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Adeus, Vange Leonel

Convidamos amigas, militantes, escritoras, entre outras, para nos contar sobre a importância do trabalho de Vange e celebrar seu legado.

Foto por Dafne Sampaio.

Morreu, nesta segunda (14), a escritora, compositora, cantora e ativista LGBTT Vange Leonel, aos 51 anos de idade. Segundo o post no Facebook da Carta Capital, Vange não resistiu ao câncer, deixando Cilmara Bedaque, com quem foi casada por 28 anos. Ontem pela manhã, Cilmara alertou sobre o problema de saúde da esposa no Twitter.

Muito além de seu hit nos anos 1990, “Noite Preta”, embalando a trilha sonora da vida de minha mãe com a voz rouca da cantora, Vange – que tinha começado a carreira como vocalista da banda paulista Nau – também foi autora de quatro livros, todos com temática lésbica. Entre eles, a obra As Sereias de Rive Gauche foi levada aos palcos brasileiros em 2002 e sua peça Joana Evangelista, inspirada em Joana D’Arc, foi montada em 2006.

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Longe de resumir a longa trajetória como ativista feminista e pelos direitos LGBTT, Vange escreveu uma reportagem falando sobre a Marcha das Vadias em 2011 para a VICE. Embora tenha sido somente uma pequena colaboração para a VICE, foi o suficiente para me fazer querer realizar reportagens e textos com a temática feminista. Acredito que não fui a única incentivada por Vange a escrever.

O velório será no cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra (SP), na terça-feira (15), às 10h. A cerimônia de cremação está marcada para as 14h.

Convidamos amigas, militantes, escritoras, entre outras, para nos contar sobre a importância do trabalho de Vange e celebrar seu legado.

“Vange era uma ativista incrível, artista talentosa e amiga muito querida, pessoa com um coração enorme que todo mundo gostava de ter por perto. Cinquenta e um anos não é idade de partir, mas ela deixou um pedacinho vivo em cada um que a conheceu.”

Clara Averbuck, autora dos livros Máquina de Pinball e Vida de Gato, entre outros, cocriadora do site Lugar de Mulher.

“Desde que entrei no Twitter, em agosto de 2010, ela passou a me seguir, e eu a ela. Nunca a conheci pessoalmente, mas sabia de sua importância como ativista LGBT e feminista. Na primeira Marcha das Vadias de SP, em 2011, ela estava lá, e li vários relatos de jovens feministas falando do orgulho que era participar da marcha ao lado dela. Muitos dos inimigos dela são os meus também: reaças, antifeministas e até algumas pessoas de esquerda que a patrulhavam porque ela tinha esperança no governo do PT. Estou arrasada com sua morte, inclusive porque era uma pessoa jovem, que descobriu o câncer recentemente. Ela era uma de nós. Não só por sua militância, por sua vontade de mudar o mundo, mas porque estava sempre próxima, ao alcance de um tweet."

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Lola Aronovich, professora da UFC, autora do blog Escreva Lola Escreva.

“Ela foi a primeira pessoa que me fez perceber a importância de fazer um ativismo lésbico feminista e, se não fosse por ela, eu não teria coragem de fazer música e falar abertamente sobre minha sexualidade. Além de ela ser uma amiga genial junto com a Cilmara, que foram importantíssimas em todos esses aspectos de mostrar a potência do feminismo através da arte. Isso, para mim, é um grande legado da Vange: em mostrar a potência que a arte pode dar para o ativismo.”

Elisa Gargiulo, integrante das bandas Dominatrix e Visiona, e ativista feminista.

"Eu estou longe do Brasil e fiquei sabendo agora há pouco. Eu era fã da Vange. Tive a chance de conversar com ela algumas vezes. Era uma grande pessoa. Além do nosso tempo. Uma pena, um absurdo."

Márcia Tiburi, doutora em Filosofia pela UFRGS, professora de pós-graduação na Universidade Presbiteriana Mackenzie e autora dos livros As Mulheres e a Filosofia e Mulheres, Filosofia ou Coisas do Gênero.

"Vange misturou a arte com o ativismo e abriu o caminho para a discussão das bandeiras LGBT. É chocante perdermos uma artista tão jovem, de modo abrupto. Vange foi uma artista múltipla e deu sua contribuição para o teatro escrevendo a peça As Sereias da Rive Gauche, que resgatou a história de sete lésbicas - escritoras, pintoras e aristocratas - na efervescente Paris dos anos 20."

Regina Galdino, diretora teatral.

ATUALIZAÇÃO: a Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Eleonora Menicucci, soltou uma nota de pesar pela morte de Vange.

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