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A Maior Manifestação no Egito Desde a Revolução

O povo voltou a ficar em pé de guerra com seu governo. Eles querem que Morsi deixe o cargo de presidente.

O povo do Egito voltou a ficar em pé de guerra com seu governo. No domingo, exatamente um ano depois de o presidente Mohammed Morsi subir ao poder, milhões de egípcios tomaram as ruas exigindo que ele deixe o cargo. A manifestação foi a maior que o país já viu desde a revolução em 2011 e, apesar de os protestos terem sido, em sua maioria pacíficos, a violência em enclaves pelo país deixou pelo menos 14 mortos até o final do dia.

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No Cairo, oponentes do presidente lotaram a Praça Tharir, o epicentro da revolução de 2011, e as ruas ao redor do palácio presidencial. Seus apoiadores também realizaram protestos na praça próxima de Rabia Adawiya, brandindo armas e usando armaduras improvisadas, prometendo intervir se o palácio fosse atacado.

Fui até lá para saber como as coisas estavam indo e conversei com os dois lados.

Em grande desvantagem numérica durante os protestos de domingo, os membros do Partido da Liberdade e Justiça (PLJ) de Morsi dizem que a oposição está decidida a derrubar o mandato legitimamente democrático do presidente, abrindo caminho para um golpe orquestrado pelos militares e para o retorno da antiga ordem autoritária baseada na elite de empresários ricos.

“As pessoas escolheram os partidos islâmicos”, disse Wallay el-Din, um advogado membro do Partido da Liberdade e Justiça, mas não da Irmandade Muçulmana. “A oposição é contra a democracia.”

O movimento que organizou os protestos da oposição diz querer que o Supremo Tribunal Constitucional assuma o poder interinamente até que novas eleições sejam organizadas. Eles dizem que Morsi tem sido um presidente divisionista e que perdeu legitimidade depois de falhar em cumprir a promessa de dar uma vida melhor ao povo do Egito.

“Os empresários, a polícia, a mídia, os juízes — todos eles impedem que Morsi faça progresso”, diz Hosni Mahmoud, professor e membro da Irmandade Muçulmana. Assim como muitos daqueles que apoiam o presidente, ele vê a mão da velha elite egoísta por trás de cada revés e fracasso.

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Enquanto isso, marchas em todo o Cairo rumavam para o palácio presidencial, gritando pela renúncia de Morsi, comparando-o ao ex-presidente Mubarak e, em certa medida, dizendo coisas desagradáveis sobre sua mãe.

Mas por que os manifestantes estão tão insatisfeitos?

Alguns sempre odiaram a Irmandade. Muitos afirmam, sem provas, que Morsi venceu por meio de fraude eleitoral. Muitos sentem que a Irmandade monopolizou o poder, forçando uma constituição com inflexões islâmicas e tomando postos-chave, como o de Procurador-Geral, para seus partidários.

Eles chegaram ao poder prometendo uma vida melhor para as pessoas, mas o preço dos alimentos está subindo rápido, juntamente com o desemprego. Cortes de energia e escassez de combustível são frequentes. A geração que impulsionou a revolução agora é forçada a assistir enquanto o governo que lutou para eleger falha miseravelmente.

O último grande protesto contra o presidente islâmico (em novembro do ano passado) foi um caso de gente de classe média alta nas ruas, tornando fácil para a Irmandade Muçulmana retratar os envolvidos como uma minoria rica fora de contato com as pessoas comuns. Desta vez, foi muito diferente, com uma ampla faixa da sociedade egípcia participando dos protestos.

Fatheya Abdelkarim Hassan, mostrada acima à direita, juntou-se aos protestos de uma área pobre dos subúrbios do Cairo. Ela votou em Morsi no ano passado, mas se desiludiu depois de ver imagens dos partidários de Morsi atacando um protesto pacífico do lado de fora do palácio presidencial em novembro. Sua amiga, Fatin Mahmoud, a interrompeu para dizer que a Irmandade distribuiu arroz e macarrão em seu bairro antes da última eleição — o grupo estava tentando “comprar os pobres” — mas que essa tática não funcionaria mais.

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Muitas pessoas estavam pedindo que o exército tomasse as ruas para forçar Morsi a renunciar e começavam a festejar quando os helicópteros militares sobrevoavam a marcha. Alguns disseram que permaneceriam nas ruas até que o exército tirasse Morsi do poder.

Em outros pontos do Cairo, sedes da Irmandade foram incendiadas e saqueadas. A polícia tinha afirmado abertamente que não defenderia qualquer prédio da Irmandade.

No entanto, até agora, o exército continua em seus quartéis e Morsi continua no poder. Um amigo ativista dos direitos humanos que se opôs ao exército e a Irmandade desde o primeiro dia da revolução, escreveu no Facebook que sentia uma “mistura de feiura e beleza, divisão e solidariedade, excitamento e exaustão, romance e pragmatismo”.

Um dos lados feios dos eventos de domingo foi o retorno das agressões sexuais, que parecem acompanhar qualquer grande manifestação na Praça Tahrir nos dias de hoje. Até o momento, foram mais de 40 ataques — dois dos quais vi com meus próprios olhos.

Alguns comentaristas dizem que o Egito está à beira de uma guerra civil. Não é bem assim. Mas há uma divisão muito forte entre o processo democrático formal trazido pela revolução de 2011 e a força da paixão popular que isso desencadeou. A urna não tem sido capaz de satisfazer aqueles reunidos na Praça Tahrir, o que levou o exército egípcio a dar 48 horas para que as forças políticas resolvam os problemas atuais, ou os militares “anunciarão um novo mapa para o futuro”.

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