VICE entrevista: Fernanda Lima
Foto: Divulgação Globo/ Ney Coelho.

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Entrevista

VICE entrevista: Fernanda Lima

"Fomos atropelados por esse fascista", diz sobre Bolsonaro.

Fernanda Lima tem se conscientizado mais sobre o seu lugar de privilégio no mundo. Aos 41 anos, a jornalista de formação se propõe entregar o microfone e espaço às minorias, além de defender campanhas contra o assédio junto de suas colegas de trabalho na TV Globo. Com o tempo, ela diz ter entendido que se posicionar politicamente era uma necessidade.

Para a apresentadora, não dá mais para aceitar calada as possíveis atrocidades contra a democracia que nos rondam e que estão por vir. Além de criticar o candidato a presidência Jair Bolsonaro (PSL) e chamá-lo de fascista, Fernanda acredita que é hora de agirmos. "A falta de humanidade está tão latente que, se não fizermos alguma coisa que seja, como tentar conversar com um vizinho sobre alguma posição fascista ou algo assim, tenho a sensação de que não vamos mais dormir tão bem", falou à VICE.

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Atualmente, ela clama por #EleNão, luta pelo empoderamento e protagonismo feminino, além de falar sobre relacionamentos, sexualidade, masturbação, relacionamentos não-heteronormativos possíveis e erotismo na TV aberta, para milhões de telespectadores – para que você, millennial, possa comentar no Twitter e, também, para que seus pais e avós entendam e desconstruam aquele tão sonhado 1% por dia.

A modelo que há quase 20 anos começou num programa de viagem na extinta MTV Brasil, o Mochilão MTV, hoje, apresenta e faz parte do time de roteiristas do programa Amor & Sexo, que estreia nesta terça (9) a sua 11ª temporada. Aproveitando a deixa, trocamos uma ideia com a Fernanda Lima para falar abertamente sobre política, ser mãe de dois meninos e ensiná-los a fazer faxina, sobre o papel das mulheres na produção de conteúdo adulto, e claro, sobre muito amor e sexo. Saca só:

VICE: Sexo é um tema pouco abordado nas escolas e em casa . Você acredita que a alta audiência do programa se deve a essa ausência do debate?
Fernanda Lima: O Amor & Sexo acaba preenchendo uma lacuna que fica vazia durante a adolescência, porque realmente é um despreparo absoluto, né. Se as pessoas lidassem com a sexualidade de uma forma mais naturalizada, provavelmente elas nem estariam votando no Bolsonaro.

Mas é um absurdo isso, as pessoas não podem ver uma pessoa pelada como se tivesse visto o demônio. É uma tristeza a maneira como as pessoas são reprimidas. Quantidade de gente no armário por medo de ser o que é, essa repressão, fazendo sensacionalismo em cima do fato de que as crianças não podem ter um ensino na escola sobre as diferenças. As pessoas distorcem como se as escolas quisessem orientar as crianças a serem gays ou transexuais, elas não conseguem botar a mão na consciência que uma criança que aprende a respeitar desde cedo vai viver numa sociedade mais igualitária, onde o básico é estabelecido como sociedade. Então, eu acho que o problema começa todo aí, na primeira infância, começa todo nessa repressão, negação, e, depois, cria adultos absolutamente vulneráveis mas com a máscara dos valentões. É tudo muito esquisito, não é, Bruno?

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É muito. Nem me fale.
É muito bizarro e é um sintoma tão claro, que fica tão claro quando a gente olha. Mas, de novo, a gente precisa, com amor, empatia, clareza, beleza, com música, argumentos. A gente precisa aos poucos fazer com que as pessoas que não têm acesso a isso, assistam, consigam entender que ninguém é melhor que ninguém, que é exatamente o oposto, por igualdade, de quem tem privilégios precisa repensar seus privilégios, porque não dá para viver dessa maneira. Ninguém consegue ser feliz sozinho. Ignorando o fato de que tem gente morrendo, tem mulher tomando surra, tem criança apanhando e o "Coiso" ainda estimulando a palmada corretiva. Quer dizer, é de uma brutalidade que não dá para dizer que é coisa de animal porque os animais são muito mais democráticos do que os homens.

E dóceis.
Exato. É de uma imbecilidade sem tamanho. É uma tristeza que está separando a gente de um jeito tão triste, tão feio, separando famílias, separando amigos, porque é uma questão de ideologia, de moral, a gente não pode aceitar isso senão estaremos caindo numa barbárie, se já não está isso.

