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Andei Por Aí o Dia Inteiro Com Roupas Normais Antes de Me Tornar Muçulmana Praticante

Depois de ler a matéria da Annette Lamothe-Ramos sobre andar por aí o dia inteiro de niqab, senti, como muitas de vocês, que precisava escrever algo como resposta. Não vou xingar a moça nem difamar as coisas que ela disse.

Depois de ler a matéria da Annette Lamothe-Ramos sobre andar por aí o dia inteiro de niqab, senti, como muitas de vocês, que precisava escrever algo como resposta. Não vou xingar a moça nem difamar as coisas que ela disse. Aquelas são as opiniões e perspectivas dela. Estas são as minhas. Sou uma universitária muçulmana norte-americana. Minha família é de Bangladesh, mas nasci no Havaí e fui criada na Geórgia.

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Antes de continuar, quero dizer que o hijab/burca/abaya/niqab é simplesmente algo que nós, mulheres muçulmanas, usamos pra proteger nossa beleza do público. Ela é mencionada no Corão, nosso livro sagrado, mas não quero entrar nos aspectos religiosos de seu uso. Acreditamos que a beleza de uma mulher — seu cabelo, seu rosto, a forma das pernas e das nádegas, seu busto, seus braços nus — não é pra ser vista por qualquer homem. Apreciamos tanto nosso corpo que não queremos dar a todo mundo o direito de vê-lo e apreciá-lo.

Quando li o artigo da Annette pela primeira vez, fiquei ofendida. Então achei que ela precisava ver algumas coisas de outra perspectiva. Minhas experiências com essas vestimentas são muito diferentes das dela. Uma coisa que ela diz é que a maioria dos artigos que ela leu sobre a burca se referem a isso como “opressão”. Talvez eu tenha lido coisas diferentes, mas achei muita coisa online sobre burcas que nem discutem esse tema. Então decidi abordar alguns dos aspectos que ela discutiu no artigo e explicá-los pra ela. Espero que a Annette — e vocês — entendam essas vestimentas um pouco melhor.

O Calor
Como muçulmana praticante, poucas vezes usei uma burca pra sair. Na maioria das ocasiões me visto modestamente e cubro o que precisa ser coberto. Sim, fico com calor no verão e posso ficar suada às vezes. Mas quando ficava com os braços e o pescoço expostos, eu costumava ter queimaduras de sol, que é pior do que suor. E usar roupas modestas nos protege dos raios UV muito melhor do que protetor solar. Prefiro ficar desconfortável alguns meses por ano do que ter câncer de pele.

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O Vento e A Chuva
Usar uma burca é bem útil em certas ocasiões, como quando está ventando ou chovendo. Lembro uma vez, antes de ser uma muçulmana praticante, em que fiquei ensopada depois de pegar chuva indo pra escola. Minhas roupas molhadas colavam no meu corpo como uma segunda pele, e não de um jeito bom. Todo mundo podia ver cada pequena curva do meu corpo, e tudo que eu podia fazer era tentar me secar naquelas máquinas de secar as mãos do banheiro. Em outra ocasião, saí com meus amigos usando um vestidinho. Do nada, um vento veio e soprou meu vestido na direção errada, me forçando a segurar a saia com uma mão e as sacolas de compra com a outra. Depois de um tempo fiquei tão frustrada que só queria ir pra casa ou esperar no carro. Agora quando saio num dia de vento, me sinto segura. Não me sinto o “Batman” como a Annette se sentiu; me sinto livre porque posso aproveitar o vento sem ter que segurar minhas roupas.

Comendo
Todas as mulheres muçulmanas comem. Todas as muçulmanas já comeram em público com facilidade antes, mesmo muçulmanas que escolheram usar o niqab (que cobre o rosto dos olhos pra baixo). Eu não tive que aprender como comer em público com o niqab porque não escolhi usar isso neste ponto da minha vida, mas, claro, já vi muçulmanas que usam o niqab e são mestres nessa arte. Milhões de mulheres no mundo todo fazem isso. Não é assim tão complicado. Você pode cortar um cachorro-quente e usar um garfo ou usar um canudo pra tomar seu Frappuccino.

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“Opressão”
Quando você vê uma muçulmana andando na rua, você a vê da sua perspectiva. Pobre mulher, você pode pensar, sem considerar como ela se sente. Ela pode se sentir de qualquer jeito, menos oprimida. Ela se sente livre e liberada. Deixe-me explicar: como mulheres, não importa qual a raça, peso ou idade, nós levamos cantadas. Quando saía em público sem o hijab, eu sofria com os olhares constantes, com pessoas me encarando abertamente e assoviando. Quando os homens olhavam pra mim, eu era um pedaço de carne num açougue; eles se sentiam no direito de fazer comentários lascivos e eu me sentia desrespeitada, como se tivesse que correr pra casa e tomar um banho. Sim, algumas garotas podem sentir um impulso na autoestima, mas eu não quero que estranhos me elogiem. Os únicos elogios que preciso são dos meus amigos e família. Eu costumava ficar muito brava com esses homens, amaldiçoá-los na minha cabeça ou olhar feio pra eles. Então, um dia, pensei: será que a culpa é deles? Eu também tinha parte nisso. Se eu me vestisse de uma maneira que eles não pudessem ver a forma do meu corpo, eles continuariam olhando? Provavelmente. Isso continuaria me deixando brava ou me fazendo sentir desconfortável se eles olhassem? Certamente não.

A burca não me restringe, ela me liberta. Nenhum homem no mundo pode mais me fazer sentir desrespeitada ou suja. Assim como a Annette ficou ansiosa pra tirar a burca e usar seus shorts, quando eu saio em público, fico ansiosa pra me proteger e manter em particular meu bem mais precioso: minha beleza.

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