Se aos primeiros acordes de "Groundhog Day" não te imaginares de imediato num cruzeiro no Mediterrâneo, de cocktail na mão, inebriado pelo cheiro a maresia, à beira de uma piscina daquelas redondas dos navios dos filmes, a lagartar languidamente debaixo de um sol tórrido, mais vale pedires já a certidão de óbito.A música dos CAN CUN faz-nos isto. Atira-nos para sítios num ápice. E quando digo "atira-nos", é mesmo "atirar", de repente. Ainda há segundos estavas aqui e agora já estás lá. E o "lá" deste "Groundhog Day", segundo single de avanço para Wanderlust, álbum com lançamento marcado para 9 de Março, é um sonho de Verão dolente. Preguiçoso. De mão de fora da janela do carro, a ondular ao vento, na viagem entre o Marão e o Litoral, para apanhar o tal cruzeiro que te há-de levar para águas quentes.É dream pop, diz-se das canções buriladas pelo trio de Vila Real. É provável. Há por aqui uma harmonia suficientemente etérea para nos fazer sonhar acordados e há um cuidado extremo na construção da coisa pop. Mas também há ecos de um rock com kraut no ADN, ainda que desacelerado, mais coração, menos cérebro. E há todo um imaginário cinemático, de paisagens de cortar a respiração, que tanto podem ser em Trás-os-Montes como na América mais profunda.A vida a borbulhar nas melodias desenhadas por Bruno André Azevedo, Bruno Coelho e Jorge Simões. Uma vida que queremos para nós. Delicada, mas intensa, frágil, mas complexa, sonhadora, mas concreta, imprevisível, mas certa como aquele cruzeiro em águas mediterrânicas, onde vais estar de cocktail na mão, a lagartar ao sol à beira de uma piscina redonda, com um incrível cheiro a maresia a colar-se-te à pele.
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