de suas aulas. Quando Fisher pediu que ele tirasse o fone, o cara disse que não tinha importância, porque a música não estava ligada. Fisher teorizou que o rapaz fazia isso porque queria ter o conforto de saber que ainda estava conectado à “matriz de entretenimento”: “se entediar pelo simples fato de se sentir removido da matriz de estímulos de comunicação das mensagens, do YouTube e da fast food”, escreveu Fisher, “ser negado, por um momento, o fluxo constante de gratificação açucarada tão em demanda”.

Sair de tudo isso por um tempo só pode ser saudável. Nos tornamos completamente ligados a essa matriz, e quando somos removidos dela, nós nos tornamos náufragos agitados e incapazes, que não conseguem lidar com uma viagem de ônibus sem o cobertor tecnológico do Candy Crush. É fácil desconsiderar a geração de nossos pais, mas quando você se lembra que eles passaram dias inteiros sem energia elétrica, é fácil ver o quanto somos patéticos. Aprenda a viver sem esses confortos da comunicação, porque essas tempestades polares só vão piorar e você vai lidar muito mal com isso.

Foto por Rory DCS.

Olhe o Horizonte
Numa manhã sombria e cheia de remorso depois de uma festa de muita cocaína na juventude, uma pessoa muito sábia me disse que os seres humanos não olham o horizonte o suficiente. Não num sentido filosófico (apesar de que até poderia ser), mas literalmente. Como muita gente vive nas cidades, onde é difícil ver alguma coisa além do próximo posto de gasolina, temos um entendimento muito pobre do alcance e do tamanho do mundo em que vivemos. E isso nos torna paranoicos, egoístas, sem imaginação e deprimidos.

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Claro, as cidades são lugares bonitos e acho que ainda não estamos prontos para “mudar para o meio do mato”, mas tente sair pelo mundo de vez em quando e ter uma noção de como a gente é pequeno. Pode ser um tanto humilhante e assustador considerar coisas assim, principalmente numa sociedade que diz que somos nossos próprios deuses, mas você vai se sentir muito melhor sobre aquele comentário passivo-agressivo numa foto ou aquele relatório que você deixou para terminar depois.

Leia Livros
De novo, um conselho clichê, mas clichês são clichês por um motivo. Você não vai se tornar uma das grandes mentes da nossa geração se ficar lendo o HypeBeast por cima ou passar o dia inteiro na frente do Netflix. Ler mais vai enriquecer sua vida, seja lá o que você faz. Leia no ônibus, leia no trem, leia no almoço. Leia ficção e não-ficção. Leia João Antônio, leia Antônio Fraga, leia autobiografias de jogadores de futebol. Leia para aprender e leia para viver. Mas não seja aquela pessoa que quer aparecer lendo o vencedor do Jabuti do ano no metrô.

Pais
Logo que você consegue se arrastar para fora da tempestade de autoindulgência que é (ou pelo menos deveria ser) o final da adolescência e o começo da vida adulta, é fácil achar que você se tornou um cara descolado, sem laços, que Sabe Quem É Realmente. A escola ficou para trás, a inocência foi trocada avidamente pela experiência e você não consegue mais falar com seus antigos amigos, porque eles estão ocupados com o casamento agora. Então, quem você vai procurar? Para as pessoas que sabiam que você estava usando drogas esse tempo todo, mas que prometem não falar sobre isso até você se acalmar um pouco.

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Por fim, você vai perceber que seus pais não eram os fascistas que você achava quando era moleque. Eles também se sentem sozinhos e confusos neste mundo, mas com a vantagem de já ter passado pela mesma merda que você está passando agora. Trate eles como bonecos de teste de sua própria existência; olhe para eles, fale com eles e pare de pensar neles como os zicas que não te deixavam ouvir The Chronic 2001 no carro.

Foto por Matías Uris Rey.

Exercício É Legal
Você não está mais no colegial. Você não precisa mais acreditar nessa ideia ridícula que aptidão física é a preservação tola do padrão de masculinidade antigo, enquanto você — com seu estilo de vida de dândi sedentário — é o único ser belo, brilhante e iluminado. Porque você não é; você fica suado no caminho até o ponto de ônibus e, mesmo sendo magro de ruim, suas artérias já devem estar parecendo aqueles bastõezinhos de carne seca.

Esportes em grupo não são para todo mundo, mas não estamos mais naqueles dias quando aquele pentelho da sexta série mirava o chute na sua cara. Se exercitar é uma busca tão enriquecedora e intelectual quanto física. Isso limpa sua mente e é ótimo para olhar o mundo com um novo ritmo. Murakami escreveu um livro sobre corrida, Camus era goleiro e o Kari Stefansson, talvez o geneticista mais importante da atualidade, é um jogador de basquete obcecado. A lista é infinita. Uma pesquisa da NASA mostrou que pessoas que fazem exercícios físicos regularmente são melhores em tomar decisões do que as pessoas que não fazem. O exercício não torna você um idiota — mas ficar sentado aí sem fazer nada sim.

A verdade é que pessoas que não se exercitam é que são as idiotas e as provas confirmam. A ideia de que o exercício é só para quem acabou de sair da cadeia ou para a galera da maromba é a mais perigosa do nosso tempo, e é perpetuada por gente que retuíta o Stephen Fry e diz coisas como: “Futebol? Não é um monte de milionários perseguindo uma bola num campo?”. Ou seja: os maiores babacas do mundo.

Beba, Sempre
No final das contas, a vida é muito difícil. É um negócio implacável que não para até que realmente para. De que outro jeito podemos desviar a mente de nossa própria existência? O álcool é a maneira natural de desacelerar as coisas e de nos sentirmos bem quando nossas circunstâncias ditam o contrário. É o elixir da vida; o suco do amor e quase todos os grandes momentos de minha vida estão de alguma forma ligados a isso. A vida é maior que você, se você tentar vencê-la, ela vai te derrubar. Sem goró, você está simplesmente tentando dar uma cabeçada em Deus.

Siga o Clive no Twitter: @thugclive