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Twitter: o dobro de caracteres e o dobro de ansiedade

Se isso é uma coisa boa ou ruim depende de quanto você se odeia.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Foto via Shutterstock / Arte por Noel Ransome.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Canadá.

O Twitter decidiu dobrar seu limite de caracteres de 140 para 280. O que provavelmente vai foder de vez com o site. Não sei se isso é bom ou ruim, porque o Twitter é algo que adoro odiar.

Cada plataforma de rede social entra nas nossas psiquês de uma maneira especial. O Facebook é onde vou para saber qual parente é racista e quais dos seus inimigos de escola viraram os fracassados que eu sempre soube que seriam, enquanto você senta sozinho no seu quarto lendo as coisas horríveis que eles escreveram sobre você no Piczo, e quais acabaram com uma vida feliz porque não existe justiça neste mundo. O Instagram serve para fazer a curadoria da sua vida por meio de fotografias cuidadosamente filtradas, numa corrida sísifica para superar a depressão cibernética. O Tumblr é para sentir a excitação erótica libertadora de descobrir gente que é tão estranha quanto você. O Snapchat é pra mandar nudes ou ler o Buzzfeed, não tenho certeza.

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E o Twitter: bom, o Twitter é um vislumbre do id do século 21. Na maior parte é um grande show de horrores. Você pode descobrir qual herói da sua infância é um babaca com opiniões horríveis e mau gosto para times, ou que jornalistas políticos não deveriam largar seu trabalho agora para se tornarem comediantes. Ele traz toda o prazer e terror da clássica cultura dos fóruns digitais diretamente para o cotidiano mainstream, onde simpatizantes nazistas brotam do nada nas suas menções para te lembrar que você é um merda. (Deus te ajude se você for uma mulher ou pessoa não-branca nesse site.) É um fluxo constante de ansiedade injetada direito nos seus olhos por horas, e um número alarmante de seres humanos precisam dele para trabalhar. Há uma boa chance da guerra nuclear começar no Twitter, o que em si já é uma metáfora perfeita da importância péssima do site.

Mas quando o Twitter é bom, Jesus, é bom demais. De todas as escrotices, esse é o único lugar onde os simples podem descontar suas frustrações nos ricos e poderosos com impunidade. Dizer algo inteligente, engraçado ou significativo em 140 caracteres é um desafio e quem consegue fazer isso bem é um mestre. Ele força as pessoas a serem concisas e expõe gente falastrona, que é obrigada a fazer uma tempestade de merda infinita e detestável (me desculpe Jeet Heer, cujas palestras em tuítes são um tesouro e vou brigar com quem disser o contrário). Postar é uma forma de arte e o limite arbitrário do Twitter moldou bons posts em pequenas obras-primas. Pessoas normais conseguiram alavancar sua proeza em tuítes para ligações significativas com outras pessoas, e até trabalhos pagos às vezes. (Consegui fazer as duas coisas, mas isso também pode ser um argumento de por que o site é horrível.)

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Naturalmente, o site sempre se esforçou para desencorajar as coisas boas e abrigar as ruins. Apesar de os usuários exigirem há anos que ele faça algo sobre as trolagens e assédio onipresentes, que levam usuários das antigas a sair do site e impede novos de entrar, o Twitter está mais preocupado com ajustes cosméticos idiotas que se passam por inovações. Sua conta pode ser suspensa por escrever palavrão para alguém mais sensível, mas uma chuva de tuítes com discurso de ódio é de boa, porque o algoritmo que peneira o feed é tão sem alma quanto as pessoas que o programaram.

E agora o grande golpe: 280 caracteres. Em vez da brevidade enlouquecedora e bela que fazia o site valer a pena, nossas timelines serão entupidas por blocos grossos de textos de nerds hipócritas, que precisam de 30 advérbios para gritar como o politicamente correto e/ou hackers russos arruinaram o último blockbuster besta de super-herói e suas infâncias. Legal, ótimo, perfeito. O único prazer estético que alguém podia tirar desse site escroto vai descer pelo ralo, porque ninguém que comanda o Twitter realmente entende por que as pessoas usam o site.

Bom, o ponto positivo disso tudo é que passar por blocos irritantes de 280 caracteres pode ser a gota que transborda o copo e destrói o site. Postagens idiotas de políticos não vão mais virar manchete, e um elo crítico na corrente da conectividade infinita e insuportável online será quebrado para sempre. Talvez a gente possa voltar a postar em fóruns como nos anos 2000.

Mas quem estou querendo enganar, né. O Twitter é um craque psíquico e todo mundo que o usa tem síndrome de Estocolmo. Odeio essa porra de site, e ainda assim preciso, tenho que atualizar a página.

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