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análise

Festival da Canção. Catorze finalistas, uma obsessão e a Inês

No domingo, 4 de Março, em Guimarães, decide-se qual será o representante português na próxima edição da Eurovisão. Há quatro favoritos, um alegado plágio e uma trapalhada na contagem de votos.
Janeiro e Cláudia Pascoal. Dois favoritos a representar Portugal na Eurovisão. Imagem pelo autor.

*Devido ao anúncio da desistência de Diogo Piçarra e da sua substituição por Susana Travassos, este artigo foi editado e actualizado na manhã de 28 de Fevereiro.

Já foi quase há um ano e ainda parece irreal. Portugal venceu o Festival Eurovisão da Canção e, como tal, a 12 de Maio próximo será o anfitrião do certame. Antes, é tempo de escolher o candidato luso.

Por aquilo que se viu nas duas semi-finais - e contabilizados os votos do júri e dos espectadores -, há uma certeza/obsessão. Depois de "Amar pelos Dois", dos manos Sobral, teremos uma nova balada disputada a quatro (Catarina Miranda, Cláudia Pascoal, Janeiro e o fado de Peu Madureira). À procura de repetir a fórmula de vitória?

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Do que se ouviu no palco da RTP, faltou a aposta em outros géneros, houve artistas que nos deram sonolência e há uma Inês que merece mais honras televisivas a seu cargo. A Final com os catorze candidatos, acontece este domingo à noite, 4 de Março, no Pavilhão Multiusos, em Guimarães.

Uma montra da música portuguesa aquém das expectativas

Escutados os vinte e seis temas apresentados no Festival da Canção, há um desapontamento difícil de evitar. Com tanta boa música portuguesa a ser feita nos dias que correm (e a par de outros heróis do passado), não foi possível melhor? Podemos até imaginar que alguns dos jurados - a começar pelo crítico do suplemento Ípsilon/Público, Mário Lopes - preferiam estar noutro local àquela hora, pela quantidade de "chochice" que lhes passou pela frente.

Inês Lopes Gonçalves na “Green Room”. As entrevistas rápidas e as observações que vai fazendo, são sinónimo de inteligência em movimento. Imagem pelo autor

Onde estão os compositores que dessem à competição um pop rock à Manuel Fúria e Capitão Fausto? O hip-hop na senda de um Sam The Kid (Capicua preferiu escolher outros caminhos…), ou o ritmo desconcertante dos artistas da Enchufada? E a rockalhada frenética à la trupe de Barcelos e uns “metaleiros” na onda dos Moonspell?

O que se viu por parte da maioria dos concorrentes foi muito fraquinho. Uns pareciam que estavam num qualquer tributo patriótico; outros compositores massajaram o ego, porque já ninguém lhes liga desde a década de 90; e ainda houve quem parecesse estar, simplesmente, numa jam session manhosa.

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Em sentido oposto, não podemos enjeitar uma palavra de elogio à apresentadora Inês Lopes Gonçalves. A sua desenvoltura e perspicácia em questionar os participantes na sala de espera (a “Green Room”), mostra que merece um protagonismo maior do que o papel menor no 5 Para a Meia-Noite, ou a condução de um programa meio escondido na RTP Memória.

O jornalista Mário Lopes faz parte dos elementos do júri. Será que apanhou uma seca aqui, acolá e ali? Imagem pelo autor

Conhecidas as catorze finalistas, é improvável que haja alguma que possa vir a ter o “efeito Salvador Sobral”. Era pedir muito a um País que sempre esteve longe do top ten na Eurovisão que repetisse o êxito. Daqui a dois meses, saberemos se a candidatura portuguesa cairá no goto de outros europeus e será favorita na derradeira votação. A seguir, respeitando a ordem de actuação na Final, conhece a nossa opinião sobre todo o elenco e os respectivos vídeos.

