Fotografando a menor cidade do Reino Unido

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Fotografando a menor cidade do Reino Unido

Tipo Twin Peaks, mas sem os assassinatos e tal.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Austrália .

St. David é uma pequena comunidade na ponta oeste do País de Gales. Só 1.891 pessoas moram ali, o que a torna a menor cidade do Reino Unido de longe. É um lugar lindíssimo — cercado por três lados pelo Canal St. George —, mas a localização remota e a falta de uma vida noturna não tornam a cidade um destino popular. Uma pena, na verdade, porque essa é uma cidade intrigante que não foi documentada o suficiente.

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Até recentemente, claro. Ano passado, Alex Ingram passou um bom tempo em St. David, fotografando as pessoas que escolheram viver longe das grandes metrópoles para a série David's House.

Ingram tem uma ligação especial com St. David porque cresceu lá. Em suas próprias palavras: "A cidade é cheia de folclore, tradições, história e avistamentos de extraterrestres". Temas atraentes, mas o trabalho de Ingram é mais calmo e doméstico.

Falamos com Ingram sobre a cidade que o criou e como ele resolveu devolver o favor.

VICE: Vamos começar de um jeito simples. Por que ir para a menor cidade do Reino Unido?
Alex Ingram: Cresci em St. David, então o projeto é tanto um estudo do lugar como um estudo sobre mim, e meu entendimento de lar. Tudo começou por causa do meu vizinho Dai: ele passou a vida inteira num raio de 5 quilômetros da fazenda onde nasceu, ele nunca saiu da cidade. Acho que St. David oferece tudo que ele quer da vida. Eu não me sentia assim. Quando era mais novo, eu não dava valor para a cidade: a linda costa, o mar, o modo de vida, as pessoas simpáticas. Depois de passar quatro anos em cidades grandes fazendo universidade, comecei a me sentir muito desligado do lugar — de casa. Quando voltei, comecei a entender por que as pessoas amam tanto St. David.

A população de St. David é quase o mesmo número de crianças matriculadas na escola onde fiz o ensino médio. É um ecossistema social parecido?
É um lugar meio estranho onde todo mundo se conhece, então você se sente incrivelmente seguro ali. Ao mesmo tempo, todo mundo sabe da vida de todo mundo, e as fofocas se espalham como um incêndio florestal. Mas acho que isso simplesmente acontece em lugares pequenos como esse, onde, sendo honesto, não acontece muita coisa. Há diferentes panelinhas em St. David, mas eu não diria que há rivalidade nem algo assim entre elas. Acho que coisas como raça, gênero, posses e origem social são tão importantes lá quanto em outros lugares do Reino Unido, o que parece incrivelmente divisivo hoje. St. David é um lugar onde as pessoas se importam.

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Falando de diversidade e tolerância, depois do Brexit parece que muitos olhos se voltaram para os eleitores das áreas rurais. O consenso é de que eles se sentem ignorados, ou cansados. Você sentiu isso em St. David?
Acho que o Brexit foi uma das maiores coisas acontecendo no nosso país nos tempos modernos. E concordando ou não, parece que isso infelizmente vai acontecer. Apesar de receber muito financiamento da União Europeia, muitas áreas rurais do País de Gales votaram a favor do Brexit. As pessoas se apressaram em pintar todo mundo igual e rotular as comunidades rurais como racistas, mas não acho que esse é o caso. Na verdade, eu estava em St. David fotografando esse projeto na época da votação do Brexit; falei com quem votou a favor e com quem votou contra. Não importa como as pessoas estavam votando, elas votaram pelo que achavam certo para suas famílias, amigos e as futuras gerações.

Fale mais sobre sua volta para lá.
Comecei a fotografar por volta dessa mesma época ano passado, começando com o Dai. Depois de um tempo, muita gente me abordou pedindo seu retrato, o que é bem incomum para um fotógrafo.

Meus pais ainda moram lá, então a casa da minha família meio que virou a base do projeto. Muitas vezes, na mesa do jantar, eu contava para os meus pais as pessoas que tinha encontrado e as histórias que elas me contavam. E meus pais diziam: "Ah, você precisa falar com o Mr. Perkins da prefeitura", e no dia seguinte eu pegava meu carro, aparecia lá e me apresentava. Era um método de trabalho muito orgânico, e o projeto floresceu assim.

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Gosto muito da imagem desse cara jovem [abaixo]. Não tem nada particularmente rural nele — talvez isso seja a internet mostrando seu alcance? Você acha que ser jovem em St. David é solitário hoje em dia?
Crescer em St. David não tem nada de solitário! Você cria amizades muito próximas com todo mundo da sua idade. Havia menos de 500 pessoas na minha escola do ensino médio, e onde meus pais moravam havia só umas 25 crianças da minha idade, então você cresce muito próximo delas. Não tinha muito o que fazer também, fora surfar, escalar ou procurar o que fazer nas matas e rios próximos: todo dia, o ano inteiro, fazíamos essas coisas com o mesmo grupinho, então inevitavelmente criamos laços muito fortes.

Quanto a foto que você mencionou, esse é um dos meus amigos mais antigos, o Rhys. A mãe e dois tios dele também aparecem no projeto, eles passaram a vida inteira em St. David e não gostariam de viver em nenhum outro lugar. Talvez eu também volte em algum ponto da minha vida, quem sabe.

Texto por Isabelle Hellyer. Alex Ingram mora e trabalha como fotógrafo freelance em Londres. Edições limitadas do livro David's House estão disponíveis aqui .

Tradução: Marina Schnoor

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