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cenas

Se acham que já viram de tudo é porque nunca leram o jornal da IURD

Manchetes mórbidas, sem políticos e celebridades.

No outro dia, passei pela Avenida de França, a caminho do metro da Casa da Música, e uma senhora passou-me um jornal gratuito para a mão enquanto dizia: “Este jornal é muito bom, muito forte!” Não liguei muito, pensei que fosse o

ou o Destak ou talvez um novo jornal gratuito. Aquela zona é quase a Speakers’ Corner dos ardinas desses pasquins. Mas a tal senhora não tinha boné ou colete a identificar a publicação, apenas um casaco comprido. Não era uma ardina normal. Olhei melhor para o jornal e deparei-me com a seguinte capa. Achei mesmo estranho: tanta manchete mórbida, mas nada de políticos, celebridades ou dicas sobre como satisfazer o/a seu/sua parceiro/a de 69 maneiras diferentes. Claro que isto não podia ser só mais um jornal gratuito. O Eu Era Assim é o novo jornal gratuito da Igreja Universal do Reino de Deus (além de ser, claro, uma linda balada da dupla Zezé Di Camargo e Luciano) e serve para fazer um apanhado de relatos na primeira pessoa de gente que estava perdida mas que encontrou coragem para viver melhor. Este é o primeiro número e saiu no mês passado. Embora algumas fotos possam ferir a sensibilidade do leitor, estas não são ficcionais e muito menos têm efeitos especiais. Cada caso seleccionado que figura na primeira edição deste jornal foi cuidadosamente escolhido, estudado e viu a sua veracidade ser confirmada, explica-se no editorial.  Aqui há de tudo: ninfomaníacas com perigosas (ou deliciosas) tendências para a bestialidade, toxicodependentes, assassinos, mulheres com cancro por todo o corpo e até artistas sem sucesso por causa da inveja. Todos eles conseguiram dar a volta à sua vida depois de consultarem um Centro de Ajuda da IURD. Acredite se quiser! Para lá das histórias macabras, o jornal tem material propagandístico, um consultório do amor e um teste para confirmarmos se estamos ou não possuídos (pode vir a dar jeito). É O Crime, o Avante! e a Maria num só jornal! Podia era ser um bocado mais como a Dica e incluir algumas anedotas. A IURD, tal como a VICE, é um conglomerado média multinacional e, como nós, têm sites, rádios, programas de televisão e publicações impressas. Só que, ao contrário de nós, não pagam impostos. Assim é fácil construir uma mega-igreja à Ted Haggard ali em Serpa Pinto. Na VICE, contentamo-nos com o nosso open space num edifício que é um ninho partilhado por outras empresas da área, tipo o Público ou a Lusa.

Por que é que a VICE não se torna uma religião, Shane? Pensa, o pessoal na Suécia criou uma religião para sacar cenas. Nós podemos criar uma religião para tomar ácido sem que a bófia nos aborreça e inventar rituais que envolvam tirar fotos a pessoas que se vestem bem/mal para gozar com elas. Não sei se podíamos ter patrocínios e essas coisas, mas só com o que pouparíamos em contribuições fiscais já dava para construir uma sede tipo bat-caverna!