Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.
Suponho que, a priori, para alguns de vós, possa parecer estranho que alguém não queira ter sexo com a sua cara-metade. Ahahahahahahaha! AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH! Jovens ingénuos. A vossa inocência é tão fofinha, que até os golfinhos choram. Enfim, bem-vindos ao mundo real, bem-vindos à idade adulta, bem-vindos à maturidade, onde tudo, absolutamente tudo, apodrece. Gente que atira os seus bebés para dentro de contentores, empresários apressados que não deixam gorjeta nos restaurantes e, sim, casais que agora mesmo estarão há uns quatro anos sem ter sexo.
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Não quero desiludir ninguém, mas às vezes chega um momento em que essa paixão que te fazia pinar em casas-de-banho de estações rodoviárias desaparece completamente. Também não é preciso fazê-lo todos os dias, é normal que a frequência baixe à medida que a relação avança. Acontece com toda a gente.
De certa forma, faz muito sentido que a última coisa que queiras fazer à noite seja voltar a afiambrar essa gaja (ou gajo) com quem já copulaste umas 500 vezes. Fazer 500 vezes a mesma coisa é um horror. É como comer 500 Ferrero Rocher, beber 500 cervejas, ter 500 amigos, ou viver 500 vidas. A repetição, o facto de se transformar algo em rotina quotidiana, esvazia a essência das coisas.
Vê: “O que é que se passa com o amor?“
Digamos que a normalização do sexo o transforma em algo medíocre, despojado de afecto. A familiaridade do corpo da tua cara-metade e a previsibilidade das vossas acções, transformam o acto sexual em algo mecânico. Pinar transformou-se num acto de condescendência. Começas a fazê-lo por pena e para não arranjar problemas, não por prazer.
É inegável (e necessário): as pessoas cansam-se umas das outras. Chega um ponto em que a felicidade não vem da pessoa com quem decidiste “formar um lar” — estas foram as palavras que utilizaste quando contaste aos teus colegas que ias viver com ele, ou com ela —, mas sim, saber que está quase a chegar a quinta-feira, e cada quinta o jantar é pizza
“Digamos que a normalização do sexo o transforma em algo medíocre”.
Vamos ao que interessa. Quando depois de comerem, a tua companheira olha para ti e te propõe “fazer uma sesta”, não desesperes. Durante o dia há centenas de actividades que suplantam o sexo – pregar quadros na parede, ir ao supermercado, panar carne… – por isso, não haverá problema em arranjar uma desculpa convincente.
O problema é à noite. Se não tens sexo durante essas horas é porque estás num desses casais tristes que têm problemas de sexo – e isso é algo que não queremos que aconteça, ou que não queremos aceitar, nem nunca aceitaremos. Aqui é onde é preciso começar a utilizar o cérebro.
Existem muitas desculpas à disposição e, na verdade, há mais motivos para não ter sexo que para tê-lo. Para que conste, não me refiro à maternidade, ou às DST. Então, o que é que é preciso fazer quando chega esse momento em que cai a noite e ambos vão para a cama, há um momento de silêncio, recebes uma carícia e não acontece nada de nada?
DEMASIADO CANSADO PARA TER SEXO
Um clássico. Pessoalmente gosto bastante de emitir um suspiro, mesmo antes de deitar-me na cama, assim deixo as coisas claras desde o início, antes que me façam uma proposta. De certeza que já recorreste a esta técnica mais de uma vez. Se não perceberam a tua indirecta podes sempre dizer: “Ai, estou tão cansado”. Acompanhado de: “O trabalho está a dar comigo em maluco”.
A verdade é que passas o dia a trabalhar e o que mais faltava era que agora tivesses de ter sexo e, ainda por cima, fazê-lo minimamente bem, ou seja, trabalhar outra vez depois do trabalho. A única coisa que queres é fechar os olhos e não sentir nem pensar em nada.
A outra pessoa, provavelmente, entrará em modo cólera – ela também trabalha – por isso, o que te espera é uma longa conversa que acabará, provavelmente, em discussão, numa guerra dialéctica infinita. Isto é algo que pode alargar-se até às quatro da manhã, por isso às vezes é melhor – simplesmente – ter sexo durante cinco minutos para que ele, ou ela, se calem.
A OUTRA PESSOA ESTÁ DEMASIADO CANSADA PARA TER SEXO
O mesmo que antes, mas ao contrário. Façam muitas coisas depois do trabalho: passear, ir às compras, aulas de zumba, qualquer coisa. Cansa o teu parceiro e vais ver que está tão exausto que nem te vai propor nada. Foi o que me fizeram durante um ano e meio e funcionou lindamente.
TENHO DEMASIADO TRABALHO PARA TER SEXO
Outra boa desculpa é levar o trabalho para casa. “Isabel, a noite é o único momento do dia em que posso dedicar-me completamente à minha novela”, coisas assim. A parte boa é que, como estás em frente a um computador podes masturbar-te, mesmo tendo recusado ter sexo.
Atenção, isto é sobre não ter sexo com a pessoa com quem estás, não sobre perder a libido. Com piores resultados, mas ainda dentro da mesma categoria temos “amanhã tenho de acordar especialmente cedo”, ou “vai dar um filme que quero mesmo ver”. Discursos difíceis de defender, mas que às vezes funcionam.
TENHO UM JANTAR DE EMPRESA, NÃO POSSO TER SEXO HOJE
Também podes “sair com os teus amigos”, ou “jantar com os do trabalho”. Isto significa que sairás para um passeio solitário e que voltarás quando consideres que não há ninguém acordado em casa. Bebe um copo para cheirares a álcool. É um bocado chato, mas funciona.
O problema aparece quando tens de justificar estas saídas quase diariamente. Por isso, recomendo que uses esta desculpa de forma pontual, ou como medida desesperada. Também podes embebedar-te todos os dias e, nesse caso, talvez chegues a casa on fire e acabes por ter sexo. Se acabar com a tua vida está dentro dos teus planos próximos, então esta é a melhor opção para ti.
CRIAR UMA DOENÇA: O TEU PARCEIRO É VICIADO EM SEXO
Esta é mais complicada. Requer tempo. Consiste em inverter a situação e converter o TEU problema no SEU problema: sentares-te na cama e dizeres: “Mas se já tivemos sexo ontem…”. E rematar com: “Acho que estás viciada em sexo”.
A longo prazo pode ser que acredite, aliás TENHO A CERTEZA QUE ACREDITARÁ. É uma técnica vil, mas até que a tua mulher fale com as amigas, ou “certos especialistas”, estás safo.
O TRUQUE DA PROSTITUTA
Esta disse-me um amigo e é dura. Consiste em fingir que uma noite acabaste, sem querer, com uma prostituta ou, se te parece excessivo, enrolaste-te com alguém. Se consegues manter a relação, dormirás umas belas noites no sofá de casa. Com o tempo as coisa acabarão por melhorar e terás de voltar para a cama.
Cada um é responsável pelas suas próprias desculpas e, na verdade, não existe um limite. Podem ser simples, ou asquerosamente elaboradas, mas de certeza que alguma vez recorreste a alguma delas, nem que seja um inocente “dói-me a cabeça”. Faz o que tiveres de fazer, mas por favor, quando notes o primeiro indício de que há alguém do outro lado a endrominar-te com desculpas esfarrapadas, não chores, pensa simplesmente que é um pobre diabo e tem um pouco de simpatia, por favor.
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