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Do Fap-fap-fap Para o Aaarrrghhh!

Agora, o bestiário de criaturas bizarras da vida de Monica acaba de aumentar. Aos 28 anos, a atriz (agora, sim, sem aspas nem complementos) acaba de entrar para os anais do cinema de horror brasileiro como protagonista de duas produções.

Monica Monteiro da Silva tinha dez anos quando viu Linda Blair rodopiar o pescoço e enfiar um crucifixo na boceta em O Exorcista. “Meu pai me mostrava filmes de terror quando eu era pequena”, conta. “Acho que ele queria que eu crescesse corajosa.” Deve ter dado certo. Dez anos depois, ela se tornaria Monica Mattos, a atriz mais famosa do pornô nacional, que em 2008 virou motivo de orgulho da nação punheteira por se tornar a única brasileira a levar um AVN, o Oscar da putaria filmada. Quem já viu seus filmes sabe que Monica Mattos não tem medo de nada. Homens, mulheres, anões, travestis, cavalos e até Alexandre Frota: ela encara todo tipo de criatura com o destemor de um Van Helsing.

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Agora, o bestiário de criaturas bizarras da vida de Monica acaba de aumentar. Aos 28 anos, a atriz (agora, sim, sem aspas nem complementos) acaba de entrar para os anais do cinema de horror brasileiro como protagonista de duas produções. Em Zombeach, curta-metragem de 18 minutos em fase de pós-produção, ela se transforma numa morta-viva louca para comer um amigo — e não do jeito que a gente se acostumou a ver Monica fazendo em outros filmes. O trailer está no ar, apresentado por José Mojica Marins, o bom e velho Zé do Caixão.

Ela também dá uma de rainha do grito em Driller Killer, horror de três minutos lançado este mês no YouTube, no papel de uma jovem perseguida por um assassino de furadeira na mão que busca abrir novos buracos em Monica Mattos (dá para ver o filme de cabo a rabo aqui).

“Não sei se é um novo rumo na minha carreira. Só sei que, por enquanto, estou me divertindo bastante com isso”, conta Monica. A novidade chega num momento em que o mercado pornô brasileiro é que vive seus dias de morto-vivo: a produção de filmes brochou e não há Viagra que consiga trazê-la de volta à vida. “Neste ano, eu filmei três cenas. Há uns dois anos atrás, eu fazia três cenas por mês”, conta Monica. Hoje, ela diz que vive basicamente de fazer shows de strip-tease. Os filmes são um extra.

A história de como a rainha do anal ganhou seus dias de scream queen começou no ano passado, com um recado deixado em uma madrugada no Orkut (um site de relacionamentos que existia até um tempo atrás, lembra?):

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“Estou fazendo um filme de terror e queria que você fosse a atriz”.

“Aceito. Adoro filmes de terror.”

A resposta de Monica fez Newton Uzeda, 29 anos, vibrar diante do computador. Ele não conhecia Monica e temia que a reação dela ao convite talvez não fosse das melhores. A bio afixada na entrada do perfil não era convidativa: “Só add quem conheço. Só add quem conheço. Só add quem conheço. Deu para entender?”. Escreveu com cuidado, driblando o espaço reduzido de caracteres. E tomou um susto quando viu a resposta chegar em menos de dez minutos.

Pronto, seu filme de estreia já tinha uma estrela.

Newton é um cara estranho. Não corta a barba há mais de um ano, por conta de uma resolução de Ano Novo, e divide sua casa com 13 cachorros que recolheu da rua. É dono de uma lan-house na zona sul de São Paulo, um negócio que já viu dias melhores, quando a molecada ensandecida tirava o seu sono berrando ao ritmo dos homicídios do Counter Strike. Mas os pobres começaram a comprar computadores (maldito governo Lula) e o negócio foi para o saco. Anda pensando em transformar a lan num bar com pimbolim, enquanto espera sua carreira de cineasta decolar. Formou-se em Cinema há cinco anos pela FMU, “para ter um diploma para pendurar na parede do banheiro”, mas nunca havia chegado perto de rodar um filme até fazer uma especialização em Argumento e Roteiro para Cinema e Televisão, na Faap, onde se deparou com mais pessoas estranhas.

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“Gente estranha sempre encontra outra gente estranha”, diz Newton, que, durante o curso, enturmou-se logo com um colega cearense, Mauro Ramos, 26 anos, que, como ele, adorava filmes com vísceras, berros, peitos e sustos.

