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Desporto

A Selecção Portuguesa de Roller Derby só joga para ganhar

Mulheres de patins à pancada? Deixa lá os estereótipos idiotas. Fomos conhecer a selecção nacional da modalidade.
Team Portugal Roller Derby

Apesar da campanha futebolística positiva, nem tudo é bola. Jovem, se gostas de cenas realmente diferentes, foges à normalização e tens mais de 18 anos… este artigo é para ti. Esta selecção nacional raramente empata, individualmente não tem estrelas, mas há quem use uma na cabeça para pontuar. Está mais do que na hora de alargar horizontes, conhecer e apoiar a Team Portugal Roller Derby.

Podem não ter o Pedro Abrunhosa a fazer-lhes o hino, mas também mais rapidamente escolhiam os Parkinsons, D3ö, ou mesmo um Dj Ride para compor uma possível canção oficial. O Roller Derby é um desporto de contacto em patins, maioritariamente no feminino (embora também haja equipas masculinas) e a nossa Selecção prepara-se para entrar num Torneio Europeu em Mons, na Bélgica, a 10 e 11 de Setembro, que vai contar também com a participação de colectivos oriundos da Dinamarca, França, Islândia, Itália, Holanda, Espanha, Suíça, País de Gales, assim como a equipa anfitriã belga.

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É uma equipa em construção e que ainda luta - quanto mais não seja - pelo reconhecimento da modalidade em Portugal, mas que tem feito um trabalho de preparação e progressão notável. Cheio de suor e lágrimas de dor, à conta de pés e braços partidos, entorses e lesões várias. São teimosas como tudo e isso é o que tem feito com que continuem e tentem sempre melhorar.

Marta Curtis, do Porto, foi pioneira na introdução da modalidade em Portugal e revela à VICE que tomou conhecimento deste desporto durante uma viagem que fez aos Estados Unidos. Ficou curiosa e resolveu saber se havia alguma equipa em Portugal. Não havia. Calhou também numa altura em que estreou o filme Whip It (2009), com uma abordagem à coisa algo romanceada, mas, pelo menos, serviu para dar a conhecer mais o desporto em terras lusas.

Fez um apelo no Facebook e juntou outras pessoas interessadas que nem se conheciam entre si: "O difícil foi depois arranjar um pavilhão para praticar a modalidade, já que ninguém conhecia e ninguém conseguia perceber exactamente o que era. Foi muito difícil fugir àquele estigma da 'mulher à pancada'…", conta a atleta do Roller Derby Porto, também conhecida como Bloodrunner, porque, aqui, todas têm nicknames.

Neste Europeu, Marta Curtis está convencida que a equipa nacional vai conseguir um bom lugar, acima das outras experiências internacionais anteriores, que já contam com uma presença num Mundial, em Dallas, nos Estados Unidos, e também num outro Europeu na mesma cidade belga, ambas as participações em 2014.

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Com mais experiência e mais jogos que as restantes equipas portuguesas, a team do Porto é a principal espinha dorsal do colectivo nacional, que também conta com atletas de Lisboa e até com algumas que jogam em equipas estrangeiras. Embora seja um desporto amador e todas tenham outras profissões, a modalidade é encarada de um modo bastante competitivo, apesar de também existir uma versão mais recreativa.

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Marta Curtis é uma das pioneiras da modalidade em Portugal. Foto por Christian Rosenbauer.

Fora deste Europeu está a equipa de Inglaterra e não, não é nenhuma boca relacionada com o Brexit. De facto - e, principalmente por causa da equipa londrina, que é uma das melhores do Mundo e está uns furos acima das suas congéneres europeias - para este torneio, não vem ninguém do outro lado do Canal da Mancha, o que equilibra um pouco mais o nível competitivo, cabendo assim a posição de favorita, segundo os rankings, à equipa francesa.

Naturalmente que não se podia deixar de ouvir o Mister, ou não tivesse ele o apelido Jesus - mas nada relacionado com o outro da bola, entenda-se. Eduardo Jesus a.k.a. Satyrus, é o selecionador nacional e à VICE confessa que, apesar de reconhecer as limitações, "se fosse para perder, não saia de casa!". E acrescenta: "Temos uma equipa sólida, que quer ganhar, que já demonstrou várias vezes que está aqui para vencer e quer bater o pé às seleções lá de fora. As equipas nacionais evoluíram muito e, naturalmente que, ao nível de selecção, isso também se reflecte".