"Enquanto a gente não for proibido, a gente vai falar sem parar. Enquanto eu tiver forças, tiver espaço, oportunidade, para mim não tem mais volta".

A bancada do programa sempre vem com novidades a cada temporada. Dessa vez, Djamila Ribeiro, mestra em Filosofia, feminista e ativista do movimento negro integra o elenco fixo. As pautas da Djamila retrata refletem o público do Amor & Sexo?
Sim, porque as pessoas que a Djamila representa também amam, também fazem sexo e também precisam de representatividade. E se tantas meninas negras brasileiras conseguirem assistir o Amor & Sexo e ver a figura da Djamila, com toda inteligência, com toda suavidade, com toda perseverança dela nessa luta, se essas meninas, crianças, adolescentes conseguirem olhar essa mulher negra e entender que ela foi capaz de estudar, de chegar ali e mandar um recado no nível que ela manda, qualquer um pode ser. Então, acho que isso dá uma esperança enorme.

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Bom, eu sou suspeita para falar, sou muito encantada pela Djamila, desde a primeira vez que eu a conheci eu quis trazer a Djamila pra dentro do programa, porque eu imaginava justo isso, a importância de uma pessoa como ela, à frente das câmeras, falando das coisas que elas sabem que ela estudou, que ela defende e da importância que isso tem, como isso se reflete na sociedade como um todo e principalmente nos negros brasileiros, que são a maior parte da população mas são minoria. Ainda são minoria quando se trata de direito.

Sempre que o programa vai ao ar, ele se torna um dos assuntos mais comentados no Twitter. A que se deve esse resultado?
Normalmente a televisão tem um propósito de entreter, é o objetivo da televisão, como um todo. No momento, que a gente vê alguns programas que não é só o Amor & Sexo, mas a gente vê alguns programas que buscam além de entreter, fazer com que as pessoas reflitam um pouco. E isso através de um bate-papo, de pessoas normais, que não são especialistas em nada. Claro que a gente tem especialistas, mas quando a gente está falando da Mariana Santos, o Edu Sterblitch e eu, um convidado, um artista, que não são exatamente especialistas naqueles assuntos e a gente começa a conversar e aprender junto, botar a mão na consciência juntos, e de repente, chegar a conclusões – porque o Amor e Sexo não tem ensaio, é um programa que acontece na hora, ninguém sabe o que vai acontecer –, então, quando eles vêm, eles estão numa situação em que eles precisam se colocar, concordando ou não. E isso acaba despertando muitas consciências. Acho que a mesma catarse que acontece ali no palco, entre nós, acontece quando a pessoa está assistindo o programa.

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Sabe aquele arrepio na nuca, que a gente sente que nos toca profundamente? O Amor & Sexo tem a capacidade de despertar isso em muitas pessoas. Como mãe do Amor & Sexo, reconheço essa virtude do programa, que foi a cada ano ficando evidente para nós, que fazemos o programa.

Você comentou que esta é a temporada mais importante da vida de vocês [produtores]. O que te fez concluir isso?
É porque a gente está sentindo na pele a dor das restrições e da violência. Ela atinge a todos nós. A falta de humanidade está tão latente que, se não fizermos alguma coisa que seja, como tentar conversar com um vizinho sobre alguma posição fascista ou algo assim, tenho a sensação de que não vamos mais dormir tão bem. Antes, estávamos adormecidos em relação à política, porque os nossos pais não fizeram nada também, ninguém nunca se importou tanto com política e as pessoas foram tomando conta da política, e fazendo dela o que bem queriam. Então, de uma hora para outra os jovens – digo até os mais jovens do que nós que fazemos o programa – se deram conta que se não tomassem conta da narrativa, se não começassem uma nova narrativa, ia acontecer o que está acontecendo agora. Talvez tenha sido um pouco tarde demais e a gente vai sofrer mais ainda por não ter atuado antes, mas antes tarde do que nunca. Nós, como roteiristas de um programa de comportamento, nos demos conta que os tempos estavam ficando muito sombrios, e isso foi de novembro pra cá, quando começamos a escrever o programa. Estávamos nos sentindo de mãos atadas para escrever um programa, porque como é que você escreve um programa que vai ao ar daqui a oito meses sem saber o que vai estar acontecendo daqui a oito meses?

