Número de Mortos Sobe no "Dia da Ira" no Egito

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Número de Mortos Sobe no "Dia da Ira" no Egito

Fotos da crise egípcia.

Um "Dia da Ira" foi convocado pela Irmandade Muçulmana, hoje, em resposta ao assassinato de mais de 600 apoiantes de Mohamed Morsi na quarta-feira. O massacre foi realizado por militares egípcios, como parte de uma repressão aos acampamentos de protesto liderados pela Irmandade, nas cidades de Raba Al-Nahda e Adawiya. Antes do ataque, a Irmandade tinha organizado mais de 20 marchas para convergirem para o centro da Praça Ramsés, no Cairo, como uma demonstração de repúdio ao golpe militar que derrubou o ex-presidente Morsi em 3 de julho.

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O protesto em Ramsés permaneceu pacífico por cerca de uma hora, até que, segundo relatos, homens armados teriam atacado a  delegacia Asbakeya nas proximidades (os manifestantes pro-Morsi, no entanto, negam isso e afirmam que a polícia começou a disparar sem qualquer provocação por parte deles).

"Eu estive aqui desde o início e eu te digo ninguém fez nada", afirmou Mohamed Ali, um membro vitalício da Irmandade Muçulmana. "A polícia só nos atacou. Se alguém está atirando, ou é polícia ou são bandidos contrarrevolucionários."

Quando cheguei à Praça Ramsés, a tensão — e a fumaça das armas — era palpável. As explosões eram muito reais e muito altas. As rajadas de rifles soavam a cada 30 segundos ou menos, interrompendo o barulho dos helicópteros circulando acima. De vez em quando, o barulho de pequenas rajadas de tiros de artilharia pesada podia ser ouvida. Era impossível saber de qual direção os tiros estavam vindo, ou quem estava fazendo isso, mas um grupo de homens começou a apontar ansiosamente para uma ponte próxima, onde alguns caminhões blindados tinha estacionado. A 200 metros da Praça, as pessoas se aglomeravam atrás dos cantos de prédios para se protegerem.

"Você tá vendo a gente?", exclamou Mohamed, "você vê alguma arma? Estamos aqui pacificamente e eles estão nos matando, estes cães”. Um homem pelas ruas começou a cantar “no Ministério do Interior só tem bandidos", e todo mundo repetiu.

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Apesar do canto, membros da Irmandade Muçulmana também foram vistos com armas. A TV estatal egípcia divulgou amplamente imagens de membros da Irmandade Muçulmana disparando armas de assalto na Ponte dia 15 de Maio durante uma marcha em direção a Praça Ramsés. Mais tarde, a TV estatal mostrou os confrontos em curso com uma legenda na qual se lia: "O Egito combatendo o terrorismo".

Nem cinco minutos depois de falar com Mohamed, me deparei com dois homens nas redondezas da Praça que estavam fazendo coquetéis molotov. Eles me repreenderam enquanto eu tentava tirar uma foto e apontaram para a polícia. "Tire uma foto deles", um dos homens me disse. "Eles são os assassinos."

Quanto mais perto da praça você estivesse, mais as pessoas se moviam com rapidez, usando os edifícios para se protegerem. Um engenheiro aposentado de 63 anos se aproximou pedindo minha caneta emprestada. Em seu antebraço esquerdo, ele começou a escrever um número de telefone e acima dela, seu nome "Wael". "É o número da minha família, caso eu seja assassinado", ele me explicou. "Eu não sou um defensor de Mohamed Morsi , entende, eu sou apenas anti-exército e anti-golpe de Estado."

Ao lado do hospital Al Ahmar, cerca de 150 metros ao sul da Praça Ramsés, os tiros eram tão altos que parecia que eles estavam sendo disparados ao meu lado. Depois de um estrondo, um homem na minha frente tropeçou. Um buraco apareceu na parte superior de seu braço esquerdo, o sangue esguichando. Após dois passos, ele caiu e em menos de 30 segundos foi pego pelos seus colegas manifestantes, enfaixado e colocado em uma lambreta que o levou para outro hospital.

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Imediatamente, as pessoas correram para os portões fechados do hospital de Al Ahmar. "Nós estamos morrendo aqui", eles gritaram para os médicos que estavam lá dentro. Um homem começou a chacoalhar as portas tão violentamente que outros tiveram que contê-lo, mas não antes de mais tiros serem ouvidos, fazendo com que a multidão corresse para procurar algum abrigo melhor.

Em todo o país violentos confrontos têm acontecido, e esse provavelmente não será o último. Enquanto isso, o raciocínio das Forças Armadas — de que reprimir os acampamentos era o primeiro passo para a estabilidade e segurança — parece duvidoso na melhor das hipóteses. Com cada morte, outro mártir é criado e a divisão entre as Forças Armadas e a Irmandade Muçulmana cresce. Nesse ritmo, está começando a parecer impossível que uma reconciliação pacífica pode ser feita em breve.

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Milhares de simpatizantes de Morsi marcharam pela Ponte 15 de Maio em direção ao bairro de Zamalek no Cairo. Ariana Drehsler Ariana Drehsler

Ariana Drehsler

Pichações deixadas pelos simpatizantes de Morsi ainda podem ser vistas em partes da Rabaa al-Adawiya, depois que o acampamento de protesto da praça foi dispersado.Ariana Drehsler

A Mesquita Rabaa al-Adawiya foi incendiada quando as forças de segurança desocuparam a área. Mais de 600 pessoas foram mortas e milhares ficaram feridas no Egito.Ariana Drehsler

Moradores ajudam a limpar a Praça Rabaa al-Adawiya um dia depois que as forças de segurança dispersaram os manifestantes. Ariana Drehsler Ariana Drehsler

Um dia depois que o acampamento foi dispersado. Detritos dos enfrentamentos podem ser vistos em vários bairros do Cairo. Ariana Drehsler

Um dia depois do enfrentamento na Rabaa al-Adawiya.Ariana Drehsler

Uma das muitas entradas da Rabaa al-Adawiya, um dia depois que as forças de segurança dispersaram o acampamento de protesto. Sacos de areia ainda podem ser vistos onde os simpatizantes de Morsi fizeram barricadas improvisadas. Ariana Drehsler

Um cartaz rasgado do ex-presidente egípcio Mohamed Morsi no chão da Rabaa al-Adawiya, um dia depois que o acampamento na praça foi dispersado. Ariana Drehsler

Um homem pendura uma bandeira egípcia e um cartaz do General Sisi em frente à Mesquita Rabaa al-Adawiya, um dia depois do conflito na praça.Ariana Drehsler

Mosa'ab Elshamy

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