1. “Sem Medo” - Rui David (Compositor: Jorge Palma)

Quem disse a Rui David que iria para uma sessão de karaoke, enganou-o bem enganado. Em nota de rodapé, foi bizarro como passou à fase seguinte (por erro na contagem do voto do público), em detrimento da equipa de Mallu Magalhães.

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Como assim?

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: Houve um massacre numa escola, na Flórida, EUA, e os estudantes (bem como milhares em outros Estados) manifestaram-se, com vigor e sem receios, contra a lei que regula a compra e uso de armas.

2. “Mensageira” - Susana Travassos (Compositora: Aline Frazão)

Diogo Piçarra desistiu por causa da suspeita de plágio a uma canção da IURD e, em seu lugar, é repescada Susana Travassos. Revelando um timbre que navega entre Teresa Salgueiro e Cristina Branco, a cantora traz-nos uma proposta bastante válida e que nos faz querer descobrir o seu percurso com ligações à América Latina.

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Chances na Eurovisão se for a escolhida: Nem sempre as boas intenções são compreendidas.

O que é o titulo da canção faz lembrar por estes dias: Através da comunicação social, esta semana recebemos a mensagem de que a Misericórdia de Lisboa deve mesmo entrar no Montepio. A ser um facto, este brincar aos banqueiros com o dinheiro dos pobres é de um chico espertismo atroz e ignóbil.

3. “Sunset” - Peter Serrado (Compositor: Peter Serrado)

Com semelhanças ao David Fonseca de início de carreira (por causa do corte de cabelo e da pose com a guitarra), este luso canadiano mostrou um pôr-de-sol com reduzida piada.

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Só os brincalhões pensam nessa possibilidade.

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: A época dos incêndios ainda está distante e, por isso, prevenir é a melhor solução para evitar fins de tarde horríveis. Ao pressionar as autarquias na rigidez da limpeza das matas e florestas, o governo parece, pelo menos, ter aprendido alguma coisa com as tragédias dos últimos dez meses.

4. “Zero a Zero” - Joana Espadinha (Compositor: Benjamin)

Sentimo-nos bem com este tema. Será a voz da Joana? O groovebenjamiano”?

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Se fosse o Festival Termómetro do Alvim…

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: O PCP pediu a suspensão do acordo ortográfico. Concordamos. Era começar do início, rever as diversas ratoeiras linguísticas” e ver quais os países da lusofonia que desejam realmente cumprir as normas.

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5. “O Voo Das Cegonhas” - Lili (Compositor: Armando Teixeira)

O músico por detrás de Balla não desiludiu na escolha do tema e da intérprete. Será que vai acertar no alvo pretendido? Talvez, somente no universo radiofónico…

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Passagem à tangente para o "Dia F".

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: Como o livro com o mesmo nome fala de conspirações de proporções internacionais, só podíamos trazer à baila Trump e as alegadas “ligações perigosas” com os russos na última eleição presidencial norte-americana.

6. “Para Sorrir Eu Não Preciso De Nada” - Catarina Miranda (Compositor: Júlio Resende)

Além de ter sido a intérprete com a melhor imagem (no capítulo da vestimenta), a cantora também conhecida por Emmy Curl desempenhou eficazmente esta sweet song.

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Ter o passe para o dia decisivo e ficar a meio da tabela.

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: A forma natural como o presidente Marcelo dá alento aos mais frágeis da sociedade portuguesa.

7. "Anda Estragar-me Os Planos” - Joana Barra Vaz (Compositora: Francisca Cortesão)

Aí está uma das pérolas deste festival. As hipóteses de seguir em frente são quase nulas, mas vai rodar em muitos iPods (ou gadgets do género) com gosto apurado. Ficamos a imaginar como seria esta música com a voz de Márcia ou Luís Severo.

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Já era bom que vencesse o “campeonato doméstico”…

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O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: A falta de apoio que os deputados do PSD deram ao novo líder parlamentar, Fernando Negrão. Rui Rio começa com forte oposição interna.