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Mas a gente sentia que tinha alguma coisa muito séria acontecendo e que a gente não podia ser uma temporada festiva porque não há motivos para festejar. Teria que ser uma temporada mais política, porque a política se tornou o centro de tudo. E como fazer esse programa, que sempre foi visto como um programa leve, divertido, ser assimilado pelas pessoas? A gente mal sabe se as pessoas vão assimilar, mas hoje eu tenho certeza que muita gente vai parar para ouvir, porque eu vejo o programa de hoje como um foco de resistência, com uma proposta de reflexão amorosa e necessária.

Então, a gente que se reinventar novamente com o programa e pensar como agente poderia ser acessível a todos, mas colocando a empatia como foco, fazendo com que as pessoas conseguissem sentir a dor do outro. Sentir a falta que o outro tem. E é difícil fazer isso quando você é uma pessoa privilegiada, branca, com uma posição social diferenciada. Só que tem uma hora que é impossível você ignorar o que está acontecendo e acho que isso foi nos transformando profundamente, foi quando a gente se deu conta que a gente precisava de fato dar o microfone para algumas pessoas falarem. E esse é o meu motivo de maior orgulho, porque muita gente está ali representada no palco, ou seja, não sou eu defendendo minorias, é a própria minoria com o microfone na mão, dando o seu grito de resistência e pedindo que seja ouvido. Com discursos muito potentes, muito inteligentes, de pessoas que hoje tiveram a oportunidade de chegar numa universidade, de fazer um mestrado, um doutorado e estão ali. Tão capazes quanto qualquer empresário bem-sucedido, para falar de igual para igual, apesar de não ser tratado como igual.

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Com um segundo turno com Bolsonaro e um possível mandato dele, você acredita que se ele for eleito dará para falar dos temas que o programa aborda daqui pra frente?
A menos que eles nos proíbam de falar. Enquanto a gente não for proibido, a gente vai falar sem parar. Enquanto eu tiver forças, tiver espaço, oportunidade, para mim não tem mais volta. Não tenho mais como ser uma apresentadora de entretenimento que vai divertir o público.

"Não podemos esquecer que a gente não quer o fascismo, não quer ditadura, a gente não quer nada relacionado a tortura, violência, discriminação, então, #EleNão".

Você como apresentadora de horário nobre da maior emissora comercial do país, pode se posicionar politicamente?
Sempre fui uma pessoa completamente avessa à política. Sempre achei a política nefasta, nojenta, suja, com alianças duvidosas, sempre tive uma descrença enorme em relação à política e eu não entendo de política. Fomos atropelados por esse fascista, por esse show de horror que esse homem [Jair Bolsonaro] está fazendo no país. E de uma hora para outra, todo mundo teve que se tornar seres políticos. De uma hora pra outra, um Brasil que só falava em samba, futebol e Carnaval teve que todo mundo falar de política. Então, você vê hoje todo mundo conversando sobre política. Claro que a maior parte dessas pessoas, vamos dizer 90% dessas pessoas não entendem das entranhas políticas, porque a gente foi pego de assalto e eu sou só mais uma dessas. Agora, tive que começar a me manifestar. Foi sempre no #EleNão [responde gritando].

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Agora se você me perguntar qual é a solução, eu também não sei. Se a gente for falar de partidos, não acredito nos partidos, porque eles se reúnem, logo ali na frente, partidos que se odiavam daqui a pouco estão juntos. É uma desesperança total. Mas, não podemos esquecer que a gente não quer o fascismo, não quer ditadura, a gente não quer nada relacionado a tortura, violência, discriminação, então, #EleNão.

"Ah, mas você, vagabunda, não sei o quê"… Eles ficam bradando, repetindo sempre as mesmas bobagens. E botando foto de um grupo de artistas que fica um com o dedo no ânus, quer dizer, eles ficam repetindo falácias, bobagens, como se o que a gente estivesse falando não fosse importante.

"Ah, mas o PT roubou". Sim. Mas a base de tudo está na humanidade. Vamos falar de corrupção? Vamos, mas antes de tudo a gente não pode deixar que um cara que pregue esses valores vença a presidência, então, nesse sentido, a gente teve que se colocar politicamente, então agora é meio que correr atrás do prejuízo, estudar e se informar e tentar entender como é que a gente pode ajudar a colaborar ou mesmo entender essa entranha política que ficou tanto tempo atuando sem a gente se preocupar.

