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Sexo

Acompanhei uma filmagem pornô ‘queer-friendly’ ao vivo num clube de sexo

Conversei com alguns participantes da cena orgiástica de Toronto para entender por que eles fazem o que eles fazem.

Todas as fotos por Luis Mora.

Fora as vezes que fiz sexo em público bêbada — uma vez num quarto de hotel cheio de estranhos e amigos, depois num festival de reggae — nunca fui muito exibicionista. Quanto a pornô, a última vez que assisti muito isso foi aos 12 anos, quando eu pegava filmes pornográficos no pay-per-view da família quando meus pais estavam dormindo. Com os anos vi alguns trechos de coisas assim, óbvio, mas nada realmente chamou minha atenção, provavelmente porque a maioria dos filmes não é voltada para mulheres e eu não estava com tanta vontade assim para procurar alternativas. Dito isso, eu não tinha expectativas quando fui a uma filmagem pornô recente no Oasis Aqualounge, um clube de sexo de Toronto, mas eu estava muito curiosa.

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O evento mensal, chamado Money Shot, oferece a fotógrafos, modelos, pornógrafos e atores uma chance de fazer o que quiserem em vários ambientes do clube. O local é uma mansão do século 19 restaurada, com piscina aquecida, um pátio, dois bares, pista de dança, várias áreas temáticas e quartos privativos espalhados por quatro andares.

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Basicamente, o pessoal da indústria filma/fotografa de graça e os clientes do clube podem assistir tudo (homens e casais pagam $35 [cerca de 140 reais], e mulheres entram grátis).

"Tenho amigos envolvidos em várias áreas da indústria do sexo e achei que seria legal reuni-los aqui para compartilhar uma energia sexual coletiva", me disse Fatima Mechtab, produtora do evento e diretora de marketing do clube.

"Onde mais você pode ficar pelado, beber, dançar e transar?", acrescentou a dona do Oasis, Jana Rodriguez, uma senhora de 51 anos que disse preferir as noites de música latina do estabelecimento aos eventos mais hardcore. Você só pode entrar no Oasis depois de assinar um formulário de adesão e concordar em seguir uma longa lista de regras específicas do clube, que enfatizam consentimento e privacidade. Assim que entrei, vi um filme pornô natalino passando atrás da cabine do DJ, com Ron Jeremy como Papai Noel transando com garotas bonitas demais para ele. Fiquei na expectativa de que a ação ao vivo fosse um pouco mais excitante.

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Aí conheci Billy Autumn, 20, atriz de gênero fluído cheia de piercings que prefere o pronome "eles". Autumn tinha o topo da cabeça raspada com uma pequena crina de cabelo rosa atrás. Autumn precisa andar com ajuda de uma bengala por causa do que seus médicos suspeitam ser síndrome de Ehlers-Danlos, uma condição genética que destrói os tecidos conjuntivos do corpo.

"Tive dor minha vida inteira, mas isso piorou muito ultimamente", disse Autumn.

Mas aquela era uma noite cheia de empolgação para a trabalhadora sexual. Era a festa de lançamento do DVD de um ano de trabalho de dom/sub que Autumn tinha filmado com Sophie Rose e Mara Dyne.

A decisão de entrar para o pornô veio da vontade de impulsionar a carreira de Autumn como escort e porque é divertido; mas para o público, disse Autumn, isso também é educativo.

"As pessoas podem ver como o filme com o qual elas se masturbam é feito. É uma experiência conscientizadora. Muita gente comenta depois como tudo é lento e meticuloso."

De fato, as cenas são lentas e meticulosas.

Autumn, Rose e Dyne, que tem fibromialgia, fizeram várias cenas no palco do salão roxo do Oasis, enquanto dezenas de pessoas observavam de almofadas de couro com expressões quase ilegíveis. Vimos as três artistas se revesarem utilizando consolos de vários tamanhos e cores; depois de um tempo, outro artista subiu ao palco e se juntou a elas. Aí foram MUITOS gemidos teatrais e basicamente nenhum diálogo.

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Ver isso tudo ao vivo foi algo novo, claro, mas não posso dizer que fiquei excitada.

"Não acontece muita coisa", me disse um senhor de meia idade, que tinha vindo ao clube pela primeira vez com sua parceira por curiosidade. "Acho que eles deveriam ter mais oportunidades para diversão particular… Isso é só barulho", ele acrescentou, gesticulando para alguns dos caras em pé usando toalhas.

Segundo Rose, que teve uma criação cristã numa cidadezinha em Ontário e agora trabalha principalmente como escort, seus fãs acham outra coisa. Ela diz receber vários e-mails de casais que trabalham questões de sua vida sexual em parte por assisti-la atuando.

