Será Silas Howard o realizador Trans de que Hollywood está à espera?
Foto de Silas Howard, por Miranda Penn Turin

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Será Silas Howard o realizador Trans de que Hollywood está à espera?

O recente sucesso do norte-americano é um reflexo, não só da sua própria evolução enquanto artista activo numa variedade de meios, como também da crescente onda de inclusão e diversidade na televisão.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

No ano passado, Silas Howard realizou dois episódios da fenomenal série da Amazon, Transparent, criada por Jill Soloway, e tornou-se o primeiro realizador assumidamente trans a fazê-lo. Desde então, o artista natural de Vermont, Estados Unidos da América, não tem tido problemas em encontrar o sucesso na indústria televisiva e fez já parte de projectos como The Fosters, da Freeform, This is Us, da NBC e, claro, da terceira temporada de Transparent, em que Howard realiza mais dois episódios e é consultor noutros quatro.

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O êxito de Howard é um reflexo, não só da sua própria evolução ao longo do tempo enquanto artista sem medo de mostrar o seu trabalho numa variedade de meios - de tocar guitarra nos anos 90, na banda queer core punk Tribe 8, a escrever e realizar a longa metragem de 2001 By Hook or By Crook -, como também da crescente onda de inclusão e diversidade na televisão, desde os tipos de histórias que são contadas hoje em dia, às pessoas responsáveis por contar essas histórias. O progresso é, como sempre foi, lento e gradual e há ainda muito caminho a percorrer, mas não deixa de ser progresso.

"Estou sempre a dizer que não somos nós que estamos a conseguir entrar na televisão, a televisão é que quer entrar no nosso meio", diz-me Silas Howard a meio de uma paragem para almoço nas filmagens de This is Us, nas instalações da Paramount, em Los Angeles. "Temos todas estas histórias ricas e cheias de nuances e as novas gerações têm um enorme acesso a vários pontos de vista. Eles entendem as coisas, detectam as tretas, dão valor a histórias autênticas e têm um espectro de interesses mais amplo".

A carreira de Howard ainda agora está a começar. O seu próximo filme, The Lusty, que se centra na história real do primeiro sindicato de bailarinas exóticas do Mundo, deverá entrar em produção no próximo ano. Tem também em mãos uma série documental em seis episódios encomendada pela MAC AIDS Fund Initiative, More Than T, com Jen Richards (Her Story). "Estou verdadeiramente interessado em contar histórias - seja através de filmes, escrita, ou espaços performativos e o facto de ter chegado a este nível não cessa de me surpreender", explica.

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VICE: A televisão costumava ser considerada uma arte menor, mas, na última década, este meio comprometeu-se com mais artifício e experimentação do que alguma vez antes, especialmente no que diz respeito à variedade de histórias que conta. Porque é que achas que isto aconteceu?

Silas Howard: A geração de pessoas que estão a conseguir fazer estas séries têm um certo tipo de valores. Tenho estado obcecado em olhar para as formas como a nossa geração passou pela crise da SIDA, que foi algo que, há 25 anos, formatou o estilo urgente do storytelling que temos hoje. E julgo que muita da cultura com que nos deparamos agora é influenciada por esse tempo. É claro que a Internet também alterou as regras do jogo, bem como o activismo e as mudanças sociais que tornaram possível estarmos mais representados.

Queremos que a televisão se pareça connosco e agora há séries queer com personagens inovadoras que lidam com conceitos como a adopção, a imigração e as políticas raciais. Um vasto leque de tópicos e de diferentes tons, mas todos absolutamente inovadores. Mal consigo acreditar que posso passar de uma série como Transparent, que é, definitivamente, qualquer coisa de extraordinário, para séries como The Fosters e Faking It, que fazem algo semelhante, mas com abordagens completamente distintas. É excitante.

Esta temporada de Transparent foi a primeira em que foste consultor de produção. Como é que essa experiência se diferenciou do teu trabalho anterior para a série?

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Ser "repescado" para esta terceira temporada foi como preparar-me para uma longa metragem. Tive oportunidade de estar numa sala com os guionistas durante o processo de desenvolvimento e eles foram incríveis. Estou muito dentro da onda da Jill Soloway. Ela leva realmente as coisas para um outro nível e é muito inspiradora. As vozes das pessoas são ouvidas e todos são incluídos no projecto respeitando a política de contratações trans.

Ultimamente parece que as questões LGBT são discutidas em todo o lado menos na campanha para a presidência dos Estados Unidos.

Pois é! Parece que as coisas estão a ir na direcção certa, à excepção desta horrível campanha presidencial quase ao estilo nazi. Este país não aprendeu a lidar com assuntos que digam respeito a raça e classes sociais e agora estamos a pagar por isso e há muitas vidas a serem reclamadas.

Basta ver o que está a acontecer no desporto, com alguns atletas já a tomarem posição, porque os sistemas antigos estão a quebrar e há muito caos à volta daquilo tudo. O termo "politicamente correcto" é agora usado pela direita conservadora para se dirigir a alguém que esteja a falar sobre assuntos "não brancos". "Vocês querem ser tratado com igualdade? Uau, isso é muito politicamente correcto da vossa parte". Coisas deste género. Vivemos tempos um bocado loucos e temos um alvo nas costas sempre que ocupamos determinados espaços mais ou menos mediáticos. É algo real e é muito assustador.

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