Eu fico perdida também, eu tenho certeza que um monte de gente fica perdida no meio de verdades, mentiras, fake news e tal. Mas, agora, isso que está acontecendo é mais grave que qualquer coisa. Qualquer pessoa que tenha filho, irmã, que tem um amigo negro, um amigo gay, não há como não se chocar com o que está acontecendo.

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A corrupção sempre houve, parece que é uma coisa nova no Brasil, mas é algo que a gente assiste há 30 anos. Eles só vão aperfeiçoando a maneira de roubar, mas o roubo sempre existiu e vai continuar existindo, não vai ser um partido ou outro que vai conseguir fechar essa torneira da corrupção.

Na nossa Semana do Sexo, lançamos um mini doc especial sobre as mulheres diretoras no pornô brasileiro. Como você enxerga as mulheres no comando das produções de conteúdo adulto?
Eu acho fundamental que as mulheres coloquem a visão delas sobre o erotismo, senão a gente só tem um lado da história. Nós somos seres humanos também e as mulheres têm uma maneira de sentir, de agir, de fazer, nada mais justo que as mulheres no mercado de trabalho como um todo, espalhando a sua visão, moralidade, ponderação, são grandes passos e fundamentais. Eu ,como mulher, me sinto muito privilegiada nesse momento, quer dizer, até ontem. Esse momento de grandes avanços, de leis acontecendo em favor da mulher. De uma tomada de consciência em relação à opressão que as mulheres sofrem, então, esse aspectos das diretoras é só mais um aspecto positivo a essa tomada de consciência e essa amostragem de outro lado da moeda, que não exclui necessariamente o home. Ele pode estar junto nessa, mas é preciso que ele entenda que exista uma outra pessoa.

A visão da mulher para falar de sexo é mais instigante?
Torna o assunto mais democrático, porque a visão da mulher sobre o sexo é uma visão complementar da do homem, diferenciada. Eu acho legal a mulher deixar de ser o único objeto no sexo e se tornar um ser ativo, que pensa, que sente, que troca, que não está ali só a serviço do prazer do homem. Claro que a gente não pode generalizar, tem homens interessantíssimos pensando junto com as mulheres, se desconstruindo, e aproveitando tudo que está sendo dito para se tornarem homens muito melhores. Porque têm os valentões que não estão nem aí para isso, mas se esses homens mais desconstruídos acompanharem esse discurso das mulheres, esse sexo vai ser muito mais interessante. Muito mais charmoso, erótico, tesão para todo mundo.

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Quais os exemplos de mulheres que você tem como referência sobre erotismo?
Hoje, pra mim, quem fala melhor sobre erotismo é a Audre Lorde. Tem muita literatura, felizmente, tem muita coisa boa para a gente ler sobre o erotismo. Aqui mesmo, no Brasil, por exemplo, a Regina [Navarro] que foi o meu primeiro acesso a essa literatura, que eu achei interessante, tinha um discurso diferenciado. Tem muito material, muita coisa interessante sendo dita, então, basta que a gente procure as melhores referências e caia dentro. Porque como mulher, acho muito difícil que alguma mulher discorde dessas tendências, claro que a gente pode discordar de alguns comportamentos, de alguns discursos, mas é uma questão de tempo, e que pelo menos a gente saiba respeitar essas diferenças e conseguir fazer com que as nossas relações sejam menos hipócritas também.

"Nesse business, aprendi desde muito cedo a encarar os ataques de maneira a não me ferir".

Na última entrevista sua publicada pelo jornal O Globo neste domingo (7), você comenta sobre ter mais um filho.
Eu vou ter que escolher em ter um trabalho ou ter um filho, não sei se vou conseguir fazer as duas coisas a tempo.

Foto: Arquivo Pessoal

Já passou pela sua cabeça sobre como é criar uma menina hoje em dia?
Eu gostaria de saber. Está melhor hoje do que já esteve. Hoje, se eu tivesse uma filha, eu estaria bastante preparada para educar uma filha menina, diferente de 10 anos atrás, já era bem mais difícil. Eu tenho certeza que vem uma geração aí muito porreta de meninas e meninos, eu tenho esperança.

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Também nessa entrevista, você disse que ensina seus filhos a arrumar a cama, mexer na máquina de lavar e que você mesma pega na vassoura. Isso parece ser surpreendente.
Não sei por que [risos].

