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​Por que os PMs que Mataram os Pixadores na Mooca Foram Soltos?

Na última quarta-feira (13), os cinco policiais envolvidos nas mortes dos pixadores Jets e Anormal tiveram liberdade concedida pela Justiça mesmo com todos os indícios de violação dos direitos humanos.

Na última quarta-feira (13), a Justiça decidiu conceder liberdade aos cinco policiais militares envolvidos no caso dos pixadores Alex Dalla Vecchia Costa (conhecido no mundo do pixo como Jets) e Ailton dos Santos (Anormal), que foram mortos ao invadir um prédio no bairro paulistano da Mooca em julho do ano passado. A liminar foi concedida pelo desembargador Francisco Bruno, da 10ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de SP. Os réus estavam detidos há 19 dias.

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Na época, o caso ganhou repercussão. Parte dos pixadores paulistanos se sensibilizou e realizou um protesto no centro da cidade, em que reiteravam o discurso de que "pixador não anda armado". De um lado, amigos e familiares se mostram estarrecidos com a liminar de soltura e justificam que as vítimas só invadiram o prédio para pixar. Os PMs acusados Adilson Perez Segalla, Amilcezar Silvar, André de Figueiredo Pereira, Danilo Keity Matsuoka e Robson Oliva Costa alegam legítima defesa, afirmando que Alex e Ailton estavam, sim, armados. A Corregedoria da PM e o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) investigam se as duas armas entregues para a perícia não foram "plantadas" na cena. Existem várias discrepâncias no caso, mas a cereja do bolo se dá numa grande estranheza: no dia do crime, os PMs levaram 50 minutos para avisar a central sobre as mortes. Algo incomum em ocorrências policiais desse tipo.

"Indignada." É assim que Bruna Cardoso, viúva de Alex, se sentiu quando recebeu a notícia. Por telefone, ela conta que acabou de ter um filho. Descobriu a existência da gravidez poucos dias depois de o marido ser morto. "Dessa vez, achei que eles [policiais] ficariam presos. Tá todo mundo indignado. Não tem lógica. Já tá tudo provado, meu Deus. Eu tô indignada. Eu tô besta."

Protesto no centro de São Paulo depois da morte dos pixadores. Foto: Felipe Larozza/VICE

De acordo com o documento que decretava a prisão preventiva dos policiais envolvidos no caso, existem várias justificativas para a detenção. "Ressalto que os réus denotam periculosidade, pois se utilizaram da prerrogativa de serem policiais militares para, em tese, praticarem dois homicídios qualificados", traz a decisão assinada pelo juiz Rafael Dahne Strenger. Consta também no documento que "há indícios [de] que os acusados tentaram embaraçar as investigações, de forma a ludibriar a perícia criminal, pois, em tese, introduziram duas armas de fogo na cena do crime". O promotor Tomás Busnardo Ramadan, do Ministério Público de São Paulo, órgão responsável pela denúncia dos policiais, afirma discordar da decisão, que "estava muito bem fundamentada".

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Para a advogada da família de Alex, Eliane Ferreira de Laurentis, "o judiciário está agindo na contramão em relação à proteção da sociedade", já que "o natural para uma pessoa acusada de homicídio é ficar detida, aguardar julgamento e cumprir a pena." Por telefone, ela frisa considerar óbvia a "existência de culpa em relação aos acusados".

Procurado pela VICE, o advogado dos cinco policiais, João Carlos Campanini, não retornou as ligações até o fechamento desta reportagem.

No Facebook, pixadores amigos de Jets e Anormal lamentaram a soltura dos policiais. Um deles, Djan (Cripta) escreveu em sua fanpage que "cadeia no Brasil é pra preto e pobre. Enquanto isso, a marcha fúnebre prossegue sem esperança de luz no fim do túnel". Perguntado sobre como reagiram os pixadores, ele cita os sentimentos de frustração e impotência. "Apesar de não ser surpresa pra ninguém esse tipo de injustiça."

Para a advogada da família de Alex, os retardos na justiça e a falta de mobilização sobre o assunto – mesmo quando os indícios de violação dos direitos humanos são gritantes – acontecem por puro preconceito. "A nossa sociedade marginaliza os pixadores, os skatistas, os grafiteiros. Então, não há uma comoção nacional por conta disso."

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