Há uma nova geração a sair à rua para lutar pelos direitos das mulheres

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Há uma nova geração a sair à rua para lutar pelos direitos das mulheres

Em Portugal, a paralisação global pode não ter tido o impacto que se justificava, mas na manifestação lisboeta vimos uma coisa importante: muitos dos participantes tinham menos de 20 anos.

Eram algumas centenas, mas, claro, é quase incompreensível que não fossem uns milhares, como em Barcelona, ou Madrid, só para mencionar exemplos que nos são mais proximos. No entanto, no Rossio, em Lisboa, a iniciativa portuguesa que se juntou ao movimento internacional "International Women's Strike", com manifestantes em mais de 40 países, com o objectivo de "fortalecer e unificar a luta pela conquista do direitos das mulheres", pode não ter conseguido a adesão que se justificava, mas não deixou, por isso, de ser um marco importante.

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E, se em muitos dos países que se juntaram à causa foi proposto que todas as mulheres fizessem greve e faltassem ao trabalho durante 24 horas, outros houve em que, já antecipando a dificuldade extrema de uma acção desse género - como em Portugal -, a convocatória foi feita de forma a que quem quisesse participar saísse mais cedo, ou o fizesse já fora do horário de expediente.

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Na versão portuguesa, em pleno Dia Internacional da Mulher, o lema foi "Não me calo!" e as vozes dos manifestantes ergueram-se alto e bom som para denunciar o que consideram ser, ainda hoje, apesar dos muitos passos em frente, as grandes questões na área dos direitos das mulheres. Diferenças salariais, trabalho não remunerado das tarefas domésticas, violência com base em discriminação de género, foram alguns dos problemas mais sublinhados.

Em declarações à Agência Lusa, Juliana Inácio, membro da Assembleia Feminista, que integra a Rede 8 de Março, organizadora do evento em Lisboa, garante que a luta pelo feminismo "é uma luta diária". E acrescenta: "A nossa luta não é ganha sem os homens. Instalou-se a ideia de que o feminismo odeia os homens e não é verdade. Precisamos de homens no nosso lado da barricada, até porque eles têm mães, mulheres, filhas…".

Aproveitámos o mote para falar com alguns dos participantes e perceber porque é que ali estavam e porque é que é tão importante que as novas gerações não fiquem no sofá, ou atrás de um computador a apoiar, mas não a agir.

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Raquel Lopes, 18

VICE: Porque é que decidiste juntar-te a esta iniciativa?

Raquel: Porque é uma causa em que acredito. Apesar de se darem muitas coisas muito garantidas, julgo que faz sentido continuarmos a lutar. Há muitas áreas em que ainda é necessário fazermos algumas conquistas.

Faltaste às aulas para estares aqui?

Sim. Mas a causa justifica.

Estavas à espera de encontrar mais gente?

Mais ou menos. Nestas coisas, infelizmente, nunca vem tanta gente como seria desejável, mas ainda assim é bom que estas que estão estejam a  lutar por uma mesma causa.

Francisco Almeida, 18

VICE: Estás aqui porquê?

Francisco: Porque, apesar de todas as manifestações que são feitas, ainda continua a existir uma disparidade muito relevante entre os direitos dos homens e das mulheres. É importante que se continuem a fazer protestos e manifestações destas, de modo a que a igualdade possa ser celebrada todos os dias e efectivada. Não é só falar. São necessárias acções e tomadas de atitude.

Achas que a tua geração está mais atenta a essa necessidade?

Sim. Ainda há muito por fazer, mas claramente sim. Tenho amigos que, apesar de dizerem que é um assunto que lhes interessa, não estão aqui hoje…

Estavas à espera de mais gente?

Julgo que é uma boa representação, mas quantas mais pessoas, mais importante é o resultado e a consequência de uma iniciativa destas.

Ana Aresta, 27

VICE: O que é que te fez estar presente nesta iniciativa?

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Ana: Pertenço à ILGA Portugal e é muito importante assinalarmos este dia, principalmente por causa das desigualdades que ainda enfrentamos e pela discriminação que sofremos. Todas as mulheres, hetero, lésbicas, bissexuais, trans. É também por isso que estamos aqui hoje, para quebrar o silêncio e darmos conta de que há muito por fazer nesta área.

Achas que é importante estar aqui tanta gente de gerações mais novas?

Julgo que os mais jovens estão mais atentos a estas questões e isso nota-se na faixa etária de muita gente que está presente. São pessoas mais conscientes dos tipos de discriminações que enfrentamos e que eles próprios enfrentam também no dia-a-dia. É um sinal de mudança, muito importante para Portugal, como para o Mundo inteiro.

Faltaste ao trabalho?

Saí mais cedo.

Estavas à espera de mais gente?

Ainda está gente a chegar e é óbvio que há muitas pessoas que não conseguiram estar presentes fisicamente e que apenas puderam manifestar a sua solidariedade virtualmente, mas ainda assim, todos os que estão são importantes e o que conta é juntarmo-nos a um movimento que tem âmbito global.

André Moreira, 18

VICE: O que é que te motivou a marcar presença nesta iniciativa?

André: Estou aqui porque acredito na igualdade entre géneros e na possibilidade de existir uma sociedade mais igualitária em todo o tipo de questões, sejam elas laborais ou sociais.

Ainda temos muito que percorrer para chegarmos a essa igualdade?

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Já foi pior, obviamente e acho que a minha geração pode ajudar a fazer a diferença. Julgo que através das redes sociais, por exemplo, conseguimos aproximarmo-nos mais uns dos outros e fazer com que iniciativas deste género tenham mais força.

Faltaste às aulas?

Por acaso não, mas se fosse o caso tinha faltado, claro.

Achas que podia estar mais gente?

Claro que sim. Todos deviam estar presentes e dar esse passo de saltarem do interesse virtual para a realidade.