Eis uma teoria engraçada: a desigualdade econômica é igual à Física. Assim como a biologia, a geofísica, a tecnologia e a organização social. Toda a droga do universo. Mesmo. Tudo pode ser reduzido às propriedades de fluxo. Ou à tendência de um sistema de fluxo em escoar com mais facilidade. A economia é um rio, só que com dinheiro em vez da água. Entendeu?
Acho que não, mas continue acompanhando.
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Essa ideia foi desenvolvida por uma dupla de engenheiros da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Duke, nos EUA. Eles explicam detalhadamente em um artigo publicado essa semana no Journal of Applied Physics. É meio besta.
A ideia gira em torno da teoria conhecida como teoria construtal. Ela foi formulada pela primeira vez em 1996 da seguinte forma: “Para que um sistema de tamanho finito persista no tempo (sobreviva), ele deve se desenvolver de tal forma que facilite o acesso às correntes o atravessam”.
É uma teoria vaga e controversa. Em geral, ela imagina que todos os sistemas tenham algum tipo de fluxo interno, pois todos tendem a se desenvolver no tempo e em uma direção. A natureza, como tudo o que existe, busca facilitar seu fluxo por meio da evolução e da “geração de projetos”. Por exemplo, os afluentes de um rio convergem de forma a melhorar o fluxo. Os relâmpagos se fundem para que a corrente elétrica se movimente melhor entre as nuvens e o planeta. A teoria supostamente explica a onipresença de estruturas ramificadas na natureza.
A teoria construtal foi elaborada pelo professor Adrian Bejan, da Duke, que também assina o artigo.
“‘A desigualdade’ é a observação mais antiga e divisora dos humanos como membros da sociedade”, o artigo declara. “Não existe assunto mais premente hoje, por isso que o passo teórico avançado de nosso artigo diz respeito ao tempo. O artigo lança mão da Física para prever a ocorrência natural do movimento hierárquico e da riqueza no planeta.”
O que move o sistema econômico global é a riqueza, e o projeto emerge para facilitar esse movimento. A riqueza flui conjuntamente porque é o melhor jeito de fazê-la avançar, e de melhorar seu fluxo. “A distribuição não uniforme da riqueza começa a ficar mais acentuada conforme a economia se desenvolve mais”, Bejan escreveu. “É como se a arquitetura de seu fluxo se tornasse mais complexa com o propósito de cobrir buracos cada vez menores em todo o território (fixo).”
E fica por isso. O artigo é provavelmente o mais relaxado que já li em um periódico de Física. Também tem um tom muito convencido, batendo na mesma tecla de uma grande e nova unificação da economia e da física. Não é uma boa perspectiva, para ser franco.
Então quer dizer que a desigualdade econômica no mundo é só uma questão da física? Espero que não. Isso relega a desigualdade a um aspecto meramente “inerente”. Como a natureza. Os conservadores adoram os argumentos “da natureza” a respeito do dinheiro: darwinismo social, meritocracia e toda essa merda. Vamos torcer para que o Paul Ryan não se aproprie dessa.
Tradução: Amanda Guizzo Zampieri
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