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O Kanye não virou reaça, ele só está sendo o Kanye

Kanye West está de volta ao Twitter, e está fazendo o que Kanye faz melhor – emputecer a galera. Ele voltou para a rede social porque, aparentemente, está “escrevendo [um livro] em tempo real”. (Eu também.) Junto com petiscos de sua sabedoria interessante e volátil – “a verdade é meu objetivo. Polêmica é minha academia. Faço centenas de repetições de polêmica para ter um tanquinho de pura verdade” – temos tuítes controversos que estão fazendo sua base de fãs desconstruidona perder a cabeça.

Ele tuitou que apoia Candance Owens, uma conservadora negra diretora de comunicação do TPUSA, uma organização universitária dos EUA conhecida por golpes publicitários como ter um membro vestindo uma fralda para protestar contra espaços seguros. Ele também postou vários vídeos de Scott Adams, o criador das tirinhas do Dilbert e, mais recentemente, uma presença tóxica da alt right na internet. Tudo isso fez West ser elogiado por Alex Jones, que uma vez o chamou de “o microcosmo da degeneração da América”. Agora ele tá aparentemente pagando uma madeira (ou não) pro Trump.

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Para seus críticos na esquerda, a mensagem de West é clara:

Oi polícia do pensamento. Vocês mexeram com o pensador errado.”

Para melhor entender o “livro” que West está escrevendo atualmente no Twitter, reli seu livro real de 2009, Thank You and You’re Welcome. Coescrito com J. Sakiya Sandifer, o panfleto espiritual é uma coleção de “kanyeismos” e conselhos de vida. Cheio de banalidades de autoajuda – “Você pode aprender mais com uma crítica do que com um elogio!” e “Nunca reclame sem oferecer uma solução” – o livro é um lembrete que temos que considerar os tuítes de West com um pé atrás.

Em vez de confinar West aos nossos próprios pontos de vista partidários e políticos, temos que vê-lo como um artista meticuloso que tem uma visão de mundo em constante evolução – e compartilhar essa visão de mundo sempre que der na telha é uma parte crucial de sua prática artística. Como diz o velho ditado, deixe o Kanye ser o Kanye.

Embora as críticas aos últimos endossos problemáticos de West sejam justificadas, a ideia de que West de algum jeito está no processo de “tomar a pílula vermelha” e ser cooptado pela alt-right é um tanto boba. West construiu sua carreira sobre ser um provocador. Sua música, estética, colaboradores e investimentos são um fluxo constante. Esse é um cara que entrou no jogo como produtor de hip hop, e agora faz videogames e tem uma marca de roupas. Ele é um artista brilhante e intencionalmente problemático, que diz o que quer e não dá a mínima para o que você pensa. Ele não tem medo de meter as caras, e por isso ele comete erros e faz mágica constantemente. Ele também adora detratores (aka haters), ele prospera com a atenção deles. Em Thank You and You’re Welcome, ele escreve: “Prefiro ser odiado por quem sou do que amado por quem não sou”. Mais adiante no livro, ele opina: “Ame seus haters, eles são seus maiores fãs”. Se você fica putinho com um dos tuítes dele, você é um dos haters.

Kanye West também é um enfant terrible. Ele é o cara que roubou o prêmio da Taylor Swift no VMA, o cara que teve a coragem de dizer “George Bush não se importa com os negros” ao vivo na televisão, e o homem que casou com Kim Kardashian e a ajudou a se tornar um ícone de estilo. Ele está em seu próprio plano de realidade, fazendo o Kanye, e isso significa crescer sobre a comoção que ele cria.

Então faz um certo sentido que a filosofia pessoal de West atraia os conservadores. Ele é um multimilionário self-made que adota uma ideologia capitalista norte-americana muito distinta. Se você quer atingir seus objetivos, “pense, diga, faça”, ele instrui em Thank You and You’re Welcome. Em outro ponto do livro, ele fala sobre seus fracassos nos primórdios da carreira. “Em vez de deixar minha raiva me empurrar para algo negativo, me foquei no lado positivo. Dei duro e trabalhei através da dor”. Em outras palavras, ele se puxou pelos cabelos para alcançar o Sonho Americano do jeito como os republicanos sempre sugeriram. Claro, Ye também é o cara que culpou Ronald Reagan por injetar crack em comunidades negras para destruiu o movimento Black Power. No final das contas, tanto conservadores quanto liberais podem encontrar muito para elogiar e criticar quando se trata de Kanye, porque Kanye é complicado. Ele não pode ser facilmente rotulado. E toda vez que você acha que sabe para onde ele está indo, ele vai na direção oposta só pra te irritar.

Numa página do livro dele intitulada “Abrace suas falhas!”, o rapper explica como sua família sempre disse “Você não precisa de aparelho”, mas os garotos na escola o provocavam dizendo “Seus dentes são tão grandes e brancos que parecem de cavalo!”. Ele continua:

Então coloquei aparelho e tive que tirar oito dentes… Quando consertei meus dentes, todo mundo (incluindo algumas pessoas que diziam que eu não precisava fazer isso) disseram ‘Seus dentes ficaram muito melhores!’ Então agora, quando vejo alguém com os dentes zoados, quero ser a pessoa que diz a verdade como aqueles garotos me disseram… Não acredito em aceitar uma condição que pode ser mudada.”

Isso é interessante porque, do jeito típico do Kanye, a história vai descaradamente contra o refrão de que você deve se aceitar como é, através de uma anedota mundana sobre colocar aparelho quando criança. Não é algo particularmente profundo, mas é um vislumbre de como funciona a mente selvagem de West. Ele não vai para onde você quer que ele vá.

As últimas duas páginas do livro dizem “Questiono todo mundo que me questiona… mas me questiono o tempo todo!”. Com sorte isso indica que West vai continuar questionando os pensamentos passageiros que ele compartilha no Twitter.

O diretor de comunicações da Casa Branca de carreira curta Anthony Scaramucci uma vez disse para não considerar Trump literalmente, mas “simbolicamente”. Sim, é um conselho péssimo sobre como interpretar as palavras do presidente dos EUA, mas é um bom jeito de entender o feed de West no Twitter. Não interprete cada declaração dele como uma marca permanente no livro final de Kanye West, porque ele está escrevendo o livro a cada dia. Confie que ele está sempre se questionando, e sinta-se livre para fazer o mesmo.

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