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Publicações Satíricas da Europa Respondem ao Massacre do “Charlie Hebdo”

Na esteira do massacre, pedimos à nossa equipe internacional para reunir os pensamentos das publicações satíricas mais conhecidas da Europa.

Na manhã de ontem, três homens armados invadiram o escritório do jornal satírico francês Charlie Hebdo, matando 12 pessoas e deixando outras cinco gravemente feridas. Na esteira do massacre, pedimos à nossa equipe internacional para reunir os pensamentos das publicações satíricas mais conhecidas da Europa.

ITÁLIA – Revista linus

Uma capa da alterlinus, um suplemento da linus, de 1974. O nome do cartunista Georges Wolinski, morto no ataque de ontem, está na lista de colaboradores.

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Fundada em 1965, a linus, hoje, permanece focada principalmente em quadrinhos, mas ainda apresenta trabalhos satíricos. Sua apresentação e conteúdo inspiraram a revista francesa Charlie Monthly, que, por sua vez, deu o nome à Charlie Hebdo.

Stefania Rumor, diretora:
"Nos anos 60, éramos amigos próximos dos editores da Hara-Kiri. Quando alguns deles fundaram a Charlie Hebdo, entendemos a citação de Charlie Brown no nome como uma homenagem. Publicamos o trabalho de Wolinski por anos e o conhecíamos pessoalmente. A sátira dele era muito intensa. E eles [da Charlie Hebdo] não se preocupavam com nada nem ninguém, mas também sentiam uma forte responsabilidade jornalística. Talvez eles soubessem que algo podia acontecer, mas ninguém podia imaginar isso. As pessoas pensam que esse é um risco que você aceita quando escolhe fazer sátira, mas não é. Estou chocada e também muito preocupada com as consequências, especialmente para os jovens. A ideia de que alguém pode morrer por um cartum é algo que pode fazer até o cartunista mais corajoso mudar de ideia. Acho esse acontecimento totalmente incompreensível."

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ESPANHA – El Mundo Today

Xavi Puig, cofundador:
"Parafraseando Walter Benjamin, 'Não entendo a expressão: "Parece impossível, estamos no século 20". A história não é uma linha reta para um futuro melhor. A merda do passado retorna de tempos em tempos para foder de novo com as nossas vidas'. Hoje, a França parece a Idade Média. Odeio que esses idiotas tenham justificado o Benjamin nisso, porque esse cara é muito chato. Mas este é o mundo em que a gente vive."

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ESPANHA – Orgullo y Satisfacción

Manuel Bartual:
"Não sei o que dizer. É tudo tão terrível. Estou chocado e não quero realmente pensar sobre isso agora. É uma grande tragédia."

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IRLANDA DO NORTE – The Vacuum

Richard West, cofundador:
"É horrível. Completamente sem sentido. Na Irlanda do Norte, ser fisicamente ameaçado por comentário religioso é algo bem difícil de se imaginar. Acho que as pessoas podem dizer que não haverá um efeito de esfriamento, mas provavelmente haverá. As pessoas provavelmente vão pensar duas vezes sobre o que publicam. Também vão dizer que deveríamos publicar coisas em solidariedade, mas toda publicação tem seus próprios motivos e razões para publicar da maneira que faz.

"Isso também deveria ser preservado. Acho que podemos nos levantar e mostrar nosso respeito por essas pessoas que foram mortas sem motivo sem necessariamente querer dizer que endossamos tudo o que eles já publicaram. Mas nada justifica o assassinato de alguém a sangue frio."

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REINO UNIDO – Will Self

Will Self, escritor:
"Bom, quando essa questão surgiu com os cartuns dinamarqueses, observei que o teste que aplico, para saber se algo é realmente uma sátira, deriva da definição de H.L. Mencken de bom jornalismo: isso deve 'incomodar os confortáveis e confortar os aflitos'. O problema de muito do que é chamado de 'sátira' voltada contra o extremismo religioso é que não está claro a quem isso está incomodando e a quem isso está confortando. Isso não desculpa o ataque aos jornalistas, que é algo mau pura e simplesmente, mas nossa sociedade transforma a 'liberdade de expressão' num fetiche sem questionar que tipo de responsabilidades estão implícitas nesse direito."

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Como dito a Oscar Rickett

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SÉRVIA – Njuz.net

Marko Drazic, editor:
"Este é um dia triste para nós nessa linha de trabalho, mas também um alerta para continuar com o trabalho que temos feito até agora. A tragédia de Paris só confirma quanto mal e injustiça há no mundo em que vivemos, e é nosso dever continuar lutando contra isso da maneira que sabemos fazer melhor – com sátira."

