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análise

As hipocrisias da elite reveladas pelo Paradise Papers

Gente que diz querer erradicar a pobreza está “ajudando a perpetuá-la”.
MW
London, GB
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Da esquerda para a direita: Bono; foto via usuário do Flickr  Web Summit  / Rainha Elizabeth II; foto via usuário do Flickr  Foreign Office  / Justin Trudeau; foto via usuário do Flickr  ycanada_news  .

Matéria originalmente publicada na VICE UK .

Há inúmeras razões para você querer colocar seu dinheiro numa offshore, mas o principal é que a manobra oferece sigilo. No final das contas, quem quer outras pessoas sabendo dos seus assuntos financeiros? Então deve ser meio irritante quando os processos internos dos principais paraísos fiscais do mundo ficam vazando para a mídia mundial toda hora.

O último vazamento do tipo ganhou o nome de Paradise Papers — uma referência à natureza idílica da maioria das jurisdições mais eficientes em taxas do mundo. Mais de 13 milhões de arquivos de dois fornecedores de serviços offshore e os registros de empresa de 19 paraísos fiscais foram obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, e posteriormente compartilhados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e escrutinados por redes de notícia incluindo a BBC e o The Guardian.

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As descobertas lançam luz em assuntos financeiros de alguns dos maiores negócios do mundo e de figuras políticas importantes. Sim, investir em paraísos fiscais pode ser feito de maneira legal, mas também há sugestões de que – e acho melhor você sentar agora – alguns dos super-ricos do mundo, incluindo um pessoal que defende valores de oportunidade e transparência, podem estar envolvidos em negócios desonestos. O vazamento de 2015 dos Panama Papers levou a queda de primeiros-ministros na Islândia e Paquistão, então quem sabe no que isso pode dar, né.

Aqui vai um resumo das revelações dos Paradise Papers até agora.

Bono comprou um shopping na Lituânia

O que seria dum escândalo de evasão fiscal sem uma menção ao Bono? O vocalista do U2 e suposto bom samaritano humanitário teria usado uma empresa de Malta – um país onde investidores estrangeiros pagam apenas 5% de imposto sobre os lucros de uma empresa – para comprar ações de um shopping lituano. Rock 'n' roll.

A Rainha da Inglaterra investiu num revendedor escuso

Enquanto a Rainha recebe dinheiro dos contribuintes para manter o Palácio de Buckingham, sua propriedade privada estava investindo num fundo que tinha ações da BrightHouse, um revendedor que explora os mais pobres e vulneráveis cobrando reembolsos exorbitantes de eletrodomésticos.

O Ducado de Lancaster, um portfólio de investimentos formado para fornecer renda para a Rainha, colocou cerca de US$10 milhões em fundos offshore nas Ilhas Cayman e Bermudas. Esses fundos tinham ações de negócios como a BrightHouise e Threschers, uma cadeia varejista que faliu devendo US$17,5 milhões em impostos.

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Abordado pelo Guardian, o ducado disse que não tinha ideia que seus investimentos iam para a BrightHouse. Eles sugeriram que a Rainha teve uma má consultoria – o que é outra boa razão para cobrar imediatamente 100% de imposto de toda riqueza que indivíduos não conseguem acompanhar por si mesmos, começando por qualquer um recebendo US$82 milhões de dinheiro público todo ano sob a base de que provavelmente isso é uma boa para o turismo.

Lorde Ashcroft nunca desistiu de seus status "non-dom"

O membro do partido conservador inglês Lorde Ashcroft tem uma história longa e incomum de arranjos fiscais. Em 2010, ele teria desistido de seu status fiscal de "non-domicile", para obedecer uma nova lei que exigia que membros do Parlamento [MPs] e colegas deveriam ser residentes legais do Reino Unido. Segundo a BBC, os Paradise Papers sugerem que Lorde Ashcroft continuou como residente de Belize e "trabalhou para contornar a nova lei e continuar evitando pagar impostos sobre sua renda estrangeira entre 2010 e 2015".

Lorde Ashcroft já doou milhões de dólares para o Partido Conservador, o que torna essa última revelação um pouco desconfortável para Theresa May, que prometeu atacar a evasão fiscal e paraísos fiscais.

A BBC liberou uma filmagem de um repórter do Panorama questionando Lorde Ashcroft sobre suas questões fiscais enquanto ele tenta escapar, repetindo baixinho "dear, dear, dear". Adotando uma técnica criada por Ken Livinstone, ele eventualmente se esconde num banheiro. Mais tarde ele achou uma boa tuitar uma piada sobre o encontro, em vez de, sei lá, pedir desculpas e se oferecer para pagar as centenas de milhões de dólares que deve ao tesouro real.

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Consultores de Donald Trump têm ainda mais ligações com a Rússia

O secretário de comércio de Donald Trump, Wilbur Ross, tem negócios com o genro de Vladimir Putin. Segundo o Guardian: "Ross tem ações de uma empresa de transportes, a Navigator, através de ligações de investimentos offshore. A Navigator tem uma parceria muito lucrativa com a Sibur, uma empresa de gás russa de propriedade de Kirill Shamalov, o marido da filha Katerina Tikhonova de Putin".

Os Paradise Papers também revelaram que duas instituições fundadas pelo estado russo investiram centenas de milhões de dólares no Twitter e Facebook. Os investimentos foram feitos através de veículos controlados por Yuri Milner, associado de Jared Kushner, genro e consultor sênior de Trump.

O chefe de arrecadação de Justin Trudeau tem ligações com esquemas de evasão fiscal nas Ilhas Cayman

O primeiro-ministro canadense Justin Trudeau foi eleito com uma plataforma de taxar os ricos e fez campanha contra paraísos fiscais. Então é estranho que Stephen Bronfman, chefe de arrecadação do Partido Liberal de Trudeau, tenha sido ligados a um fundo offshore nas Ilhas Cayman, o que o canal público canadense CBC especulou que pode ter custado milhões de dólares em impostos para o país.

Fundos offshore são legais no Canadá, desde que decisões de gerenciamento sejam realmente feitas nas jurisdições estrangeiras. A CBC diz que há vários exemplos de decisões tomadas no Canadá em vez de nas Ilhas Cayman. O que deixa algumas perguntas cabeludas para um associado próximo de um político que já declarou: "Evasão fiscal é algo que levo muito a sério".

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