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Team Portugal Roller Derby no Europeu, em 2014. Foto ©Vinciane Pierart aka NSP189

O lema da equipa portuguesa é Can't Block This e, de facto, determinação não lhes falta. Pelo que, nesse aspecto, é "como uma força que ninguém pode parar", já dizia a Nelly Furtado. Para os torneios internacionais, arranjar meios que façam face às despesas é que é mais difícil e cada deslocação implica sempre um cronograma logístico complicado de forma a se conseguirem fundos. A solução que encontram é, muitas vezes, a venda de merchandise. Ou seja, todos vocês podem ajudar.

MAS AFINAL COMO É QUE SE JOGA A ISTO, PÁ?

O Roller Derby tem um vocabulário muito próprio, e se achas que o "economês" tem muitos estrangeirismos, então o melhor é dares uma vista de olhos nesta linguagem. É todo um admirável mundo novo. Aqui fica o descomplicador possível.

Roller Derby Desporto de contacto, praticado em patins de quatro rodas (quads) e maioritariamente feminino. É jogado cinco contra cinco, numa pista oval e na direcção contrária aos ponteiros do relógio. O jogo (bout) tem duas partes de 30 minutos, que são divididas em jogos de dois minutos (jams) e o objectivo é ganhar o máximo de pontos durante esses 60 minutos. Entre os jams há um intervalo de 30 segundos para as equipas se alinharem, ou procederem a substituições. Por jogo, trabalham sete árbitros ao mesmo tempo.

Bout O jogo no seu todo e com fins competitivos.

Jam O bout é constituído por jogos de dois minutos chamados jams.

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Foto ©Vinciane Pierart aka NSP189

Jammer Uma espécie de ponta-de-lança. É uma patinadora identificada com uma estrela no capacete, que tenta passar pelas blockers da outra equipa. Cada jogadora da equipa adversária que for ultrapassada vale um ponto.

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Blocker As blockers são as jogadoras que tentam bloquear a passagem da jammer adversária para impedir que esta passe por elas e pontue, ao mesmo tempo que tentam abrir caminho para que a sua colega consiga furar a barreira adversária que também ali vai. Juntas formam um pack.

Pivot É também blocker, mas parte mais à frente. É diferenciada por uma touca com uma risca; o papel dela é orientar as restantes blockers. Caso a jammer esteja com muita dificuldade em passar as blockers da equipa adversária, pode retirar a touca e dá-la à pivot, que passa a ser jammer, a antiga jammer passa a ser uma blocker e a equipa fica sem pivot naquele jam.

Pack – É o bloco compacto que as blockers formam para impedir que a jammer adversária passe. As quatro blockers de cada equipa formam o pack.

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Foto ©Vinciane Pierart aka NSP189

Scrimmage Jogo amigável entre duas equipas para ganhar experiência. É útil para formações em início de carreira.

Bootcamp Treino intensivo, aberto a quem quiser participar. Geralmente a intenção é cativar novas praticantes. Para além de operação de charme, é também uma oportunidade de treinar com outras equipas. Para ajudar nas despesas, ou para pagar a um formador especial, geralmente cobra-se um valor, que não sendo muito alto, dá jeito.

Suicide Seats Lugares na pista para quem quiser assistir ao jogo: ficam sentados no chão, nas curvas da pista. Arriscam-se a ser atropelados pelas patinadoras.

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Foto ©Vinciane Pierart aka NSP189

Grand Slam Cada ponto é ganho por cada jogadora adversária que se ultrapasse legalmente (sem cometer penalidades). Se se conseguir fazer o pleno e passar as cinco, obtém-se um grand slam.

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Unicorn – São 5 grand slams, ou 25 a 29 pontos ganhos pela jammer.

Rainbow Unicorn São 10 grand slams, ou qualquer pontuação acima dos 50 pontos.

Zebra – O árbitro. São 7 ao todo em cada jogo, conhecidos pela sua farda às riscas brancas e pretas, mas também porque, às vezes, têm de deslocar-se em manada, por razões de segurança.

9 Month Injury Gravidez.

Derby Widow O/a namorado/a da/o praticante da modalidade. Como é um desporto muito absorvente em termos de tempo, diz que a malta fica viúva. A solução é apoiar a equipa também.


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