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HOLANDA – De Speld

Ontem, a De Speld postou uma resposta no Facebook que pode ser traduzida como: "Nenhum morto ou ferido durante ataque satírico na revista francesa Charlie Hebdo. Esse incidente eleva o número total de vítimas de ataques satíricos desde o começo dos tempos a zero".

Perguntamos ao editor-chefe, Jochem van den Berg, sobre essa declaração. "Nossa postagem no Facebook é uma declaração mais poderosa do que qualquer coisa que possamos dizer seriamente sobre isso; então, vamos deixar assim."

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GRÉCIA

Andreas Petroulakis, cartunista e satirista atualmente trabalhando no jornal grego Kathimerini:
"Estou chocado com o ataque, todo esse caos me atordoou completamente. Não tenho palavras. Isso é uma verdadeira tragédia. Enquanto a Europa luta por liberdade de expressão; enquanto nós lutamos por democracia; enquanto tentamos fazer uma ponte sobre qualquer diferença cultural que possamos ter; do outro lado do mundo, os líderes do Islã estão pregando o ódio e o dogmatismo cegos. A sátira vai prevalecer no final, e sabe por quê? Porque ela não pode ser coagida. Sem sátira, uma sociedade não ousaria olhar seu reflexo no espelho – ela perderia o caminho."

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ÁUSTRIA – Die Tagespresse

Fritz Jergitsch, fundador:
"Se fiz piada com o Islã em algum dos meus artigos, tenho certeza de que 99% dos muçulmanos austríacos apenas riram. Mas não há dúvida de que isso é um problema: que há um grupo muito pequeno porém muito radical de pessoas que toma medidas extremas. Acho que, 300 anos atrás, eu teria sido preso por causa dos meus artigos sobre a Igreja Católica. Mas os tempos mudaram e felizmente a sociedade mudou também; então, isso não é mais um problema. Claro, há déficits em alguns países muçulmanos, mas mesmo lá isso é um problema de alguns indivíduos, e não do Islã em si."

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BÉLGICA – Humo

Danny Ilegems, editor-chefe:
"Estamos sem fala. No nosso site, você vai ver apenas um grande quadrado negro e nada mais. Então, você pode entender essa mudez bem literalmente."

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ALEMANHA – Eulenspiegel

Dr. Mathias Wedel, editor-chefe:
"Estamos horrivelmente chocados, e isso é muito perturbador para nós. Estamos discutindo isso na nossa redação, mas estamos tentando salvar a situação com humor. Claro que isso coloca a pergunta: como vamos reagir como publicação? Por mais amargo que pareça, teremos primeiro que fazer uma piada. Porque, infelizmente – ou felizmente –, esse é o nosso trabalho. Assim como temos que confrontar o terrorismo em geral na guerra.

"Não vejo nenhuma ameaça ao nosso escritório mesmo lidando com o Islã de maneira humorada – apenas pelo lado político, claro; não temos interesse em questões de fé. A questão (se vamos continuar publicando caricaturas de Maomé) não se aplica, porque geralmente não fazemos isso. Meus colegas e eu sempre vamos defender a liberdade de poder dizer, desenhar e escrever o que quisermos. Mas não precisamos esgotar toda liberdade ou a exigência de usá-la. Fazendo isso, não estaríamos provocando nossos leitores, [mas] apenas os islâmicos. E há maneiras mais eficientes de lutar com o islamismo do que com uma caricatura numa revista satírica."

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SUÉCIA – Galago

Johannes Klenell, editor:
"Quando ouvi a notícia, fiquei arrepiado. Pensei nas vítimas e em suas famílias. Muitos de nós, que trabalhamos com sátira, já experimentamos ameaças. Sátira, reações de poder e opressão mexem com as emoções, já que essa é uma ferramenta muito eficiente. Na Suécia, vemos principalmente o ódio anônimo da extrema-direita. Mas você nunca acha que algo vai realmente acontecer. Haters anônimos não existiam a não ser como um tipo de fantasma. Agora, do nada, eles existem.

"Não acho que isso vai ter qualquer efeito na sátira – espero. Satiristas são feitos de um tipo de madeira que permanece em pé até quebrar. No entanto, me preocupo com que forças vão usar o que aconteceu para seus propósitos. Como a extrema-direita vai moldar o debate depois disso? Temo que eles tentem roubar nossa arte ou nossa expressão para alcançar seus próprios objetivos."

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POLÔNIA – Politika

Janek Koza, cartunista e satirista:
"É difícil para mim pensar em qualquer coisa sensível nessa situação, exceto que fico feliz que nossas armas sejam desenhos e textos satíricos. E espero que, graças a elas, possamos vencer."

Tradução: Marina Schnoor