Como você encara essa surpresa?
É o classicismo. As pessoas tendem a achar, porque no Brasil a gente tem essa mão de obra praticamente escrava ainda, que elas não precisam fazer esse trabalho doméstico. O que na verdade é uma grande terapia. Então, mesmo que eu tenha uma pessoa que me ajuda, principalmente no Brasil, que todo mundo tem, eu não vejo nenhum problema em botar uma luva e lavar uma louça, acho inclusive que é uma terapia. A gente sempre lidou dessa maneira com limpeza na minha casa. Eu e o Rodrigo [Hilbert, marido]. Não temos o menor pudor de sair limpando, varrendo. A gente tem a hora da geral em casa, em que as crianças têm que ajudar e eu acho que isso, sim, faz grandes homens e mulheres. Por isso que eu ensino e vivo passando isso para eles.

Isso também dá autonomia para quem quer que seja. Eu falo para as crianças: "Eu vou ensinar vocês a fazer um ovinho e pronto, agora até vocês, daqui a pouco, vão poder morar sozinhos, vocês não precisam de outra pessoa, conseguem fazer as coisas sozinhos e para isso basta aprender". É tão básico que eu fico chocada com a surpresa das pessoas.

Semana passada, Pabllo Vittar lançou seu segundo disco. Como é ver uma cria do Amor & Sexo, ser uma LGBT de sucesso e alcançar tanta visibilidade dentre os dois últimos anos?
Mais uma vez, é um clamor à democracia. À igualdade, de direitos, à representatividade. Quem gosta, quem segue esse fenômeno de likes, de seguidores, é uma necessidade que as pessoas estão tendo de novas vozes, novas representações, novos símbolos e eu acho que a Pabllo está enquadrada num espaço-tempo muito propício para ela.

Acho bonita a ascensão dela. E seja qual for o tipo de música que ela faça, só o fato de ela estar representando tanta gente, acho que já é um bom sinal dos tempos, de evolução.

Existe algum rótulo que te incomoda?
Não, nada mais me incomoda. Estou há muito tempo nesse business, então, aprendi desde muito cedo a encarar os ataques de maneira a não me ferir, senão você não consegue ter força para seguir, seja lá no que você acredita. E esse mundo virtual, ataques anônimos, quanto maior o ataque, mais desprezíveis, porque não há argumento, só ataque. Então, eu não deixo abalar. Inclusive, nos últimos tempos nem leio. Me resguardo, me protejo, medito, faço ioga, amo os meus filhos e tento jogar para fora só o bem. Não ficar contaminada por isso, porque contamina, né.

Total. No ano passado, o tribunal da internet criticou a sua mudança para os Estados Unidos. O que te fez morar fora do Brasil?
Olha, um dia fui buscar as crianças na escola e a rua da escola estava fechada porque estava tendo aquela guerra na Rocinha, entre os dois traficantes. Quando eu me dei conta que eu não ia conseguir chegar aos meus filhos, me deu um medo tremendo e me dei conta que eu não estava mais conseguindo viver com essa insegurança. Eu estava ficando em pânico e, também, comecei a observar que o ensino que estava sendo proporcionado no Brasil para eles não era exatamente o que eu acreditava como futuro do ensino.

Comecei a pesquisar outras formas de ensino e descobri que no Brasil ainda não tinha isso que estava me interessando. Então, na verdade, foi por eles que tomamos essa decisão.

Você acha que ainda tem o que aprender sobre amor e sexo?
Sempre. Com certeza.

Nunca para, né?
Não, nunca para. Tem sempre informação para quem estiver interessado em entender melhor a sexualidade, sua própria sexualidade, tudo que nos é de alguma maneira tolido. Como é que a gente extrapola isso na vida adulta, como é que nossos bloqueios se revelam no nosso comportamento. É um universo a ser desbravado e cada um mergulha como quer. Tem gente que só bota o dedinho do pé e acha que está tudo certo. Tem gente que quer mergulhar e entender. Eu sou uma mergulhadora profissional.

Você lê a VICE?
Eu amo a VICE. Adoro a VICE. Acompanho aqui, acompanho o Slutever, que é um programa que eu amo lá fora. A VICELAND como um todo. Eu só não tenho mais tempo para viver dentro da VICE, mas eu adoro a VICE.

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