"Gosto de fazer coisas mais alcançáveis. Não é nada que alguém não possa fazer em casa", ela disse.

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O cabelo de Rose é loiro e rosa, e seu corpo voluptuoso é coberto de tatuagens de flores, corações e pin-ups. Ela diz que se sentia mal com sua aparência quando era mais jovem, mas que quando começou a modelar e fazer pornô "minha confiança explodiu e eu amei o jeito como podia me expressar".

No andar de cima encontrei Heather, 20, e Malcolm Lovejoy, 38, ex-namorados que viraram amigos e que agora filmam pornô softcore juntos. O fato de serem negros num "espaço principalmente branco" é parte da motivação da dupla.

Lovejoy, que diz se inspirar em Malcolm X, está envolvido com o mundo do pornô há anos. Mas não gosta muito do termo.

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"Para mim isso é expressão sexual, um louvor à deusa, educação sexual — há outras dimensões nisso."

Depois de falar com ele por alguns minutos, ficou claro que ele era um feminista — ele se referia às mulheres como "deusas" e adorava fazer sexo oral nelas — algo que observei em detalhes numa cena dele com Heather mais tarde naquela noite. "Como você ficou tão bom nisso?", ela perguntou, sem fôlego, quando eles terminaram.

Lovejoy também é bem específico sobre o que faz e o que não faz. "Nunca ejaculei no rosto de uma mulher dentro ou fora do pornô", ele me disse, nem participa de qualquer coisa envolvendo urina, excremento ou sangue. Apesar dos obstáculos raciais com que ele cruza no pornô, e apesar desse trabalho não pagar suas contas — dezembro foi a primeira vez em que o dinheiro disso cobriu todas suas despesas — Lovejoy me disse que está "vivendo o sonho".

Assim como os artistas, os espectadores do Money Shot variam muito em termos de idade e origens. Conheci um nudista de meia idade pançudo com tecidos coloridos amarrados no pênis; Pearl, uma instrutora de educação sexual de escola vestida com uma roupa de Mamãe Noel, que queria que as pessoas sentassem em seu colo e contassem como tinham sido levadas; e Danielle Thompson, uma garota lindíssima de 21 anos, que me disse ter tido uma epifania de que queria ganhar dinheiro com seu corpo. Em suas quatro visitas ao Oasis, Thompson já tinha feito strip-tease e participado de sua primeira orgia.

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"Não quero sentar atrás de uma mesa, escrevendo, digitando. Quero ser qualquer coisa diferente disso: ginasta, stripper", ela disse, dobrando os braços atrás das costas para provar seu ponto.

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O cliente regular Aziz Patrus, 61, vai ao Oasis quatro noites por semana, e às vezes até leva comida para os funcionários. Ele diz que o clube o ajudou a sair de uma depressão séria depois do suicídio do irmão.

"Eu estava tentando sair para qualquer lugar para esquecer aquele evento. Viajei muito, mas isso não ajudou", ele me disse. "Desde que comecei a frequentar o Oasis, minha vida mudou. Achei essa coisa como voltar à natureza. Sexo não é um tabu aqui, é OK e as pessoas estão confortáveis com isso."

Chris, um estudante de biologia de 23 anos, me disse que não tinha certeza se ficaria confortável fazendo sexo em público, mas que sua namorada, Jane Dawson, 30, modelo e atriz, o convenceu. "Se era para ser minha primeira vez, transar com uma loira linda e dar um show não era um jeito ruim de deixar uma primeira impressão", ele disse. Eles transaram algumas vezes, permitindo que os fotografássemos num sofá de couro preto num corredor iluminado por uma luz azul, com os saltos do sapato dela apontados para o teto e ele a estapeando de vez em quando. Dawson está na indústria há 12 anos e diz que não dá para comparar trabalhar com um parceiro e um colega ator. "Obviamente é mais confortável quando você sabe o que excita a outra pessoa. Não é preciso fingir nada." Chris, que quer fazer medicina, disse que não tinha arrependimentos, apesar de admitir brincando que deveria ser mais seletivo com a multidão em volta. "Parece que há muitos caras sozinhos aqui hoje." Antes, mencionei que cheguei ao evento sem nenhuma expectativa. Mas tenho que admitir que a diversidade entre os artistas, funcionários e público me deixou surpresa. Era difícil achar uma demografia que não estivesse sendo representada ali. Algumas das performances sexuais deixaram a desejar — na minha opinião — mas se é aceitação que você procura, em vez de apenas um orgasmo, o Shot Money é provavelmente o lugar onde se pode encontrar isso. Siga a Manisha Krishnan no Twitter. Siga o Luis Mora no Instagram. Tradução: Marina Schnoor