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Participantes do Ecosexual Bathhouse. Grupo de arte Pony Express. Todas as fotos por Matt Sav

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Sexo

Os ecossexuais acreditam que fazer sexo com a Terra pode salvá-la

O termo "ecosexualidade" existe desde o início dos anos 2000, mas foi só em 2008 que o conceito começou evoluir para um movimento social completo.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

Quem estiver em Sidney, Austrália, neste mês de Novembro tem a oportunidade única de fazer sexo com a Terra. Só precisas de dar um salto à "ecosexual bathhouse", uma instalação que, actualmente, faz parte do festival de arte experimental LiveWorks de Sidney. A casa-de-banho é uma instalação interactiva criada pelos artistas Loren Kronemyer e Ian Sinclair da Pony Express, que descrevem a obra como "uma festa sem barreiras, que visa dissolver os limites entre as espécies enquanto caímos no esquecimento", como resultado da crise ambiental global.

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Mas eles também vêem a obra como parte de um movimento ecossexual muito maior que, segundo eles, está a ganhar força em todo o Mundo. E podem mesmo ter razão. Jennifer Reed, candidata a PhD em sociologia da Universidade de Nevada, em Las Vegas, EUA, está a escrever uma dissertação sobre a ecosexualidade e diz que o número de pessoas que se identificam como ecossexuais cresceu muito nos últimos dois anos.


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E uma investigação de dados no Google confirma que o interesse pelo termo disparou dramaticamente no último ano. No futuro, podemos ver 2016 como o ano em que o a ecosexualidade chegou ao mainstream. Ecosexualidade é um termo com definições amplas, que variam dependendo de quem o explica Amanda Morgan, membro da Escola de Ciências da Saúde da UNLV, que está envolvida no movimento ecosexual, diz que a ecosexualidade pode ser medida com algo parecido com a Escala Kinsey.

Num extremo temos pessoas que estão a tentar usar produtos sexuais sustentáveis, que gostam de nadar despidas em rios, etc. Do outro, "pessoas que rebolam na terra e têm orgasmos", diz. E acrescenta: "Há gente que faz sexo com árvores, ou se masturba debaixo de cascatas".

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O crescimento do movimento deve muito aos esforços das artistas performáticas, activistas e casal de São Francisco, Annie Sprinkle e Elizabeth Stephens, que fizeram da ecosexualidade uma cruzada pessoal. Elas publicaram um "manifesto ecosex" no seu site SexEcology e produziram vários filmes sobre o tema, incluindo o documentário Goodbye Gauley Mountain: An Ecosexual LoveStory, que retrata um relacionamento "polém-amoroso" entre elas e as Montanhas Apalache.

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E, enquanto faziam a digressão da peça de teatro Dirty Sexecology: 25 Ways to Make Love to the Earth, realizaram cerimónias de casamento nas quais elas e colegas ecossexuais casaram com a Terra, a Lua e outras entidades naturais. Sprinkle e Stephens falam abertamente sobre ecosexualidade como uma nova forma de identidade sexual. Na parada gay de São Francisco do ano passado, elas juntaram 100 colegas ecossexuais numa cerimónia para "oficialmente" acrescentarem um E à sigla LGBTQI; na ocasião, Stephens disse à Outsider que acreditam que há pelo menos 100 mil pessoas no Mundo que se identificam abertamente como ecossexuais.

Segundo a investigação de Reed, o termo "ecosexualidade" existe desde o início dos anos 2000, quando começou a aparecer em descrições de perfil de sites de namoro. Mas, foi só em 2008 que o conceito começou a sua evolução para um movimento social completo, quando Sprinkle e Stephens começaram a oficializar casamentos ecossexuais. As duas artistas são activas no movimento de casamento igualitário e querem canalizar essa energia para causas ambientais. Stephen disse que o objectivo passa por recriar o conceito da maneira como olhamos para a Terra: em vez de vermos o Planeta como uma mãe, deveríamos vê-lo como um amante.

Também em 2008, StefanieIris Weiss, escritora e activista que vive em Nova Iorque, começou a investigação para o seu livro Eco-sex: Go Green Between the Sheets and MakeYour Love Life Sustainable, publicado em 2010. Weiss, que na época não conhecia o trabalho de Sprinkle e Stephens, inicialmente deu à ideia uma abordagem mais prática e literal, estudando os danos ambientais causados por materiais usados em preservativos, lubrificantes e outros produtos sexuais. Ela diz que escreveu o livro para ajudar as pessoas a tornarem a sua vida sexual "mais sustentável" e ajudar a evitar poluirmos os nossos corpos quando fazemos sexo.

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O desejo por produtos sexuais mais seguros e sustentáveis continua a ser uma parte importante do movimento ecossexual e Weiss assegura que as opções ecológicas para os consumidores aumentaram muito desde que ela escreveu o livro. Mas ela também abraçou a vertente mais holística da ecosexualidade de Sprinkle e Stephens, reconhecendo imediatamente nos esforços delas um objectivo comum: ajudar as pessoas a reconectarem-se com a natureza e com os seus próprios corpos.

Reed diz que a ecosexualidade é diferente de outros movimentos sociais, porque se foca em comportamentos pessoais e prazer em vez de protestos e política. Segundo ela, algumas pessoas dentro do movimento ambiental mantêm distância da ecosexualidade por causa disso. Mas os ecossexuais que entrevistei para esta matéria insistem que têm um objectivo sério. Como Morgan diz, pensar na Terra como uma amante é o primeiro passo para dar à crise ambiental a seriedade que o assunto merece. "Se chateares a tua mãe, ela provavelmente vai perdoar-te. Se destratas a tua amante, ela acaba a relação contigo".

Ao mesmo tempo, a leveza caracterizada por obras como a casa-de-banho, ou as performances de Sprinkle e Stephens são uma parte integral do movimento. Morgan descreve a ecosexualidade como um meio de contornar "aquela coisa deprimente do Al Gore" que as pessoas geralmente associam ao ambientalismo. A esperança dela, assim como de outros ecosexuais como Weiss e Kronemyer é de que o conceito dê a pessoas comuns uma maneira de se envolverem na questão de uma forma acessível e divertida e criar uma sensação de esperança.

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Morgan e Weiss também dizem que vêem o sexo como uma ferramenta poderosa para motivar as pessoas a fazerem do meio ambiente uma prioridade. Como Weiss assinala: "Se estivermos sempre a fugir de inundações, não vamos ter tempo para o sexo".

Neil McArthur é director do Centre for Professional and Applied Ethics da Universidade de Manitoba, onde o seu trabalho se centra na ética sexual e na filosofia da sexualidade. Segue-o no Twitter.


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