8. “Amor Veloz” - David Pessoa (Compositor: Francisco Rebelo)

Que desilusão. Para quem tem no currículo bandas como Cool Hipnoise, Spaceboys ou Orelha Negra, o produto apresentado por Francisco Rebelo é suficiente menos.

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Eliminação precoce antes da final.

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: Os sócios do Sporting a aprovarem, em menos de duas semanas, três pontos polémicos desejados pelo presidente Bruno de Carvalho.

9. “Patati Patata” - Minnie & Rhayra (Compositor: Paulo Flores)

Finalmente, um tom alegre e exótico na pista da segunda meia-final. Com as duas cantoras a remeterem o espectador para o imaginário de Carmen Miranda (com flores no cabelo), foi engraçado vê-las a bailar e a citar dez línguas (!).

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Atinge os mínimos, ao ser uma das finalistas.

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: Sabendo que “Patati e Patatá” pode ser relacionado com dois palhaços famosos do Brasil, recomendamos algo que nos fez rir imenso neste início de ano: o filme “Um Desastre de Artista”.

10. “(sem título)” - Janeiro (Compositor: Janeiro)

A primeira eliminatória ficou marcada pelo emergir da leveza lisboeta deste som…E pela banana que Henrique Janeiro foi comendo, enquanto respondia a perguntas de Inês Lopes Gonçalves.

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Chances na Eurovisão se for a escolhida: Como o intérprete foi designado por Salvador Sobral, o “olheiro”pode ter acertado na mouche.

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: A polémica saída do ex-administrador com o pelouro dos conteúdos, Nuno Artur da Silva, da RTP.

11. “Bandeira Azul” - Maria Inês Paris (Compositor: Tito Paris)

Tem a brisa de um Verão sossegado, a vocalista cumpre a tarefa e pouco mais há a acrescentar.

Chances na Eurovisão se for a escolhida: É melhor evitar este tópico…

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: As exibições do FC Porto, de Sérgio Conceição, na Liga NOS.

“12. Pra Te Dar Abrigo” - Anabela (Compositor: Fernando Tordo)

A autoria é do incontornável Tordo, a Anabela demonstra alto sentido profissional e ambos encaixam bem. Só há um único problema. Estamos em 2018.

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Pior do que a própria Anabela conseguiu quando levou Portugal à 11ª posição, com “A Cidade Até Ser Dia”, em 1993.

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: A urgente retirada dos civis que sofrem e vão morrendo na Guerra da Síria.

13. “O Jardim” - Cláudia Pascoal (Compositora: Isaura)

A pop electrónica “recortada” no feminino anda de boa saúde, com Surma e Isaura na liderança. Cláudia Pascoal empresta a teatralidade necessária para enfatizar a saudade de alguém que já não está por perto.

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Chegar à final e sonhar.

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O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: O escândalo à volta da ONG Oxfam. A organização que devia significar um jardim de esperança para as populações que são afectadas pela pobreza e catástrofes (Chade, Haiti), tem sido marcada por múltiplos escândalos de prostituição envolvendo alguns dos seus membros.

14. “Só Por Ela” - Peu Madureira (Compositor: Diogo Clemente)

Aleluia, que se cantou o fado (não é o Camané, but that's ok). Com uma postura “firme e hirto”, o cantor levou a sua avante e lá passou a mensagem com toque platónico.

Chances na Eurovisão se for a escolhida: Pode ser um falhanço total (pois o género está fora dos cânones que se ouve regularmente no evento), ou um novo outsider made in Portugal.

O que é que o título da canção faz lembrar por estes dias: Devido ao movimento #MeToo, não têm faltado decisões que pretendam mostrar respeito por elas. Nessa linha de pensamento, a Fórmula 1 resolveu dispensar as mulheres que “enfeitavam” as grelhas de partida.


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