FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

O Movimento Jovem 6 de Abril Está Tentando Manter a Revolução Egípcia Viva

Há menos de um mês, o grupo ativista egípcio Movimento Jovem 6 de Abril (MJ6A) comemorou seu quinto aniversário com um “Dia de Fúria” contra o presidente Mohamed Morsi.

Há menos de um mês, o grupo ativista egípcio Movimento Jovem 6 de Abril (MJ6A) comemorou seu quinto aniversário com um “Dia de Fúria” contra o presidente Mohamed Morsi. O movimento popular não violento se formou oficialmente dois meses depois de ajudar a orquestrar uma greve geral na cidade industrial de Al-Mahalla Al-Kubra em 2008, quando — em busca de melhores salários e condições de trabalho — o grupo implorou aos trabalhadores para ficar em casa no dia 6 de abril ao invés de sair para trabalhar. Eu sei que você sabe como uma greve funciona, mas houve uma fundamentação específica por trás do método do MJ6A.

Publicidade

Mohamed Adel é um dos quatro fundadores do MJ6A e é uma das muitas vozes proeminentes na liderança da greve geral de cinco anos atrás. “As pessoas tinham medo de protestar na época — era perigoso e elas se perguntavam 'O que vamos conseguir com isso?'”, me contou Mohamed. “Nossa mensagem foi simplesmente: 'Fiquem em casa'. Um ato simples e seguro [de desobediência civil].”

Desde sua concepção, o MJ6A tem feito uso extensivo das redes sociais e panfletagem para espalhar a conscientização entre o que, no começo, era a juventude apática e apolítica do país. Num vídeo do movimento no YouTube, o cofundador Ahmed Maher explica: “Tentamos continuamente alcançar as pessoas nas universidades, nos cafés e nos clubes — a juventude que não está interessada em política”.

Durante a revolução dois anos atrás, o MJ6A foi uma força instrumental na organização e agrupamento de pessoas que incharam os números da massa crítica que eventualmente derrubaria Mubarak. Hoje, de acordo com Adel, eles contam com 15 mil “membros diretos”, comandam uma base de 100 mil partidários e têm cerca de meio milhão de pessoas seguindo as contas do movimento tanto no Facebook quanto no Twitter.

O papel estritamente não violento do grupo na revolução foi recompensado com uma indicação ao Prêmio Nobel em 2011. E a data de seis de abril foi escolhida em homenagem a esse dia do ano de 1930, quando a Marcha do Sal de Mahatma Gandhi começou a conquistar o que tinha se proposto a fazer: trazer a paz e o fim do domínio da Inglaterra sobre a Índia. A dedicação deles à paz é claramente muito importante. O símbolo do grupo, um punho levantado, é “compartilhado por movimentos não violentos da Rússia, Geórgia, Sérvia, África do Sul e outros”, explica Adel. “Nossa mensagem é: 'Teremos mudanças revolucionárias sem o uso da violência'. Isso mostra que somos unidos e fortes.”

Publicidade

Durante a última eleição presidencial egípcia, o MJ6A jogou seu peso atrás de Mohamed Morsi apenas para evitar a indicação de Ahmed Shafiq, primeiro-ministro de Mubarak e considerado renascente do velho regime. Agora, depois de menos de um ano de mandato, o grupo considera Morsi seu principal foco. “Pedimos votos para Morsi, mas se esses primeiros meses fossem uma prova, ele teria sido reprovado — nada mudou”, diz Adel. “Ele não está trabalhando pelos objetivos da revolução e sim pelos objetivos da Irmandade Muçulmana.”

A ideia de que é a Irmandade Muçulmana quem controla a presidência, que por sua vez controla a polícia e os tribunais, é tida como um segredo mal guardado pela maioria dos egípcios, e a separação de poderes no país é considerada uma farsa que continua a entreter a poucos.

Para seu quinto aniversário, o MJ6A organizou quatro marchas que saíram de quatro subúrbios do Cairo e se encontraram do lado de fora do Tribunal Superior da cidade. Vários outros partidos e movimentos se juntaram às marchas, incluindo os partidos dos líderes da oposição Hamdeen Sabahi (a Frente de Salvação Nacional) e Mohamed ElBaradei (o Partido Constituição).

A participação na marcha foi menor que o esperado, mas aqueles presentes se fizeram ouvir. Gritos de “Abaixo ao regime do Guia Supremo” (a Irmandade Muçulmana) correram por toda a marcha, apoiados pela batida constante de tambores. Os manifestantes também gritaram o nome de Gaber “Jika” Salah, membro do MJ6A considerado o primeiro mártir da posse de Morsi, morto em novembro do ano passado.

Publicidade

Homens e mulheres entregaram panfletos onde se lia: “Não há pão, não há liberdade, não há justiça, não há dignidade. O povo quer a queda do regime”. Eles zombaram do Ministério do Interior e do governo atual se referindo a eles como “ovelhas” e segurando punhados de trevo berseem, uma planta usada para alimentar o gado.

A marcha passou por lugares possivelmente incendiários sem incidentes e a presença da polícia durante a marcha foi surpreendentemente baixa. No começo da noite, as marchas separadas convergiram no Supremo Tribunal — com um número de participantes na casa dos milhares — e continuaram com os gritos. Os manifestantes pediram a libertação de ativistas detidos, incluindo vários membros do MJ6A, e a saída do Procurador-Geral, que acusam de tomar decisões baseadas em favores políticos.

Algumas pessoas soltaram fogos e os tambores começaram a tocar mais alto, mas nunca houve uma sensação de que aquilo se tornaria um tumulto. Então, por volta das 19h, todos os policiais do Tribunal Superior avançaram, ostensivamente preocupados que os manifestantes pudessem invadir o prédio, e atiraram cartuchos e gás lacrimogêneo na multidão. A manifestação se dispersou e os veículos blindados das Forças de Segurança Central chegaram, trazendo com eles mais paramilitares prontos para ajudar a polícia a “controlar” a multidão de manifestantes pacíficos.

Eventualmente, os embates seguiram o curso costumeiro de avanço e recuo entre manifestantes e a polícia, com as sirenes dos veículos blindados fornecendo mais uma vez a trilha sonora (as sirenes dos carros da segurança são para os manifestantes egípcios o que o psy trance é para as raves cafonas ou o que o punk crust é para as festas em ocupações na Holanda: onipresente).

Publicidade

Fady, um estudante de medicina de 18 anos, me disse: “Você está vendo? É isso que acontece quando você se manifesta pacificamente”. Abaixo de nós, um homem em trajes civis passou a atacar os manifestantes de repente, disparando fogos de artifício diretamente contra eles. “Policiais à paisana”, explicou Fady, balançando a cabeça.

O Ministério da Saúde informou que o número de feridos até às 22h era de 18 pessoas, mas é seguro dizer que o número real era bem maior quando os combates finalmente cessaram muitas horas depois.

No sábado seguinte, o MJ6A liberou uma declaração em sua página no Facebook repreendendo o Ministério do Interior, que eles acusam de se “prostituir” para cada novo regime. Assegurando sua intenção de continuar a luta por um Egito melhor, eles escreveram: “Rejeitamos completamente esses ataques injustificados e repressivos a manifestações pacíficas… E insistimos em continuar com nossos métodos de não violência para derrubar esse regime opressor”.

Siga o Adam no Twitter: @aporamsey

Curte ler sobre egípcios lutando contra seu governo? Veja mais aqui:

Ultras, Anarquistas e Conflitos nas Ruas do Egito

A Revolução Continua no Egito - Em Pequenos Flashs

Uma Entrevista Com um Combatente das Ruas do Egito