Esta matéria foi originalmente publicada na VICE News .
Os EUA mexeu num controverso sistema de defesa de mísseis na Coreia do Sul nesta terça (2), horas depois de sobrevoar a região com dois aviões de bombardeio — uma ação descrita pela Coreia do Norte como "imprudente" e levando a área "mais perto de uma guerra nuclear".
A base de Pyongyang registrou incidente — dois bombardeiros supersônicos B-1B Lancer decolando de Guam para participar de exercícios com as forças aéreas sul-coreana e japonesa — como parte de "exercícios de bombardeio nuclear", numa época em que Donald Trump e "outros belicistas norte-americanos estão pedindo um ataque nuclear preventivo" na região.
"A provocação militar imprudente está levando a situação na Península Coreana um passo mais perto da guerra nuclear", informou a agência estatal de notícias KCNA.
O governo sul-coreano disse que o propósito da missão foi deter provocações do Norte e testar sua prontidão contra outros testes nucleares em potencial.
Ao elevar ainda mais as tensões na região, o exército norte-americano anunciou que o sistema Terminal High-Altitude Area Defense (THAAD) está "operando e tem a capacidade de interceptar mísseis norte-coreanos" — algo que só era esperado para o final de 2017. A notícia chega menos de uma semana depois que os EUA começaram a instalar o sistema num antigo campo de golfe na cidade de Seongju, sudeste do país.
O THAAD foi criado para destruir mísseis balísticos de curto e médio alcance durante sua fase final de voo, mas só "atingiu sua capacidade de interceptação inicial", segundo um oficial norte-americano, já que o sistema deve receber um upgrade ainda este ano com hardware adicional.
Horas depois que sistema entrou em operação, o Ministério de Relações Internacionais chinês pediu aos EUA que interrompa sua implantação: "A posição da China é clara e firme", disse o porta-voz do Ministério, Geng Shuang, a repórteres numa entrevista coletiva. "Somos contra a implantação do sistema THAAD e pedimos aos lados relevantes para parar imediatamente sua instalação. Vamos tomar as medidas necessárias para proteger nossos interesses."
Parte dessas "medidas necessárias" pode incluir ataques cibernéticos. Na última segunda (1ª), a empresa de segurança cibernética FireEye relatou que hackers apoiados pela China tentaram comprometer a segurança de um dos grupos envolvidos na instalação do sistema de mísseis de $1 bilhão.
O ataque provavelmente foi uma missão para juntar informações, já que a China se opôs à instalação do THAAD na Coreia do Sul, dizendo que o radar poderia ser modificado para permitir que o exército norte-americano espiasse as operações militares chinesas.
A Coreia do Sul confirmou ataques cibernéticos aos seus sistemas mês passado, vindos da China, mas não disse se os ataques visavam o THAAD especificamente. A China negou a acusação, dizendo que é contra ataques cibernéticos. "Essa posição é consistente, clara e séria", disse o Ministério de Relações Internacionais chinês numa declaração.
Além da oposição da China, o sistema THAAD também foi criticado por centenas de moradores descontentes de Seongju, que protestaram semana passada quando os primeiros componentes do sistema chegaram ao local. Os locais acreditam que o THAAD os coloca sob risco de ataque.
A instalação controversa também deve influenciar o resultado das eleições presidenciais da próxima semana, com Moon Jae-in, o candidato liberal moderado, sugerindo que pode renegociar os termos da implementação do sistema.
Semana passada, Trump pareceu estar pensando a mesma coisa, quando disse que a Coreia do Sul deveria pagar cerca de $1 bilhão pelo sistema antimíssil. No entanto, no domingo, o chefe de segurança nacional da Casa Branca, Lt. Gen. H.R. McMaster, voltou atrás na declaração, dizendo numa ligação telefônica aos colegas sul-coreanos que os EUA vão pagar pelo sistema.
Enquanto as ameaças continuam sendo feitas pelos dois lados, Trump parece ter suavizado sua posição sobre o líder norte-coreano Kim Jong Un. Semana passada ele disse que simpatizava com o fato de Kim ter que comandar seu país sendo tão jovem, o que é "uma coisa muito difícil de fazer". No final de semana, numa entrevista para a CBS, ele chamou Kim de "esperto" e na segunda, numa entrevista para a Bloomberg News, Trump disse que ficaria "honrado" em encontrar o ditador norte-coreano "nas circunstâncias certas".
Tradução: Marina Schnoor