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Fazendo Compras Com o Stalin Para o Aniversário do Lênin

Dia 22 teve outro grande aniversário, o do Original Gangster revolucionário comunista e ícone de estilo pra todo mundo desde Sean Connery até Krang, Vladimir Ilyich Lênin.

Abril foi um mês de muitos aniversários. Numa semana, os norte-coreanos mostraram ao mundo seu carinho pelo falecido líder Kim Il Sung no seu centésimo “aniversário” lançando um poderoso foguete feito com brinquedos derretidos direto no mar, e logo depois foi o aniversário do Hitler. Não sei quantas pessoas comemoraram a data, mas aposto que foi mais animado do que qualquer coisa feita para o Joseph Kony.

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Dia 22 teve outro grande aniversário, o do Original Gangster, revolucionário comunista e ícone de estilo para todo o mundo, de Sean Connery a Krang: Vladimir Ilyich Lênin. Como estava em Moscou no final de semana da comemoração, achei que seria uma boa fazer um passeio pela Praça Vermelha, e um brinde ao corpo embalsamado do líder gritando: “Que o melhor do seu passado seja o pior do seu futuro!”. E como estamos na Rússia, é lógico que as coisas tomaram um rumo bem bizarro.

Tudo começou de forma bem normal. Não houve abertura especial da tumba de Lênin para a data, apenas algumas coroas de flores vermelhas enviadas por seus verdadeiros admiradores, um casal de turistas arriscando poses irônicas para divertir os amigos nerds na próxima conferência de tecnologia em São Francisco, e uma mulher que achou que a entrada do túmulo de um ditador iludido seria um ótimo lugar para tirar uma foto do seu recém-nascido.

Além da velha guarda andando por aí com bandeiras soviéticas presas em varas de pescar, nada dava a entender que rolaria um revival cultural do Lênin. Saímos da frente da tumba e voltamos para a dura realidade de uma sociedade de mercado globalizada, em que nos misturamos anonimamente em desânimo à multidão de Homens-Aranha, Smurfs e rapozinhas.

Mas quando estávamos prestes a desistir de tudo e ir ao McDonald's…

PAI!!! É VOCÊ?!?!

Não, não era um sonho. Era o Stalin, porra. Joseph Stalin. O Homem de Ferro! Koba o Terrível em carne e osso!

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Oi, Stalin! Que bom te encontrar, você não estava morto? Juro que li em algum lugar que Kruschev e Beria te acharam tendo espasmos violentos no chão e espumando pela boca em 1953, mas decidiram não chamar o médico porque você era um filho da puta.

“Não, na verdade estou vivo. Aliás, estou me sentindo melhor que nunca."

Uau! Sabia que hoje é o aniversário do Lênin? Acho que vi ele passeando por aí em algum lugar. Você quer vir com a gente comprar um bolo pra ele?

“500 rublos."

Quê?

“Pelo meu tempo."

Parece extorsão… Ah, espera, isso aí é tipo 10 libras. Está contratado. Muito comunista da sua parte, aliás.

Stalin, superanimado com a nossa companhia e com a grana, levou a gente até uma “adorável pâtisserie” ali na esquina, para escolher alguma coisa bacana para o dia especial do Lênin. No caminho, perguntei se ele não queria escolher alguma coisa para o Brejnev, que também estava ali nas redondezas. Mas o Stalin nem quis saber. “Não, o Brejnev é um babaca. Ele só quer saber de buceta”, o que só fui entender depois que voltei para um país com acesso ao Google.

O Stalin marchou através da lojinha com toda determinação. Vê-lo passar pela prateleira de Pringles dando apenas um olhar superficial finalmente me mostrou como um homem pode ser simultaneamente tão cruel e, nos momentos que realmente importam, profundamente heroico.

“Esses são os melhores bolos daqui até Sakhalin. Como sempre digo, a alegria é a característica mais marcante da União Soviética, mas a gratidão é uma doença de cães. Vamos surpreender o camarada Lênin nesse dia especial com um bolo que combine com seu caráter, para que a história seja tão boa conosco quanto nossa intenção de escrevê-la."

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Escolhemos uma beleza cremosa e fomos para o caixa.

Apesar de já ter comandado 100 milhões de russos, o prestígio do Stalin não o ajudou quando tentamos furar a fila do caixa, e passar na frente desse russo novo-rico proprietário de Maserati, e de sua namorada bem mais jovem.

Furioso, ele começou a balbuciar alguma coisa sobre a morte resolver todos os problemas, e suas ideias sobre um novo gulag nos arredores de Moscou num terreno ao lado de onde acabaram de abrir uma loja da Ikea.

Felizmente, a fila começou a andar e ele se animou com o pensamento de que hoje deveria ser um dia feliz.

Essa não, que constrangedor. Quando estávamos saindo da loja, o Lênin estragou nossa surpresa aparecendo do nada totalmente bêbado.

Stalin olhou nervosamente para nós enquanto sussurrava para o seu mentor que estava achando meio difícil andar em linha reta. “Cacete, Vlad, o que você está fazendo aqui? Você vai estragar tudo de novo… Porra… Olha, vai sentar lá na sua cadeira, por favor. Estou tentando preparar uma coisa especial para você e não quero que você estrague tudo, OK?.”

Lênin, fedendo a vodca, logo voltou para sua cadeira e se pos a pontificar sobre a utopia dos trabalhadores para única pessoa que a disposta a ouvi-lo: uma réplica de papelão do Vladimir Putin. Acho que o Stalin o enrolou, porque tivemos que pagar mais 500 rublos pro cara entrar na brincadeira. Isso significava que estávamos basicamente pagando para dois estranhos bêbados fingirem que se gostavam. O jogo que parecia divertido alguns minutos antes ficou meio deprimente.

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Mas o cara era profissional. Enquanto o Lênin ria na sua cadeira cuspindo em si mesmo, o Stalin fez valer o investimento.

“Ah, Lênin, querido amigo Lênin, sou eu, o Stalin, e trouxe um bolo para o seu aniversário."

O Lênin o ignorou completamente, acenando para o nada com dificuldade em manter contato visual.

“Feliz aniversário! Talvez você queira dizer algumas palavras para o seu querido amigo Stalin?"

Essa foi a pior parte. O Lênin bêbado começou a dizer alguma coisa num russo estranho que era metade discurso, metade choro. Parecia que ele estava dizendo algo como: “O Stalin só está fazendo isso porque ele precisa”. Uma multidão começou a se aglomerar.

Eventualmente conseguimos fazer o Lênin ficar parado pra essa foto. Que ficou ótima, com certeza você concorda comigo.

Fomos para um lugar com uma vista privilegiada para refletir sobre o que tinha acabado de acontecer. Enquanto isso, o Stalin, que achou que a gente tinha ido embora, voltou para sua tarefa diária de acenar para estranhos.

Mas enquanto conversávamos, notamos que o Lênin ficou muito agitado. Também notamos que o bolo de aniversário não estava mais com ele.

O safado do Stalin estava usando o bolo que NÓS compramos para o LÊNIN (é, mais 249 rublos) para convencer duas MILFs a ir para dacha dele para fazer uma faxina.

O Lênin também notou, o que foi um pena, porque a próxima foto é a mais deprimente que a gente já viu:

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Contemplem. O primeiro líder do Império Comunista, chorando porque alguém roubou seu bolo de aniversário.

Aí as garotas fugiram com o bolo. Seriam elas suas cafetinas?

Voltamos uma hora mais tarde para conferir se estava tudo bem com o Lênin. O Stalin tinha sumido e o Vlad parecia ter nos esquecido completamente, mas pelo menos a ordem foi restaurada.

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