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Como meus tuítes levaram à prisão do notório criminoso sexual Owen Labrie

Condenado por abusar de uma garota de 15 anos, Labrie estava livre após pagar fiança. Mas foi para as grades por violar o toque de recolher imposto pela Justiça.
Owen Labrie fala com sua advogada no tribunal na sexta passada. (Elizabeth Frantz/Concord Monitor via AP, Pool.)

Owen Labrie, 20 anos, ex-aluno do colégio interno St. Paul em New Hampshire. EUA, condenado ano passado por abusar sexualmente de uma caloura, está preso. Na última sexta-feira (18), ele entrou no tribunal de New Hampshire como um homem livre e saiu de lá algemado, sua fiança foi revogada por violações do toque de recolher.

A menos que a apelação de Labrie tenha sucesso, ele deverá cumprir um ano de prisão — ou oito meses por bom comportamento. E ele já está condenado a entrar para o registro de criminosos sexuais por pelos menos 15 anos depois de usar um computador para falar com a caloura menor de idade, irmã de uma outra garota com quem ele já tinha se envolvido.

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Fiz a cobertura do primeiro julgamento para a VICE, mas recentemente me vi envolvida diretamente no caso: segundo os promotores, as provas revelando essas violações de toque de recolher foram meus tuítes sobre um encontro com Labrie, durante um trajeto no transporte público que fiz com ele mês passado.

No dia 29 de fevereiro, por volta das 13h15, eu estava viajando de Cambridge para Boston, e cruzei com Labrie na Linha Vermelha. Para minha surpresa, depois que me apresentei e disse que tinha coberto seu julgamento para a VICE, ele deu espaço para que eu sentasse ao lado dele e respondeu minhas perguntas. Quando saí do trem, tuitei sobre o encontro acidental, depois ofereci algumas opiniões sobre o julgamento e seu resultado numa outra matéria para a VICE.

Na época, não notei nada na nossa conversa que me fizesse pensar que Labrie estava violando seu toque de recolher, que exige que ele fique na casa da mãe em Vermont entre as 17 e 8 horas da manhã todos os dias. (Na verdade, os promotores disseram que depois da nossa conversa, ele chegou em casa a tempo, apesar de ter saído de lá cedo demais naquela manhã.) Mas meus tuítes — especialmente aqueles em que eu comentava que Labrie tinha me dito que viajava regularmente de ônibus para Cambridge para visitar a namorada — chamaram a atenção da detetive Julie Curtin, da polícia de Concord.

As entrevistas subsequentes dela com motoristas de ônibus e balconistas da viação de Dartmouth, além de vídeos de segurança, mostraram que Labrie violava regularmente seu toque de recolher. Duas semanas depois, a promotora Catherine Ruffle pediu a revogação da fiança de Labrie e solicitou outra audiência.

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De repente, me vi envolvida com a história de uma maneira que nunca havia experimentado como jornalista profissional. Meu trajeto de volta do trabalho tinha se tornado notícia nacional. Eu estava no Today Show e Nancy Grance, e escreveram sobre mim no New York Times.

Nem preciso dizer, minhas menções no Twitter viraram uma zona.

Para esclarecer, minha entrevista com Labrie não foi nenhum feito jornalístico. Não tive que trabalhar com uma fonte, explorar bases de dados ou conseguir qualquer documento. Apenas cruzei com um notório criminoso sexual condenado numa linha de trem movimentada — que ele pega regularmente, aliás. Não sei nem se posso ter crédito por Labrie ter se aberto comigo: segundo os promotores, ele também era bastante falante com uma das balconistas da viação que vendia passagens para ele.

Para o bem ou para o mal, agora eu era parte de uma história que me fascinou — assim como a muitos norte-americanos — no meio de um debate nacional sobre abuso sexual.

Escrevi depois do papo com ele no trem que as rejeições de Labrie aos generosos acordos com a promotoria, diante das várias provas de que ele tinha penetrado a garota de 15 anos (ele sempre negou ter feito sexo com ela), tinham sido arrogantes. Também achei sinistro que Labrie tenha, segundo a decisão do juiz e dos jurados, mentido repetidamente, mesmo para o padrão de um julgamento criminal. Essas revelações — de que, depois de ser condenado, Labrie desobedecia regularmente as condições de sua fiança — serviram apenas para confirmar a húbris do rapaz para mim.

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Na audiência sobre a fiança sexta passada, a advogada de Labrie, Jaye Rancourt, admitiu que ele vinha desobedecendo o toque de recolher, mas disse que as viagens visavam obter aconselhamento legal e fazer visitas presenciais para completar sua educação online. Apesar de Labrie ter me dito que estava obtendo educação particular, Rancourt diz que a história que ele contou a mim e à balconista da viação — de que ele estava indo para Cambridge visitar a namorada — era mentira.

Na verdade, ele estava protegendo seus empreendimentos acadêmicos, ela explicou para o juiz. E a razão para não ter pedido uma extensão do toque de recolher para essas visitas, segundo ela disse — gesticulando para a sala cheia de repórteres — era por medo de atrair ainda mais atenção da mídia. Se o padrão de viagem dele fosse tornado público, segundo Rancourt, era possível que alguém tentasse ferir seu cliente.

A advogada também divulgou uma declaração afirmando que minha conversa com Labrie foi "em off" e que ele foi "abordado agressivamente" por mim, quando, na realidade, me apresentei como repórter, ele me recebeu educadamente e em nenhum momento discutimos conversar em off.

No final, o juiz Larry Smukler decidiu que não importava por que Labrie estava desobedecendo o toque de recolher — apenas que ele desobedeceu. Citando os problemas de "credibilidade" do acusado durante o julgamento, ele concluiu que Labrie pediu por isso. "Você trouxe isso para si mesmo", disse Smukler.

O julgamento por estupro em St. Paul acabou tomando aspectos de um drama grego. Labrie, filho de uma professora e um paisagista, era um estudante brilhante aceito num círculo de elite que treina líderes mundiais. Esses estudantes aprendem que são uma exceção, que a regra nem sempre se aplica, e que quando a responsabilidade cai sobre eles, é preciso "negar até morrer", como disse um dos colegas de Labrie.

Sem o dinheiro da maioria de seus colegas, Labrie parece ter se apegado a medidas alternativas de status social, num lugar onde o sucesso é medido por autossacrifício de um lado, e por quantas garotas mais novas você consegue pegar de outro. Com pontos extras para irmãs. No final das contas, foi isso sua ruína.

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