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análise

Afinal, quem é que anda a enganar os "seis milhões" de benfiquistas?

O alegado hacker? Os actuais dirigentes da Luz? Os principais rivais? Tudo somado, o futebol português tem sido mais atraente fora do que dentro dos relvados.
Os encarnados estão envolvidos em tantos casos, que é difícil para um adepto seu manter a postura e o sorriso "everything is fine". (Filme "Me Before You", 2016, com Emilia Clarke. Foto cortesia Warner Bros. Pictures)

Adoro futebol. Pratiquei até ser júnior, marquei uns quantos golos numa das imensas equipas de quinta linha em Portugal e, como outros milhares de miúdos, o sonho de ser profissional ficou lá atrás. Escondido no baú de memórias que tiveram a sua graça até determinada altura.

Hoje em dia, na pele de adepto, vejo a modalidade no principal escalão com vários aspectos amargos ou com a data de validade ultrapassada há muito. Na realidade, olhando para a Liga NOS, os dirigentes e os árbitros são na maioria pouco recomendáveis, há somente meia dúzia de jogadores com potencial para serem indiscutíveis em qualquer um dos actuais líderes nos campeonatos dos big five (Eng-Esp-Ale-Fra-Ita) e duvido que haja treinadores de topo.

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Desde que se iniciou a época 2018 - 2019, o futebol tem sido pobrezinho - isto se tiver em conta a intensidade dos clubes do meio da tabela da Premier League - e mesmo o primeiro classificado, Benfica, tem tido actuações ligeiramente interessantes contra equipas medianas (e o primeiro clássico não deixou saudades). Só quando o "trio europeu" se estrear na fase de grupos da Champions e da Liga Europa, se verá o real estofo dos nossos representantes. Os encarnados têm um osso duro de roer - o Bayern de Munique -, os portistas têm a possibilidade de corrigir os percalços destas semanas iniciais ou podem afundar-se no terreno do Shalke 04 e a turma leonina está "proibida" de perder com os desconhecidos visitantes do Qarabag.

Da mesma forma que se vê um jogo, no campo das suposições é igual: cada cabeça sua sentença

Tal como o recheio da famosa mala em "Pulp Fiction", não faltam especulações sobre a possível ligação entre o eventual hacker a elementos do Sporting e FC Porto. (Filme de Quentin Tarantino, em 1994, com Samuel Jackson. Foto cortesia Miramax Films)

Inevitavelmente, os diversos filmes "gravados" nos bastidores têm captado maior atenção do que o espectáculo nas quatro linhas (a partida Santa Clara 3 - Boavista 3, foi uma das excepções). Em Setembro, foi "convidado um novo protagonista" que promete resmas de teorias da conspiração para, quem sabe, figurar na próxima sequela "Bondiana". Rui Pinto, gaiense com menos de 30 anos, é o suposto hacker que invadiu diversos contas de e-mail do Benfica e pôs a nu o alegado esquema de controlo do futebol português por parte dos seus dirigentes.

Na cabeça de muitos benfiquistas, o argumento está feito. O rapaz que anda ou andou pelas ruas da Hungria (e quem a revista Sábado, através de fontes na Polícia Judiciária e no Ministério Público, acredita ser o principal suspeito de penetrar ilegalmente no sistema informático das "águias"), terá recebido dinheiro para fazer parte de um complot - juntamente com gente do Sporting e do FC Porto - com a finalidade de arruinar a imagem do clube liderado por Luís Filipe Vieira. No reino das equações em território SLB, é demasiada coincidência que Bruno de Carvalho e Nuno Saraiva tivessem ido a Budapeste uns meses antes do encontro que juntou os departamentos de comunicação de verdes e azuis, num hotel em Lisboa; e que Diogo Faria, um dos co-autores do livro Polvo Encarnado (e comentador no Universo Porto da Bancada, às quintas), tenha sido colega de curso do pirata informático, na Faculdade de Letras da Invicta.

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Vê o primeiro episódio de Cyberwar


Veredicto in red color: os "leões" e os "dragões", em conluio com Rui Pinto, são culpados por terem violado a correspondência privada do Benfica. Quanto aos processos e suspeitas em redor do "glorioso", os adeptos preferem esperar pelos resultados da Justiça para opinar. Acreditam, porém, que a verdade desportiva jamais tenha sido afectada em qualquer um dos casos em que o clube está implicado.

Do outro lado da disputa, os sportinguistas e portistas não têm pruridos em concluir o seguinte: o enredo à volta do hacker serve como cortina de fumo para desviar as atenções das acusações do E-Toupeira e dos emails expostos na praça pública, inicialmente por Francisco J. Marques e "suas tropas" no Porto Canal. No ideário da "Santa Aliança", o facto do Benfica, na pessoa do seu assessor jurídico, Paulo Gonçalves, ter eventualmente requisitado oficiais de justiça para espiarem, entre outros, o processo dos e-mails, é um indício forte de que ele sabia a perigosidade dos escritos. Nem por acaso, uma das edições do semanário Expresso, em Março último, relatou que o clube da Luz sabia antecipadamente das buscas. Mais. Porque razão Luís Filipe Vieira foi adiando a sua ida à Justiça para ser interrogado - que acabou por não acontecer - e o vice, José Eduardo Moniz, também evitou a chamada ao comprar pretensamente uma viagem à última hora para o Brasil (entretanto desmentida pelo próprio)?

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Veredicto in green and blue colors: Luís Filipe Vieira aprovou os esquemas de Gonçalves e, claramente, o Benfica é culpado por ter viciado os campeonatos do Tetra. Quanto a um hipotético "assalto a três" à correspondência privada da equipa encarnada, os fãs da associação "dragarto" respondem com os habituais "à Justiça o que é da Justiça" e "há quem pretenda matar o mensageiro e não queira discutir a mensagem" (ou, o que foi realmente importante? Quem despoletou o Panama Papers ou a informação que lá constava? Snowden ou os dados que deu a conhecer?).

No meio desta luta de galos onde a testosterona faz faísca, alguém anda a enganar os "seis milhões" de benfiquistas. Quem? O hacker de Budapeste, os dirigentes dos rivais, os inimigos dentro da sua casa, ou isto é mais do mesmo num desporto em que o campeão foi, talvez, demasiadas vezes decidido debaixo da mesa? Como tens cabeça, certamente tens a tua sentença e, com tantas teses no ar, não estranharia que tivesses ainda uma mais rebuscada e original.


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