Mauro também é um cara estranho. Quando criança, pensava em ser astronauta ou cineasta, mas acabou fazendo Engenharia Mecatrônica, tentando seguir as pegadas do pai, um engenheiro civil que ganha a vida construindo presídios. Após levar bomba em todas as matérias, abandonou o curso no primeiro semestre e fugiu para Florianópolis, terra da sua mãe, de onde saiu com um diploma em Cinema pela Unisul embaixo do braço. No final do curso, recebeu o elogio público de um professor gay por ter feito um curta que mostrava “o primeiro pênis na história da Unisul”.

Durante o curso de Argumento e Roteiro, Newton e Mauro se divertiam sonhando com filmes, como eles, estranhos. “A gente sempre fazia uns projetos bizarros que ninguém mais da sala gostava”, lembra Mauro. Juntou-se aos dois o publicitário e ator Rodrigo Freire, 27 anos — que não se acha um cara estranho, embora mantenha uma máscara do Jason pendurada no corredor da sua casa.

Um dia, depois da aula, Mauro veio com a novidade: “Comprei uma câmera” — uma Canon EOS Rebel T2i. Agora eles podiam fazer um filme. Muito bem. Além da câmara, o que mais tinham? Uma casa de praia em Bertioga, emprestada pela mãe de Newton, e a vontade de filmar uma história de zumbi. Rodrigo veio com o nome: “Zombeach”. Newton, Mauro e Rodrigo, então, sentaram-se diante do computador e, após oito horas de trabalho, uma pizza e um tanto de cerveja, estavam com o roteiro pronto nas mãos, com apenas dois personagens, uma casa de praia, tensão, medo e sangue apodrecido. Agora, precisavam de um casal de atores. Rodrigo se ofereceu para ser a vítima. Faltava achar uma atriz para a mocinha zumbi. Resolveram chamar alguém do pornô para seu projeto de terror, algo que costuma dar certo com os americanos: Marilyn Chambers, Traci Lords, Ron Jeremy, Jenna Jameson e Sasha Gray são alguns dos nomes do sexo explícito que trocaram os jatos de porra pelos jorros de catchup. “Resolvemos começar pelo topo, chamando logo a Monica Mattos. E, para minha surpresa, ela topou na hora”, comemora Newton.

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Zombeach foi dirigido por Newton, que precisou de quatro finais de semana de filmagens para contar a história de amor frustrada de um casal que se depara com problemas de incompatibilidade. Acontece que o rapaz está vivo e gosta do seu corpo com todas as partes intactas; já ela está se transformando numa zumbi faminta por carne humana. Meio conto clássica de zumbi antropófaga, meio história de transformação e enlouquecimento à la A Mosca, a trama tem a sacada de estender a metamorfose da personagem, que ganha tempo para se angustiar e questionar o que acontece com ela.

É a primeira vez que Monica aparece tanto tempo vestida diante das câmeras. “Mas nem tão vestida assim”, ela nos consola: quando vira zumbi, Monica aparece do jeito que os necrófilos pediram a Deus. Antes de Zombeach, Monica só havia aparecido em duas produções liberadas para menores: os videoclipes Mutante e Cinderela.

Monica achou bem diferente atuar sem ter de interagir com objetos que entram, saem e espirram. “Eu tive que me dedicar muito mais, em interpretação e expressão, para fazer esses filmes”, conta. Quer dizer que quando faz um pornô você não interpreta, Monica? “No pornô eu também interpreto, mas é muito mais fácil. O pornô é aquela coisa básica de sempre, não tem o que inventar.”

Newton ficou surpreso ao ver como atuação de Monica podia ir muito dos “vem”, “assim” e “não para” dos papeis que a consagraram. “Foi muito fácil dirigir a Monica. Ela sabia o que fazer”, conta. Quando o diretor pediu que ela se movimentasse no modo zumbi, Monica resolveu caminhar com um jeitão de macaco. Newton tomou um susto — e adorou. “Tinha tudo a ver, porque o zumbi é um retorno às origens das necessidades básicas do ser. Se um cachorro fosse mordido por um zumbi, ele agiria como um lobo”, filosofa.

Rodrigo também gostou de Monica. Tanto que a chamou para protagonizar o curta de terror de três minutos que ele queria dirigir, Driller Killer, uma homenagem aos filmes slasher, do tipo Sexta-Feira 13 e Halloween, com algumas pitadas de Massacre da Sérra Elétrica. Dessa vez, Monica é a vítima. Ela diz que adorou as duas experiências, mas divertiu-se mais vivendo uma morta-viva. “Prefiro ser a agressora. Não gostei muito de morrer”, diz.  Cuidado com ela. POR FAUSTO SALVADORI FILHO IMAGENS: DIVULGAÇÃO