O debate do SBT legalizou a tiração de onda presidenciável
Foto: Reprodução/SBT

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Politică

O debate do SBT legalizou a tiração de onda presidenciável

A descida de Daciolo do monte garantiu Bíblia batendo na bancada e muita glória a Deus.

Desde 2016, o Brasil se prepara ansiosamente para as eleições mais tensas desde a redemocratização: 2018 sempre foi um horizonte pesado, que fez muitos aturarem os longos “anos Temer” na esperança de poder voltar às urnas e votar. Da prisão de Lula à facada em Bolsonaro, tudo só tem ficado mais tenso — pior ainda nos últimos dias, com ameaças, ataques e mesmo hackings contra quem tem se posicionado contra o ex-capitão e líder nas pesquisas.

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Mas, para não dizer que não havia flores, veio o debate realizado pelo SBT na tarde desta quarta-feira (26). O que tinha de tudo para ser um evento morno, como havia acontecido em outros momentos, ganhou ares de galhofa e galhardia, desanuviando um pouco os corações cada vez mais taciturnos da nação. E o dono dessa alegria tem patente e sobrenome: Cabo Daciolo (Patriotas).

Eleito deputado federal pelo PSOL em 2014, Daciolo tornou-se rapidamente um personagem conhecido da internet, graças a seus vídeos pregando a palavra do Javé cristão e atacando a maçonaria representada pelas Estátuas da Liberdade que adornam as entradas das lojas da rede Havan.

Depois de perder dos debates por ficar “jejuando no monte”, o candidato apareceu, sem nenhum sinal significativo de perda de massa corporal, para bagunçar o barraco. Logo na primeira pergunta, para o recém-recuperado Ciro Gomes (PDT), Daciolo já saiu batendo a Bíblia na mesa e lembrou do “a democracia é uma delícia” com o qual Ciro o havia saudado no primeiro debate do pleito, quando perguntara o pedetista a respeito do “Plano Ursal”.

Entre uma e outra tirada de Daciolo, o trio geriátrico do debate — Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB) — se esforçava para não se perder nas suas falas. Alckmin não conseguia lembrar o nome da estação Morumbi, do metrô linha amarela, atrasada há duas Copas do Mundo, por exemplo. O discurso dos três chegou tão soporífero que botava qualquer ASMR no chinelo. Para não ser injusto, preciso lembrar que Dias arrancou os últimos risos da plateia no final do papo, ao declarar que iria ao Itaquerão logo mais para assistir o jogo de Corinthians e Flamengo.

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Quem mais apanhou com a ausência de Bolsonaro foi, logicamente, Fernando Haddad (PT). Os candidatos à direita não pouparam o PT, que ainda tomou alfinetadas de Ciro e de Marina Silva (Rede) — Haddad foi forçado a lembrar que Marina apoiou o impeachment de Dilma Rousseff, e, como consequência, teria colocado Temer no poder. Marina, por sua vez, quando questionada pelo jornalista Fernando Canzian, da Folha de S. Paulo, afirmou que ficaria neutra em um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro.



Apesar dos ataques ao PT, não quer dizer que faltaram indiretas para Bolsonaro, especialmente com apelos ao voto feminino. Mais incisiva do que em outros debates, Marina se colocou como a representante óbvia das mulheres no pleito, enquanto Álvaro Dias tentou vender, com voz pastosa, sua proposta de oferecer um “vale creche” às mães brasileiras.

O tema “mulher” protagonizou também o momento final do debate, talvez o auge de Daciolo. Perguntado por Guilherme Boulos (PSOL), sobre as opiniões de Bolsonaro, que defenderia que “as mulheres ganhem menos que os homens”, o bombeiro-deputado afirmou que na sua casa “as mulheres são prioridade” e, abrindo a verve de xavequeiro, avisou que ama a própria mãe, a “varoa” (esposa) e todas as mulheres brasileiras. Após Boulos lembrar que estávamos todos com saudades de Daciolo no debate e convocar a audiência para o ato #EleNão, que ocorre no sábado (29) em inúmeras cidades brasileiras, o cabo fechou a conversa reclamando de uma suposta “fraude nas urnas eletrônicas”. Definitivamente Daciolo é como um Aiatolá Khomeini brasileiro, em busca da sua própria teocracia socialista à brasileira. Glória a Deus.

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