Como funcionam os fetiches no cérebro humano
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Semana do Sexo

Como funcionam os fetiches no cérebro humano

A ciência explica por que temos uma atração especial por coisas proibidas ou vistas como tabus.

Do BDSM à podolatria (idolatria por pés), é quase impossível que exista alguma pessoa no mundo que nunca teve o desejo de dar uma inovada na transa ou no próprio ato de tocar a si mesmo. Mas tudo isso tem uma explicação.

Fetiches não são fantasias. Ao contrário delas, esses desejos fazem parte de sentidos muito mais reais e de esferas físicas que mantém uma ligação com memórias da infância e aspectos que abordam as mais clássicas teorias de Freud e da psicanálise.

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De acordo com a doutora em neurociência Débora Amado, fetiches são atos que aumentam a libido e a liberação de hormônios sexuais. "Temos cada área do corpo representada em diferentes áreas cerebrais e todas as áreas possuem circuitos neuronais, vias que podem fazer conexão com as áreas genitais estimulando-as ou mesmo estimulando as vias envolvidas no ato sexual."

É até bem possível descobrir qual sua personalidade ou quais situações do passado mexeram com você através do fetiche que acende o desejo nas horas mais vulgares. Segundo a sexóloga e psicóloga Erika Oliveira, esse sentimento é muito subjetivo e cada fetiche é diferente um do outro. “Só com algum tratamento essa pessoa consegue ressignificar pra ela todas essas questões, mas não existe uma fórmula exata ou um desejo padrão. Vai depender muito do histórico de cada um.”

Quando essa vontade é saciada, o que difere de um orgasmo normal é a taxa de adrenalina liberada no corpo, além da endorfina e oxitocina. O prazer é sentido de uma forma diferente por ser algo que condiz com desejos mais profundos do seu inconsciente.

Normalmente coisas proibidas ou vistas como tabus promovem em todos nós um aumento de adrenalina que expande a perspectiva de tudo que vemos e sentimos. "Ativando as áreas genitais e a via do ato sexual ocorre a liberação de várias substâncias, dentre elas a dopamina e endorfinas (que estimulam áreas cerebrais chamadas de centros de recompensa); também hormônios como oxitocina (aumenta a empatia, a confiança, diminuem a nossa defesa), testosterona (principalmente em homens) e estrógeno (principalmente em mulheres), que aumentam o desejo sexual", complementa a neurocientista comportamental.

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Mas quando não realizados por questões de tabu ou pura negação social, a pessoa pode ter problemas de disfunção sexual ou falta da libido. “O inconsciente traz como mecanismo de defesa a própria disfunção para fazer com que o indivíduo não se frustre em relação àquilo, então acaba se privando disso de uma forma inconsciente”, completa a sexóloga. Ela também cita que a maioria dos pacientes que apresentam problemas sexuais, por não aceitarem seus desejos internos, são homens héteros.

Ela fala sobre o fato de haver fetiches que são vistos com maior normalidade e outros que não são aceitos socialmente. “O super aceito é o ménage, tanto que esse é o desejo mais comum entre homens. Já a segunda entre eles é a mulher como dominadora da relação sexual”. A psicóloga ressalta como exemplo a relação que o homem tem com a próstata e o prazer que sente ao estimulá-la, juntamente com uma dificuldade por parte de um cara heteronormativo em dar nome àquilo por conta de um histórico patriarcal que é imposto aos homens desde a infância.

O que não é classificado como fetiche, e sim como parafílico, são os transtornos de zoofilia e pedofilia, que é algo que se condiz com questões de abuso e força de poder do que desejos intrínsecos e controlados. As especialistas explicaram à VICE que se essa obsessão vêm causando prejuízo tanto para vida social, afetiva e emocional dessa pessoa e de outras que convivem com ela, isso não se classifica como fetiche e sim como transtorno parafílico – que deverá ser tratado com um psiquiatra.

No entanto, todos os efeitos funcionam de maneira semelhante no cérebro humano e é tudo uma questão da relação do indivíduo com o controle emocional e psicológico a partir daquela vontade. Essa questão acaba traçando uma linha bem tênue por parte do senso comum ao abordar e tratar diretamente com os fetiches. Na real, tudo se baseia no respeito à individualidade e buscar a todo momento o desejo recíproco, desde que isso não traga nenhum prejuízo social e afetivo para você e os demais.

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